O vídeo de 5 minutos que militantes do MPLA divulgaram na internet (também partilhado pelo professor Patrício Batsîkama), de um jovem a apelar por rebelião – Dando a entender que é familiar de Lukamba Gato - trás um dado interessante. Nos 4min4sec, a pessoa do áudio fala em “partido UNITA” para dar entender que pertence a UNITA. Quem é da UNITA, não se refere ao seu partido como “o partido UNITA”, como também quem é do MPLA, dificilmente se refere “o partido MPLA”, nestas situações. Tendo em conta que sempre que há eleições o regime cria um quadro para dar entender que haverá tensão no país, ou que haverá “guerra, vandalismo, e arruaças”, o referido vídeo deve ter sido feito para sustentar a este falso clima de tensão.
A pessoa do áudio aparenta estar na casa dos 25 – 30 anos de idade, e faz alusão de que irão repetir a “sexta-feira sangrenta”, que aconteceu em janeiro de 1993. Ou o jovem não sabe o que foi a “sexta-feira sangrenta” ou foi treinado a usar esta expressão para embelezar a encenação.
A “sexta-feira sangrenta” foi um acto de repressão em que foram as próprias forças do governo a assassinar centenas de cidadãos de etnia bakongo, a pretexto de que teriam votado na UNITA, nas eleições de 1992. Se o propósito é imitar a “sexta-feira sangrenta”, isto quer dizer que o autor do áudio está a propagar que ele próprio e as forças do governo irão repetir aquele episódio de 1993. Matar cidadãos bakongos.
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O Padre Jacinto Wakussanga “Pio”, que na altura era estudante do terceiro ano de Teologia, no Seminário do Sagrado Coração de Jesus, em Luanda, quando ocorreu “Sexta Feira Sangrenta”, escreveu um artigo a lembrar este triste episodio.
“Vivíamos ainda frescas as feridas da perseguição pós-eleitoral quando ocorre esta inusitada tragédia. De manhã, sirenes da polícia acompanhadas de turbas agitadas faziam prever algo sinistro. Só ao final do dia começaram a chegar vagos rumores de uma eventual rusga contra os chamados zairenses, pois estes tinham planejado alguma coisa contra o Estado angolano e o seu Presidente.”
“Sábado, 24 de Janeiro, a vaga de perseguições continuou. Uma vez que era dia de pastoral, muitos seminaristas ao saírem foram confrontados com a tragédia. Alguns colegas originários do Uíge quase sofriam choque emocional: deram umas voltas pelas suas famílias e confrontaram-se com a lúgubre realidade: óbitos de adultos e adultas mortos em suas casas, ruas e praças, mulheres violadas, residências saqueadas, etc. Um dos nossos colegas regressou transtornado: enquanto o irmão mais velho andava em campanhas militares lá pelo Uíge, a sua cunhada foi surpreendida em casa pelos militares das FAA e violada sem se poder defender. Uma das provas era pronunciar a palavra rapaz, arroz, etc. Quem errasse podia enfrentar a morte ou sofrer o impacto da perseguição denominada “Sexta-feira Sangrenta”!”, - fim de citação.
Se o objetivo dos áudios espalhados pelos militantes do MPLA, é amedrontar que irão repetir a “Sexta-feira Sangrenta”, e que as FAA vão voltar a violar mulheres como em 1993, devem ser lembrados que em Angola não existe mais pena de morte. As eleições devem ser encaradas como a festa da democracia e não para festa de ameaças de mortes contra os bakongos.
JOSÉ GAMA
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