Carolina Cerqueira, uma falsa partida?



Muito pouco dada a prognósticos, há poucos dias a imprensa pública aventurou-se e deu como certo que Carolina Cerqueira é a candidata do MPLA à presidência da Assembleia Nacional.



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Terceira na lista de candidatos a deputados, a ministra de Estado para a Esfera Social foi unanimemente apresentada como a aposta do MPLA para a substituição de Fernando da Piedade dos Santos “Nandó”.

Na sua edição electrónica do dia 23 de Maio, o Jornal de Angola assegurou que a aposta em Carolina Cerqueira para o terceiro cargo na hierarquia do Estado teria sido decidida na reunião do Comité Central do MPLA, realizada naquele mesmo dia. 

Tal como os outros órgãos de informação públicos, também o Jornal de Angola complementou a informação sobre a presumível indicação de Carolina Cerqueira com um nutrido perfil biográfico da candidata, em que é destacado o facto de ter ingressado no MPLA  em 1975, quando tinha 19 anos.

Para a imprensa oficial, a aposta em Carolina Cerqueira para a presidir a Assembleia Nacional corresponderia ao compromisso do Presidente João Lourenço, assumido em 2019, de promover a paridade do género nos aparelhos do Estado e partidário.

Mas, em Mbanza Kongo, onde falou a militantes do MPLA no sábado passado, João Lourenço em nenhum momento aludiu à indicação de uma mulher para presidir a Assembleia Nacional.

O Presidente do MPLA disse, em repetidos momentos, que a indicação da bióloga Esperança Costa para candidata à Vice-Presidente da República ilustra o seu compromisso com a paridade do género. A vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, também foi chamada à liça como outra prova da importância que João Lourenço atribui à emancipação da mulher angolana. 

Porém, em ocasião alguma o Presidente do MPLA se referiu à Carolina Cerqueira como candidata do MPLA à presidência da Assembleia Nacional.

O silêncio de João Lourenço em relação ao candidato do MPLA à presidência do Parlamento sugere que ou a imprensa pública deu um “falso alarme”, o que não seria de todo surpreendente, dada a sua “falta de rotina”, ou o MPLA ainda não fechou o assunto.

Nos últimos dias circularam informações aludindo a um mal estar que teria sido gerado pela ordem de precedência na lista de candidatos a deputados pelo MPLA.

Encabeçada por João Lourenço, candidato a Presidente da República, o terceiro lugar da lista é ocupado por Carolina Cerqueira.

Reunido no dia 2 de  Junho, o Comité Central do partido “mandatou” o seu  Bureau Político “para que, através do seu Secretariado, assegure, se necessário, e no quadro do processo de validação da candidatura pelo Tribunal Constitucional todos os ajustamentos e correcções que conduzam à aprovação final da Lista de Candidatos à Deputados do MPLA às Eleições Gerais, junto do Tribunal Constitucional”.

Os “ajustamentos e correcções” referidos podem corresponder à alteração da ordem de precedência. 

“Na lista de candidatos tornada pública apenas o Presidente João Lourenço e a candidata a Vice-Presidente são inamovíveis. Todos os outros candidatos podem ser remanejados”, segundo garantiu ao Correio Angolense fonte conhecedora do assunto.

Segundo essas fontes, até ao 10 º lugar,  a ordem de precedência na lista de candidatos tornada pública teria reflectido, apenas, “a vontade do líder do partido. E isso gerou muito desconforto. É por isso que a reunião do Comité Central abriu a possibilidade a ajustamentos e correcções da lista. E esse exercício pode alterar a ordem do terceiro até ao último lugar”.

No silêncio de João Lourenço relativamente ao candidato do MPLA ao terceiro posto na hierarquia do Estado parece implícita a ideia de que ele admite alterações.

“Se, como disse a imprensa pública, a camarada Carolina Cerqueira já estivesse mesmo garantida como candidata a presidente da Assembleia Nacional, seguramente o Presidente João Lourenço não deixaria de reclamar mais essa aposta no género feminino. Não deixaria, não. Mesmo porque, como ouvimos, ele falou como se já tivesse sido reeleito”.

Desde que assumiu a liderança do MPLA, em 2019, João Lourenço tem concretizado o seu compromisso de promover a paridade do género fazendo eleger Luísa Damião para a vice-presidência do partido. É a primeira vez que uma mulher ocupa o segundo posto na hierarquia do partido. Em Dezembro de 2021, João Lourenço aumentou para “estratosféricos” 693 o número de membros do Comité Central. Mais de metade são mulheres. A huilana Daniela Tatiana da Silva Geraldo chegou ao Comité Central do MPLA aos 18 anos, o que faz dela a membro mais nova dessa estrutura de direcção do partido. 

No aparelho do Estado, mulheres dirigem os Tribunais Constitucional (Laurinda Cardoso) e de Contas (Ezalgina Gamboa). No Executivo, os mais  incandescentes rostos femininos são Carolina Cerqueira (ministra de Estado para a Área Social), Vera Daves (ministra das Finanças), Sílvia Lutucuta (ministra da Saúde), Teresa Rodrigues Dias (Ministra da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social), Maria do Rosário Sequeira Bragança Sambo (Ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação), Luísa Maria Grilo (Ministra da Educação), Faustina Almeida Alves (Ministra da Acção Social, Família e Promoção da Mulher) e Ana Paula do Sacramento Neto (Ministra da Juventude e Desportos). 

Carolina Cerqueira, uma antiga ministra da Cultura que o Presidente da República promoveu a ministra de Estado para a Área Social, já foi insistentemente cogitada como aposta de João Lourenço para sua vice-presidente. 

A surpreendente chamada da bióloga Esperança da Costa pode ter “forçado” o Presidente da República a algum exercício de compensação à ministra de Estado. Mas, ao que dizem diferentes fontes, a sua suposta indicação para a presidência da Assembleia Nacional está longe de obter o aplauso de todos os barões do MPLA.

No atletismo, dir-se-ia que Carolina Cerqueira pode ter feito a segunda falsa partida.


Correio Angolense 




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