O que fazer com o “Verdadeiro Poder”?
Se eu fosse o Presidente da República — na verdade, ninguém pode garantir que eu não venha a ser — e ocupando o mais alto cargo político da nação nunca cairia nas tentações perversas inerentes ao poder absoluto que este encerra entre nós.
Ocupando o ambicioso cargo no quadro constitucional actual nunca aceitaria o protocolo da submissão das instituições estaduais ao partido no poder. Não para manter o statu quo de Parkinson na administração pública nem me submeteria à regra da autenticação pelo discurso da verdade, tão aplaudido pelos que acham que a sua verdade é diariamente autentificada pelas evidências.
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Se eu fosse o Presidente da República — para usar uma fórmula especulativa que pode referir-se ou não a um estado de facto — também amaldiçoaria o dia em que, por palavras ou actos, me deixasse sujeitar pelo discurso odioso dos que descobriram que a realização de eleições é uma marca de distinção — de modernidade, de progresso, de democracia — um capital cultural ou civizilacional para ser exibido internacionalmente, sobretudo quando lhes é oferecido o exemplo do presidente eleito “democraticamente” nos padrões ocidentais — o antípodas do ditador africano que se eterniza no poder e não corresponde a cartilha do mundo livre. Seria mais do que um simples e simbólico estadista africano civilizado que aceita o liberalismo e a homonormalidade. Iria mais longe e abraçaria o panafricanismo nas suas variadíssimas dimensões.
Se eu fosse o Presidente da República — e, dizendo isto, não estarei já a manifestar antecipadamente a minha intenção de candidatar-me em futuras eleições? — o que não riria das reacções dos detratores que iriam, seguramente, se esmeram em críticas precipitadas quando uma eventual pretensão vier a ser manifestada.
Se eu fosse o Presidente da República com os poderes absolutos do actual — sem prejuízo das normas pétreas da constituição, alterava-a no seu formalismo e conteúdo, despia o Presidente da República dos seus excessivos poderes, transferindo, deste modo, para as outras instituições do Estado e para o povo.
Assim, a dignidade do povo angolano não seria medida, sobretudo, pela reputação e pelos actos dos seus Presidentes da Republica (actual e antigos), mas seria aferida, como é normal em qualquer Estado moderno, pelo conjunto e pela multiplicidade dos actos de todas as forças vivas.
Se eu fosse Presidente da República — sem prejuízo dos feitos dignos de realce dos meus antecessores — que os enalteceria, não os acompanhava no culto da personalidade, que cultivam com relativo sucesso, não desenvolveria antipatia com o meu antecessor, nem deixaria que me transformassem em um cromo do ideal do Kitsch, antes, ocupar-me-ia com vigor e elevação com as minhas próprias realizações na senda de um verdadeiro self made man.
Se eu fosse o Presidente da República — com o poder real que actual constituição confere, democratizaria o poder do estado e tornaria a figura do Presidente da República numa simbiose entre “ Primus inter pares”e uma típica autoridade tradicional — no que toca a moralidade e ao simbolismo .
Dava palco aos outros actores públicos e privados, fortalecendo assim as instituições.
Se eu fosse o Presidente da República os meios de comunicação social pública deixaram de ser o canal transmissor do “Big Brother governamental” e passariam a ser verdadeiros órgãos de informação.
Se eu fosse o Presidente da República, a REPÚBLICA faria jus ao significado etimológico da palavra: Res “ - coisa, “púbica” — povo, ou seja, “coisa do povo”, seríamos, portanto, um país de todos.
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