José Eduardo dos Santos, mesmo depois de morto, tem ainda uma outra missão para cumprir, e volta a ser em nome da paz.
A jornalista da RTP, Cândida Pinto, falou no assunto no seu directo a partir de Luanda, e estou completamente de acordo com a sua análise. O corpo de José Eduardo dos Santos em território angolano nesta altura pode ter um efeito apaziguador e que pode ser determinante para o período pós-eleitoral.
Adalberto Costa Júnior e com ele os experimentados Abel Chivukuvuku, Filomeno Vieira Lopes e Justino Pinto de Andrade não vão arriscar atitudes que façam deles pessoas menos sensíveis, saberão gerir politicamente este momento emotivo que não diz respeito só ao MPLA mas a todos os angolanos, eles incluídos. Aliás, num comício, João Lourenço acusou Adalberto e a UNITA de não terem ido homenagem o homem a quem devem a liberdade e até um pouco mais, a vida, dado que Dos Santos foi magnânimo, após 2002 fez um exército único e deu espaço à UNITA para chegar a 2022 e estar a disputar as eleições no mesmo patamar do actual líder do MPLA. Logo, Adalberto vai ter de segurar os mais jovens e alguns ânimos mais explosivos entre os militantes e apoiantes da UNITA, profundamente zangados com o regime, que tenderão a reagir muito mal a um qualquer resultado menos favorável. Haverá contestação, sim, mas, acreditamos, será mais controlada.
No entanto, não se pode dizer que para o MPLA a chegada de José Eduardo dos Santos a Luanda seja absolutamente positiva, pode até ter efeitos razoavelmente perversos na campanha eleitoral, porque desvia a atenção de João Lourenço para José Eduardo dos Santos - o que não deixa de ser irónico.
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Hoje, quando João Lourenço fez o último acto de massas na Camama - em que não se referiu ao antigo presidente, e não podia, porque colocou a sua governação em contraponto com a do seu antecessor - o dia foi dominado pelo regresso ao país do antigo presidente, o impacto do comício praticamente foi anulado.
As televisões portuguesas, por exemplo, deram em directo a chegada da urna que transportava o corpo de José Eduardo dos Santos ao aeroporto 4 de Fevereiro com as imagens da TPA – outra ironia, porque aquilo que podia ter sido uma cobertura jornalística normal, foi também o emendar de um erro de quando um responsável pela estação pública desvalorizou a figura do antigo presidente, na altura ainda vivo.
Depois, e agora de corpo presente, sua excelência vai ter no velório, a receber condolências, só uma parte da família, com Ana Paula dos Santos no lugar de destaque numa casa que nunca foi sua, isto é, por maior que seja a encenação formal do velório e das homenagens subsequentes, não será suficiente para que as pessoas se esquecem do que esteve mal na relação do actual Presidente da República com o seu antecessor. Basta dar uma volta pelas redes sociais para se ter essa percepção, de uma vaga sensação de mal-estar generalizado - e não é só o testemunho de Maria Luísa Abrantes que o evidencia, há muitos mais.
O Estado angolano venceu a batalha contra a parte da família mais ou menos distraída que se opunha à vinda do corpo para Luanda – convenhamos que apesar da inabilidade e deselegância de Rui Falcão, ele vocalizou o que muitos pensam, e, provavelmente, Tchizé não levou suficientemente a sério o facto do no outro lado estar o Estado angolano, de recursos quase infinitos e diplomacia activa, a travar com ela uma batalha, por isso, desigual.
E entre os vencedores desta disputa pelo corpo de José Eduardo dos Santos está, naturalmente, o ministro de Estado Francisco Furtado e o procurador-geral da República Hélder Pitta Gróz - mais discreto mas porventura mais eficaz.
Aparentemente, temos Isabel dos Santos derrotada e humilhada, mais uma vez, naquilo que é também o seu estatuto de primogénita e cuidadora do pai. Ainda assim reagiu com contenção e bom gosto e o que disse decerto tocou muitos corações. A imagem com o pai que a acompanha ao altar com o lamento de que ela não o pode agora acompanhar à última morada é muito forte. Tocante. E se Isabel tem ambições políticas, como acreditamos que tem, as imagens deste e de outros dias poderão vir a ser muito úteis – é que ‘Bela’ não é só a Malaquias.
Tchizé, apesar de derrotada, ganhou um milhão de seguidores no Instagram e uma notoriedade como raramente teve. Quanto aos outros filhos mais velhos – Zenu estará presente, naturalmente - não haverá nada que os impeça de vir a Luanda ao funeral do pai.
Arrumada a questão familiar. Voltamos à política. O regresso do corpo do falecido José Eduardo dos Santos a Luanda não podia ser mais oportuno. O arquitecto da paz continua a fazer sua obra.
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