O luto nacional de longos e dolorosos 45 dias com que o governo da época castigou o nosso povo em 1979, pela morte, a 11 de Setembro, em Moscovo, capital da antiga União Soviética, do primeiro presidente angolano, António Agostinho Neto, estará afinal muito longe de ser o recorde mundial da especialidade, ao contrário do que terei sabulado, na noite de sexta-feira, numa publicação a propósito da duração de dados recolhimentos oficiais. Eu disse que era o máximo mundial absoluto, duvidando que ele pudesse vir a ser batido alguma vez. No entanto, alguém, ao que parece documentado, garantiu que eu estava redondamente enganado, que já houve lutos nacionais com muito mais tempo (lá chegaremos).
O luto de mês e meio pela morte do fundador da nação foi efectivamente um grande castigo para os cidadãos, esfrega que ninguém que a viveu gostaria certamente de repetir alguma vez. Além do sentimento de insegurança provocado pela guerra, em meio duma grave penúria alimentar, havia a proibição dos espectáculos, festas e outras diversões, mais o recolher obrigatório, sendo que, para escangalhar tudo, a malta do mano-mais-velho resolvera bater aí onde doía mais, mandando umas «vacas» treinadas a lidar com explosivos rebentar uns quantos postes da linha de transportação da energia eléctrica de Cambambe, que deixou Luanda e as outras cidades que dela dependiam sem luz cerca de quarenta dias. Era o puro inferno de Dante, no ponto mais alto da sua dramaticidade.
Pois, um tal de Sebas Tião Boa Kimbangala Matondo II, suponho que um desses «anónimos» do facebook, surgiu a prestar um bom serviço público, tratando de clarificar que o luto de Neto estava muito longe de ser o recorde mundial absoluto, uma vez que até fala de um caso que chegou aos dois anos de recolhimento, que aconteceu em Portugal, onde, aliás, decorreram todos os exemplos que traz.
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De resto, não sei aonde é que o gajo foi cabular o mambo, uma vez que nada encontrei de jeito na internet a propósito, quando lá fui vasculhar sob a proposta «lutos nacionais mais prolongados da história mundial», estando mbora a surgir conversas que nada têm a ver com o assunto, como a guerra anti-colonial em Angola e coisas assim.
Fiquemos então com a cábula do camarada Matondo:
1666-1668 - falecimento da rainha D. Luísa de Gusmão - 2 anos de luto nacional, de 28 de fevereiro de 1666 a 28 de fevereiro de 1668 (o segundo dos quais em luto não carregado)
1690-1691 - falecimento de D. Isabel Luísa, Princesa da Beira - 1 ano de luto nacional, de 22 de outubro de 1690 a 22 de outubro de 1691 (1.º semestre em luto carregado, 2.º semestre em luto não carregado)
1816-1817 - falecimento da rainha D. Maria I - 1 ano de luto nacional, de 14 de julho de 1816 a 14 de julho de 1817 (1.º semestre em luto carregado, 2.º semestre em luto não carregado)
1853-1854 - falecimento da rainha D. Maria II - 6 meses de luto nacional, de 15 de novembro de 1853 a 15 de maio de 1854 (3 meses em luto carregado, 3 meses em luto não carregado)
1889-1890 - falecimento do rei D. Luís - 3 meses de luto nacional, de 19 de outubro de 1889 a 19 de janeiro de 1890 (metade em luto carregado, metade em luto não carregado)
1908 - assassínio do rei D. Carlos e de D. Luís Filipe, Príncipe Real de Portugal - 4 meses de luto nacional, de 1 de fevereiro a 1 de junho de 1908 (2 meses em luto carregado, 2 meses em luto não carregado).
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