A morte no estrangeiro de presidentes do MPLA



Mário Pinto de Andrade, primeiro presidente do MPLA, morreu no exílio em Londres, a 26 de Agosto de 1990, tendo assistido (por um binóculo) à celebração da Independência do país pelo qual se bateu. O pecado político de Mário de Andrade foi o seu pendor contestatário da direcção do movimento, sob uma facção apelidada de Revolta Activa. 

Embora os dirigentes do MPLA se tivessem mostrado indiferentes, após a independência, com a sua trajectória nacionalista, a para efeitos de coabitação territorial no mesmo país que todos ajudaram a libertar, Mário de Andrade beneficiou do reconhecimento do primeiro presidente da Guiné Bissau, Vasco Cabral, que o cooptou para o cargo de Ministro da Cultura daquele país. E só voltaria “à Angola libertada, Angola independente”, dentro de um caixão.

Agostinho Neto faleceu a 17 de Setembro de 1979, em Moscovo. Por motivo de doença grave. Só que, neste caso, tratou-se de uma deslocação por vontade própria, pois escolheu a capital da então União Soviética, que tinha uma grande influência sobre o movimento independentista das então colónias. O caso da morte de Agostinho Neto longe de Angola deve-se a um problema crucial que a independência agudizou: a qualidade da saúde pública que, no tempo colonial já registara um certo avanço, pois que os colonos se tratavam aqui mesmo em Angola. 




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Daniel Chipenda não foi líder supremo do MPLA. Era apenas vice-presidente e queria o cargo máximo de forma legítima no Congresso de Lusaka de 1974, congresso esse que não foi conclusivo. Também morreu no exílio, em Cascais, Portugal, em 28 de Fevereiro de 1996. O pecado de Chipenda, tal como o de Mário de Andrade, foi criar a Revolta de Leste, uma facção do MPLA. Da sua trajectória vale recordar que, nas primeiras eleições realizadas em Angola, regressou ao país para reunificar a grande família e foi até chefe da campanha eleitoral do Éme, sol de pouca dura dentro das hostes do partido no poder. 


O segundo presidente do país, José Eduardo dos Santos, está em coma. E no exílio. O desfecho deste coma só uma intervenção divina resolverá, pois a ciência médica já deu tudo o que tinha a dar. Espera-se, portanto, o mesmo destino final dos seus antecessores: morrer no exílio.

Se fôssemos supersticiosos, poderíamos embarcar na tese de que existe uma lei de talião no mundo espiritual, como compensação cármica pela desdita do primeiro presidente do MPLA.

Mas nós, que somos racionalistas, embora, como africanos, não descuremos certas nuances dos Ilundu, acreditamos mazé que o facto de entregar a alma ao Criador longe da terra que os viu nascer é um dano colateral aos maiores danos palpáveis: 1) viver num país onde quem é da classe baixa morre por dá cá aquela palha (diga-se um paludismo ou febre tifóide) e 2) a fragmentação ideológica no interior do próprio partido, eivada do espírito de vingança. É que há ainda nacionalistas de gema da Revolta Activa e de outras dissidências (lembram-se de Manuel dos Santos Lima?) a viver longe desta “bela pátria angolana” que, ao que tudo indica, só é bela para uns quantos.


Nesta senda de mortes no exílio, umas por exclusão de partes dirigentes, outras em função da má qualidade do atendimento hospitalar em Angola, não estaremos longe de vaticinar que esta tendência se poderá verificar depois de José Eduardo dos Santos. Aliás, este vaticínio não tem nada de superstição, visto como de Angola tem saído muita gente grande em estado terminal ou quase, com o dinheiro da Sonangol, (que dava para construir dois mil postos de saúde pequenos nos bairros periféricos, aldeias e comunas do país) para ir morrer no exílio e regressar para a terra-mãe dentro de um féretro. 


Correio Angolense 




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