Esta não teria sido a oportunidade para o MPLA pôr fim a uma velha querela, se "empurrasse" Ângela Bragança -- número oito da sua lista de candidatos a deputados -- mais para cima, colocando-a exactamente no lugar que dá acesso à vice-Presidência da República? Acho que sim.
Não consta que Ângela Bragança já esteja "gagá". Pelo contrário. Passou a idade da loba, mas apresenta-se mais lúcida do que muitos homens e mulheres de meia-idade neste país. Sem esquecer que, afinal, os anos juntaram mais uns bons asteriscos ao seu "curriculum vitae" -- maturidade e experiência.
Fisioterapia ao domicílio com a doctora Odeth Muenho, liga agora e faça o seu agendamento, 923593879 ou 923328762
No interior do MPLA, o seu capital político é maior do que o de muitos da sua geração. E ultrapassa, de longe, o da candidata sobre quem recaiu a aposta do líder, João Lourenço.
A ilustre senhora tem história no partido. Bragança era uma jovem de cabelos entrançados, um pouco ao estilo rastafari, quando, nos primeiros anos de independência, a vimos pelas ruas de Luanda desempenhando um papel de grande activismo pela JMPLA.
Com boa bagagem intelectual e revolucionária -- num tempo em que as ideias de Henver Hoxa fervilhavam entre os jovens esquerdistas de Luanda --, Ângela Bragança foi professora de muitos mais-velhos do MPLA. Em termos de progressão política, seguia a par e passo com os seus coetâneos do partido. E um caso bastante emblemático é o do futuro ex-vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, que foi lugar-tenente de Ângela Bragança na "Jota" daqueles tempos.
Portanto, todos sabemos que ela estava na polle-position do MPLA dessa época. Reunia todas as qualidades para fazer carreira sempre nos lugares cimeiros do partido.
E é também conhecido onde foi que a porca torceu o rabo e, subitamente, ela viu os pneus estoirarem e com isso ser forçada a entrar nas boxes, de onde levou muito tempo a sair e já não recuperou a corrida.
Embora sussurrada à época, a história é verossímil. Conta-se que quando José Eduardo dos Santos, nos seus primeiros tempos de consulado presidencial, ainda vivia como "solteiro maior", os anciãos do partido não viram com bons olhos que ele persistisse nessa condição. Por isso trataram de lhe sugerir que fizesse um "up-grade" ao seu estado civil.
Passaram mesmo a pressioná-lo. Até que, pouco depois, viram em Ângela Bragança uma boa aposta para primeira-dama. Pensavam que desta maneira se estaria a moralizar a Presidência da República como instituição. Além de acharem que terminariam de vez com a imagem de "playboy" que o jovem chefe do Estado até certo ponto ia passando à sociedade sem uma primeira-dama ao lado.
O tiro dos anciãos saiu furado. Não por qualquer relutância de JES, que até passara a dar mostras de que não desdenhava de todo a ideia. Mas por causa da própria Ângela Bragança.
Mulher de ego e personalidade fortes, ela recusou prontamente o "arranjinho" que lhe queriam montar. Puxou o travão de mão aos velhos "cambuladores" -- que já estavam de velas preparadas para iluminar o cenário da alcova no palácio presidencial.
Os velhotes acabaram por desistir. Mas quem ficou com o orgulho ferido e ressabiado com a "nega" de Ângela foi o próprio JES.
A partir daí, Ângela Bragança, que partira na polle-position, já não conseguiu sair em tempo útil das boxes, aonde fora forçada a entrar.
Na verdade, o que veio a seguir foram longos anos a gramar um autêntico degredo político devido a uma ousada "tampa" dada a um ilustre pretendente. Só nos últimos anos do consulado de JES é que este amoleceu e ela começou a ser politicamente reabilitada e a retornar, aos poucos, à grande cena política do seu partido.
Foi chamada a exercer papéis no Governo. No Ministério das Relações Exteriores foi vice-ministra para a Cooperação e depois ministra da Hotelaria e Turismo. Já houve momentos em que alguns sectores do maioritário a viam com nível para, pela primeira vez, colocarem a pasta da Defesa nas mãos de uma mulher.
Teria sido o clímax desta reabilitação se João Lourenço, no âmbito da sua fixação pelas cifras da paridade de género, fizesse dela seu lugar-tenente. Teria sido mais coerente do que recorrer a uma ilustre desconhecida. É uma escolha que, inclusive, estará a suscitar alguns murmúrios nos bastidores do MPLA. E em toda a sociedade, que ainda não percebeu lá muito bem se a jogada de João Lourenço é para xeque, ou se trata do sacrifício de uma peça, para recuperar o fio de jogo mais adiante.
Severino Carlos
Lil Pasta News, nós não informamos, nós somos a informação
0 Comentários