Afinal a CEAST está ou não a meter-se onde não deve? O Executivo deve ou não declarar Estado de Emergência no sul de Angola? Existe ou não tratamento igual para todos os concorrentes às eleições gerais? - Celso Malavoloneke


Ponto prévio: em jeito de declaração de interesse e profissão de fé devo dizer que sou filho e produto da Igreja Católica; sou a pessoa que sou, graças à extraordinária solicitude do Cardeal D. Alexandre do Nascimento que, olhando uma criança com albinismo de sete anos, pegou em mim e durante oito anos a fio ensinou Filosofia, História Universal e da Igreja e introduziu-me no gosto das artes sacras e humanas. Sobretudo inculcou em mim uma profunda gratidão pelo dom da criação realizado em mim e no homem todo de todos os homens, assim como um profundo amor à Igreja Católica. Que é Santa porque Esposa de Cristo e pecadora porque composta de homens. Antes portanto de tudo o que sou na vida, “creio em Deus Pai Todo Poderoso, em Jesus Cristo Seu Filho, no Espírito Santo Paráclito e na Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana”. Esse profundo sentimento de cristianismo católico que professo desde que me conheço, não me permitiria aceitar que o Presidente do Partido no qual milito insultasse um Bispo da Igreja Católica; e que também me faz sofrer profundamente ao ver um Bispo da minha Igreja referir-se em termos menos civilizados ao Presidente da República. Ou a seja quem for…




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A Zé CEAST está ou não a meter-se onde não deve? Em teoria, sempre que a Igreja Católica estiver a se debruçar ou mesmo defender a dignidade “do Homem todo de todos os homens” – que aliás está consagrada na nossa Constituição – estará tão-somente a cumprir aquela missão evangélica que lhe foi confiada por Cristo “ide e ensinai a todos os povos o que Eu vos mandei”. E que, plasmada na sua Doutrina Social da Igreja, os seus princípios foram adoptados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem; e da qual o nosso povo, sobretudo os mais carentes, tanto se têm beneficiado. Até ali não está a meter-se de forma alguma onde não deve. Porém se imiscuir-se na disputa partidária, tentando influenciar os crentes a votar num ou noutro partido em ano eleitoral, ainda que camufladamente – aí sim, está a meter-se onde não deve. Isto a fazer fé nas orientações, tanto do Papa Francisco como da própria CEAST nas eleições anteriores. E como aliás o Presidente da CEAST, D. Manuel Imbamba e alguns outros Bispos vêm referindo reiteradamente nos últimos dias.


O que está então a causar esta celeuma em volta dos últimos pronunciamentos da CEAST? Não tanto“o que comunicaram”. Foi mais o “como comunicaram”. Como disse o filósofo da Comunicação Marshall McLuhan, “o Meio é a Mensagem”. Na transmissão da sua mensagem, os Bispos escolheram um canal tão ruidoso que o que está a chegar ao(s) destinatário(s) deixou de ser o conteúdo da mensagem; mas o ruído do canal. Explico-me: O que os Bispos comunicaram não é mais senão a mensagem que se espera deles numa fase como esta e a mesma que transmitiram em 1992, 2008, 2012 e 2017. Com três elementos que, por lapso ou não, criam a percepção de partícipes da disputa partidária: O primeiro, a triste tirada de um dos Bispos ao implicar que o Presidente da República é pouco dotado intelectualmente (facto nunca visto antes), acrescido de outro que chegou a dizer “se estão cansados de governar saiam e deixem outros”. Estes actos inamistosos e reiterados nas redes sociais envenenaram um espaço de comunicação institucional até então sereno, respeitoso e elevado em cujo escopo os desacordos, diferenças, e chamadas de atenção eram discutidos na base do respeito mútuo. O segundo é a inclusão três ou quatro vezes no texto, da palavra “alternância” como panaceia para os problemas do país. Com a carga política que esta palavra carrega em ano eleitoral e sendo uma das bandeiras da oposição política – a que não se crê que a CEAST não esteja a par – o seu uso empurra a instituição eclesial para um dos pólos da disputa político-partidária. E o terceiro é a insistência na declaração de um estado de emergência. Salvo melhor explicação dos assessores aos quais recorreram, quem já trabalhou em programas humanitários ou de ajuda alimentar sabe que não é isso que vai resolver o problema da fome nas comunidades no sul de Angola… ou noutras partes do país. Nem vai, como tentou-se justificar, facilitar o acesso às ajudas internacionais pois estas, pelo tempo que levam (3 a 6 meses) chegariam no mínimo tarde, pois a fome não espera. Ou nem chegariam, pois duvida-se que os contribuintes europeus ou americanos aceitassem doar alimentos a uma das mais pujantes economias africanas. Dali que, neste quesito particular, a CEAST parece estar a fazer a aposta de uma resolução do problema da fome do país num cavalo errado.


Como se resolveria isso então? O que nos leva ao “como comunicar” em que a CEAST parece ter falhado redondamente; aquilo que nas lides diplomáticas do desenvolvimento é chamada “a tentação da denúncia em vez da advocacia”. A CEAST é das instituições com mais acesso ao gabinete do Presidente da República e talvez a mais escutada fora dos mecanismos de consulta institucional do PR. Como mencionou o seu porta-voz, a nova direcção foi recebida no Palácio Presidencial menos de um mês depois da sua eleição e só não o foi antes porque o Presidente estava de viagem. Ainda assim, a CEAST preferiu uma comunicação pública e ruidosa à uma abordagem face a face, onde seria certamente melhor ouvida, na quietude dos corredores diplomáticos. O que terá contribuído para o bruhahá que deu: os Bispos a preferirem métodos “revús”, passe o termo, ao invés do debate de mais velhos sobre as coisas da Nação. Menos barulhento, é verdade, mas mais efectivo certamente e, mais proveitoso para aqueles aos quais quiseram emprestar a voz…


O mesmo se poderia dizer quanto às preocupações relativas à preparação do pleito eleitoral. Por incrível que pareça, os Bispos parecem ter-se baseado nas redes sociais (onde a cultura das fake news impera com a consequente idiotização das mentes, como diz Umberto Eco) quando podiam ao menos ter pedido explicações de viva voz ao Presidente da República antes. Isso foi entendido como um exercício de quem tem tanta pressa em condenar que não ouve todas as partes. Porque há mais de uma parte aqui: uma que repete o refrão da fraude que vem entoando desde as eleições de 1992 fiel ao postulado do seu líder de então segundo o qual “as eleições só são livres e justas quando você as ganha”; e outra que tem a responsabilidade de realizar as eleições nas datas previstas e com a realidade e os desafios que existem no país. Uma boa conversa entre o PR e os Bispos, certamente, certamente esclareceria muitas dúvidas e traria o debate e respectivos julgamentos a um acento tónico na realidade. As mesmas dificuldades que fazem com que os próprios Bispos no seu múnus de governar as dioceses e não obstante todos os seus esforços, faz que ainda não tenham as infraestruturas religiosas que desejariam em toda a extensão dos seus territórios. Sem que isso belisque a sua reconhecida boa vontade e competência. Esses consensos, entendimentos e harmonizações em relação aos randes temas da Nação, alcançam-se dialogando na fraternidade do respeito mútuo, não no levantar da voz em acusações, maledicências e ofensas. Esse “como comunicar” menos conseguido terá sido, em nosso entender, a razão do clima menos bom que vimos assistindo com radicais de ambos os lados numa guerrilha verbal que envergonha toda a Nação. Mas principalmente padres e Bispos, na essência donos de uma comunicação “que constrói pontes ao invés de erguer muros” como diz e bem o Papa Francisco.


Em consequência, corre-se o risco de o país perder pela primeira vez na sua história, um dos poucos senão o único espaço de (inter)mediação social. Para o bem e sobrevivência da Nação, as igrejas angolanas e a Católica em particular, têm a obrigação imperativa de assumirem o que melhor sabem ser: o espaço de mediação onde os pólos antagónicos naturais neste período eleitoral se encontram para fraternizar, consensualizar, harmonizar, pacificar; aceitar e amar a diferença do e no Outro. Estou convicto que se o não fizerem, falharão não só perante o país como perante Deus que os envia precisamente para essa Missão. É nesse sentido que quando a sua comunicação divide os fiéis em campos políticos opostos, exultando uns porque sentem-se levados ao colo e, tristes outros porque sentem-se ostracizados por causa da sua orientação política, falham na essência da mediação que se espera deles.


É por isso que me parece que a CEAST deve tomar o medicamento que receitou: o diálogo. Analise cuidadosamente como está a ser percebida e, se não assim que queria ser vista, recuar alguns passos. Busque o diálogo com quem a não compreendeu bem, se for caso disso. Na cosmovisão Bantu-africana, o Bispo mais que Soba; é Soba de Deus e pauta a sua postura na dignidade, prudência e comedimento. O Verbo, palavra que sai da sua boca é cheio de sabedoria porque sabe contornar os contextos antagónicos, transmitindo paz a todos os polos em disputa. Os Bispos que levem ao Presidente as suas evidências, preocupações e propostas de caminhos. E o Presidente os vai certamente ouvir na qualidade da reserva moral da Nação que são. E lá onde ver a razão dos Bispos, vai certamente agir conforme. Onde tiver que se explicar, também o vai fazer. E ao despedir-se, dirá que as suas portas estão abertas e assim, como homens de Deus, poderão até levar a ele as preocupações da oposição e de todos os que hajam por bem.




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