O RAPTO DA MÉDICA QUE DESMENTIU QUE FNLA COMIA PESSOAS


Em  finais de Julho de 1975, o rapto misterioso de uma médica da maternidade de Luanda, fez  manchete nos jornais da época. A capital Luanda que estava  a  4 meses para acolher o acto de  proclamação da Independência,   vivia um clima político tenso com a presença dos três movimentos de libertação que integravam o  governo de transição. Os movimentos não se entendiam e  um deles o MPLA, colocava a população contra a FNLA, de quem acusavam de ser constituída por dirigentes corruptos que comiam  pessoas.


Na sequência do rapto, o ministro da saúde e assuntos sociais  Samuel Abrigada,  indicado pela FNLA, faz um comunicado  na emissora nacional anunciando que  “a médica Maria Fernada de Sá, anestesista da maternidade de Luanda, foi levada da sua residência por indivíduos desconhecidos em traje civil, as 9 horas do dia 28 de Julho de 1975, em viatura sem matricula”. O ministro apelava a cooperação da população. No dia 31 de Julho, a imprensa destaca uma greve dos médicos para exigir esclarecimento sobre o paradeiro da  profissional raptada. 




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No verão de  2009, em Lisboa,  a jornalista Leonor Figueiredo autora do livro “Ficheiros secretos  da descolonização de Angola”, faz uma revelação chocante sobre o que acontecido  com  médica. 


Questionada pelo “Correio da Manha”, qual  a história que conta no  livro que mais a impressionou, Leonel Figueiredo, respondeu:  “A da médica, porque ela desmentiu um boato: a imprensa do MPLA publicou uma notícia a dizer que tinham sido encontrados órgãos humanos numa das delegações da FNLA. Isso era mentira, porque tinham roubado esses órgãos do teatro anatómico da maternidade de Luanda, onde essa médica trabalhava. Foi ela que desmentiu o boato contra a FNLA. E isso levou a que a tivessem raptado. Ela é uma das desaparecidas. É preciso explicar o porquê”.


 Luís Carlos de Sá Pereira Ramalho, o filho mais velho da médica raptada, com 13 anos na altura, conta no livro o que testemunhou quando naquela  manhã de 29 de Julho de 1975,  três homens bateram à porta de sua casa,  e levaram a  mãe.  


"Só acordei com o barulho da discussão. Venho à porta e vejo três negros a discutir com ela. A minha mãe foi raptada. Agarraram-na, levaram-na de camisa de noite e robe".


"A minha mãe nunca mais regressou, nem viva, nem morta", conta o filho Luís Carlos de Sá Pereira Ramalho,  citado numa reportagem do Jornal de Noticias de 2009. O rapaz   viu o seu pai realizar todos os esforços para encontrar a mãe, chegando mesmo a correr perigo de vida em busca dessas respostas.


"O que nos foi dito é que terá sido levada para a Praça de Touros, em Luanda e morta dois ou três dias depois de raptada", avança. Mas o corpo de Fernanda Sá Pereira nunca apareceu.


O MPLA, partido que na altura  se sentiu profundamente magoado  por a médica ter ajudado desmentir a propaganda de que a FNLA, comia pessoas, nunca manifestou remorso pelo desaparecimento da profissional, nem tão pouco contribuiu com informações junto da família sobre o paradeiro das ossadas da Dra Maria Fernada de Sá, para que pudesse ser  chorada e enterrada com dignidade. 


José Gama




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