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A Vingança de Neto: Sequestro e Fuzilamento de Matias Miguéis e José Miguel



Um emaranhado de acontecimentos em 1965 deixa transparecer bem a mente apocalíptica de Neto quando se analisa o papel que ele desempenhou numa das atrocididares mais infame de que há memória no MPLA. Refiro-me à liquidação física de Matias Miguéis (1927-1965) e José Miguel Francisco (1940-1965), o primeiro fundador do Movimento em 1960¹ e o segundo ex-membro do Comité Director².


Expulsos ambos do MPLA por querelas internas a 6 de Julho de 1963, juntamente com Viriato da Cruz, José Bernardo Domingos e outros³, a direcção de Neto acusou-os de rebelião aberta contra a organização e logo os perseguiu, prendeu e violentou nas suas próprias habitações e, inclusive, nas ruas de Léopoldville na noite do dia 7⁴. Salvos pelo governo pró-americano de Cyrille Adiula (1961-1964) que apoiava a FNLA contra o MPLA, a facção de Neto ficou desde então proibido de exercer qualquer actividade política em território congolês.




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[...] O futuro parecia cobrir-se de sombras. Na sua flexibilidade e espírito de vingança, Neto não entrevia outra solução senão matar aqueles seus oponentes fossem quais fossem as circunstâncias. O plano por ele arquitectado antecipava já um ritual de sangue e Matias Miguéis, um dos seus principais alvos, foi o primeiro escolhido para o suplício. A primeira tentativa para o assassinar às mãos de um comando da polícia congolesa corrompido pelo MPLA ocorreu na madrugada do dia 23 de Setembro de 1965. Depois de sequestrar o ex-dirigente do MPLA no seu domicílio em Léopoldville, os operacionais da polícia levaram-no para Mbinda, em Dilolo (distrito do Congo Central), enquanto Neto e o seu entourage em Brazzaville aguardavam a confirmação do sucesso da tramóia. Este abortou. Ainda assim, malgrado o desaire, Matias foi recambiado para Léopoldville e mantido em cárcere privado por um ou dois dias, após o que o libertaram. [...]


A ocasião sinistra para Neto aplicar novo golpe contra Matias, e também contra José Miguel (vulgo "Buta")²², chegou em Outubro de 1965 quando estas duas individualidades, em substituição de Viriato da Cruz, se deslocaram a Djakarta na qualidade de representantes de Angola, para participarem numa conferência internacional consagrada à liquidação das bases militares estrangeiras na Indonésia²³. Na volta tocaram em Argel, avistaram-se com Viriato²⁴. A seguir voaram para Brazzaville, aqui desembarcaram no aeroporto Maya-Maya com a intenção de apanharem, como de custume, uma lancha que os conduziria a Léopoldville onde residiam e tinham o escritório do Comité dessidente do MPLA. Em nenhum momento, porém, desconfiaram do perigo que os ameaçava. Neto, de olhar atento sobre as suas presas, qual um condor, e informado por Argel por fontes da Kantora, como era conhecida a inteligência soviética (KGB), de que Matias e José Miguel iriam passar por Brazzaville, enviou uma nota às autoridades de fronteira. Nela requeria a prisão dos antigos companheiros, ciente de poder contar, primeiro, com a cumplicidade do presidente Alphonse Massamba-Débat e do primeiro-ministro Pascal Lissouba, seus aliados, e, segundo, com a cumplicidade dos serviços da polícia congolesa que se deixou subornar e tinha instruções para sequestrar Matias Miguéis. [...]


Antes de passarem às mãos dos algozes, Matias Miguéis ainda dispôs de tempo para fazer sair do cárcere, com o auxílio de um guarda, uma carta endereçada a Viriato da Cruz. E também um bilhete que se presume ter sido dirigido aos seus correligionários em Léopoldville a informá-los do transe por que passavam:


"Prenderam-nos hoje, 12 de Novembro de 1965, no Beach por razões que não conhecemos quando em trânsito apanhamos a vedette para Léo às 7 horas. Esta nisso metido o Neto que já esteve no Comissariado Central a ver-nos certamente. Vínhamos de Argel. Convém denunciar isto. Não fizemos nada ao Congo. Miguéis e J. Miguel." [...]


Por fim, num gesto de venenosa crueldade e arrogância, Neto pisoteou o passado político dos dois ex-companheiros de estrada, incluindo os seus méritos, e sumariamente imputou-os de traição. Acusou-os de estarem a saldo dos chineses e sentenciou-os à morte. Acto contínuo encarregou Lúcio Lara e "Iko" Carreira de cumprirem o trabalho sujo. Dito de outra maneira, confiou a ambos aquilo que Estaline eufemisticamente cunhava de «trabalho  negro», um nobre serviço prestado ao Partido e que significava derramamento de sangue.


*Extratos de "Agostinho Neto, O Perfil de Um Ditador", autoria de Carlos Pacheco, historiador luso-angolano.


Nelson Francisco Sul 



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