A ingratidão do MPLA - Jorge Eurico



Henrique Miguel (Riquinho), convenhamos, já proporcionou muitas alegrias ao País quando o partido no poder se via à “nora” para aplacar a ira política do povo e dar à volta ao desalento de muitos que não mais tinham vontade de continuar a acreditar no futuro de Angola e pretendiam apenas zarpar para o estrangeiro, um quadro negro decorrente da periclitante situação económica e social que se viveu depois da refrega pós-eleitoral de 1992.


O maior empresário do show-bizz nacional proporcionava tais alegrias com o esmero que as circunstâncias impunham, partindo sempre da premissa que, um dia, o seu concurso seria reverencialmente reconhecido pelo seu “partido do coração” e, ao seu mais alto nível, pelo Estado angolano.

 

Ledo engano. Hoje conclui-se, facilmente, que Henrique Miguel (Riquinho) foi usado ilimitadamente. Que o seu patriotismo foi abusadamente abusado. Todavia, não há patriotismo que se aguente diante de tanto abuso e exclusão.




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O empresário cria, naquele tempo, que o MPLA e o seu Governo estender-lhe-iam a mão quando ele estivesse, como agora está, necessitado do seu apoio nos momentos mais difíceis. Henrique Miguel (Riquinho) tem dado a conhecer ao País e ao mundo que a “ingratidão” deveria ser a divisa do MPLA. Por norma os infelizes são, digo eu, ingratos. E ao ignorar o clamor do empresário Henrique Miguel (Riquinho) o MPLA confirma que é um morganho infeliz. E se o MPLA é infeliz, o País também o é. A insensibilidade e exclusão que promovem – até contra militantes seus, depois de o servirem – faz parte da infelicidade dele.

 

Henrique Miguel (Riquinho) está a ser tratado como um ilustre desconhecido pelo MPLA. Está a ser tratado pior que os “revús” que estão na moda ou como se fosse militante de um partido na oposição. Ora, se a um membro das suas fileiras o MPLA confere este tratamento, o que fará com quem não é militante do partido no poder?

 

Ele abriu os cordões à bolsa, despendendo milhões de dólares para levantar a moral do povo nos seus momentos mais difíceis, trazendo para o País artistas de distintos pontos do globo para fazer a delícia de todos nós.

 

Henrique Miguel (Riquinho) tem implorado para que as autoridades solvam a sua dívida. O grito do mesmo tem ecoado de forma estridente. A estória é sobejamente conhecida. Mas o seu clamor tem sido olimpicamente ignorado pelo MPLA, por quem já suou a camisa várias vezes e deu o corpo ao manifesto em diferentes circunstâncias, sempre que chamado por ele para “apagar incêndios”.

 

No início da pretérita semana, Henrique Miguel (Riquinho), abespinhado quanto bastasse, voltou, por um lado, a clamar pelo passivo que o MPLA e o Governo têm para consigo e, por outro, a atacar como recomenda o manual de um “Homem (muito) Zangado”.

 

No seu desabafo, Henrique Miguel (Riquinho) não disse nada que já não fosse do conhecimento do público. Apenas reiterou, com frases abertas, algumas verdades que doem. Fê-lo em resposta a Aldemiro Vaz da Conceição (antigo director de quadros da Presidência da República) quando este, em conversa privada, o terá aconselhado a esquecer a sobredita dívida, pois que “o Estado não lhe iria pagar” por alegada falta de provas.

 

Henrique Miguel (Riquinho), como era de esperar, aqueceu. Foi aos arames e gravou um áudio – que espalhou pelos mais variados grupos das Redes Sociais – no qual sem medo, sem respeito e nem consideração apelidou o Estado angolano de “bandido” e taxou de “corruptos” e “mal-agradecidos” duas figuras da direcção do partido no poder (Bento Bento e Paulo Pombolo).



Ora, num País normal e com instituições sérias, a reivindicação de Henrique Miguel (Riquinho) deveria merecer uma resposta plausível, tempestiva e satisfatória por quem de Direito, a contento das partes.

 

Num País sério e com um partido no poder que preze pelo seu bom (?) nome, o Departamento de Auditoria e Disciplina do MPLA deveria ter já instaurado um inquérito para apurar se as acusações feitas às duas figuras do MPLA pelo empresário são ou não sérias. E enquanto decorresse a investigação, os acusados deveriam – depois de analisado e discutido o assunto em sede própria – ser suspensos das suas funções.

 

Tal deveria ser feito em nome da transparência e da salvaguarda do alegado bom (?) nome do MPLA, ademais porque as eleições estão já ao virar da esquina. Acho que o MPLA também deve partir do princípio que o empresário o deve igualmente. Por isso…divida por divida se (a)paga!

 

Noutras latitudes, onde o voto do povo é, de facto, uma arma, as denúncias de Henrique Miguel (Riquinho) levariam o MPLA a reagir, a tomar uma posição pública para não causar danos a sua imagem. Mas tal não vai acontecer nem um pouco mais ou menos, pois a opinião pública não faz mossa ao partido no poder, porque o povo (ainda) é tratado como gado, à semelhança do que acontecia no tempo colonial.

 

O quadro só irá mudar o dia que o primado da cidadania se sobrepor ao militantismo bacoco e ignorante.


Jornal o kwanza 




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