A partir do momento em que comecei a explicar de forma técnica (numa altura em que ainda não existia internet), como era e porque é que havia corrupção, passei de pessoa maravilhosa, com quem gostavam de trabalhar, a "pedra no sapado" dos DDT, que era preciso fazer desaparecer, ou em último caso, arremessar para bem longe. No início dos anos 90, começaram a utilizar o "Folha 8", propriedade do William Tonet e o "Semanário Angolense", depois de ser vendido pelo meu primo Afonso Dias da Silva, que passou a ter como testa-de-ferro Graça Campos. A verdade é que há muita gente, incluindo jornalistas, que têm um discurso para fora, completamente oposta à sua prática do dia-a-dia. No caso do William Tonet, que eu considerava um jovem empreendedor e criativo, mesmo antes de ter concluído o ensino médio, por ter mostrado na prática o seu talento, ao ser realizador do programa da TPA Reconstrução Nacional.
Embora não o conhecesse pessoalmente, acedi em recebê-lo nos finais dos anos 80, quando a esfera ideológica do MPLA dirigida por Roberto de Almeida, mandou suspender o programa, simplesmente por mostrar a realidade nua e crua e proibiu que as empresas públicas da comunicação social passassem as músicas da Lurdes Van-Duném, por ter trabalhado antes da independência na emissora "Voz da América". Não só recebi o William Tonet, como o apoiei e o seu programa voltou de novo para o ar.
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Mais tarde, no início dos anos 90, o William Tonet pediu para falar comigo. Apareceu acompanhado, teceu-me rasgados elogios e agradecimentos e apresentou-me o projecto da criação da Associação vocacionada para a defesa dos direitos humanos, e caso eu estivesse de acordo deveria dar-lhe a cópia do meu BI, o que fiz.
A partir desta data sumiu, tendo tempos depois ouvi dizer, o que confirmei, que de facto teria criado a Associação dos Direitos Humanos, de que se fez Presidente, sem me explicar para que serviu o meu BI, porque nunca mais fui tida ou achada. A minha maior surpresa foi quando meses depois de chegar a Washington D.C., li no jornal "Folha 8", que propositadamente uma pessoa amiga me enviou, que eu era extravagante e gastadora do dinheiro da Presidência da República, porque tinha matriculado o meu filho numa escola privada francesa, estando no Estados Unidos da América, um país anglófono.
Na ocasião indaguei-me, qual era a motivação para que uma pessoa, que não obstante não fosse das minhas relações, que afirmara ter simpatizado comigo e rever-se nas minhas posições, não me ter contactado pera tirar essa dúvida, porém decidi engolir essa.
Entretanto, passado pouco tempo, um certo dia, ao final da tarde, apareceram no apartamento onde eu morava dois polícias do FBI à civil, a pedir para revistarem o meu apartamento, porque tinham recebido uma denúncia, de que eu vendedora de droga.
Depois da revista pediram-me desculpa, dizendo poder ter sido uma denúncia falsa. Fiquei completamente derreada, porque estava sozinha e a tentar afastar-me de perseguição política em Angola e aparecia-me não uma polícia qualquer, mas o FBI.
Uma amiga americana apresentou-me uma advogado, que estava reformado do FBI, que por deontologia profissional, ofereceu-se para investigar donde partira a falsa denúncia sem me cobrar nada. O mesmo voltou com a resposta, de que a falsa denúncia teria partido de alguém da comunidade angolana, mas nunca lhe diriam o nome.
Mais estranho ainda, é que comuniquei ao Presidente da República, que me aconselhou a informar o Embaixador de Angola nos Estados Unidos, mas eu respondi-lhe que decidira não partilhar a notícia com ninguém, para ver se algum jornal angolano privado retomava a notícia, para tentar chegar ao mandante, que desconfiava ser da Segurança Presidencial. Qual não foi o meu espanto, quando o "Folha 8" noticiou o facto, que só eu, o FBI e o Presidente da República sabíamos.
In "UMA VIDA DE LUTA", de Maria Luísa Abrantes.
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