Que partilhava a dor o com o povo do Moxico- Ilidio Manuel

Quis o destino que ontem, 22 de Fevereiro, partisse para a eternidade o homem que amou o Moxico como poucos, partilhou o sofrimento com o seu povo, levando-lhes sempre uma mensagem de fé e esperança. Não tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, mas vi várias imagens suas nesta plataforma digital em que o finado bispo aparecia rodeado de gente pobre, de descamisados e deserdados pelas políticas públicas.

Dentre as várias imagens, retive uma em que Dom Tirso Blanco, vergado ao peso da sua respeitavel idade, carregava sobre os ombros um pesado tronco que serviria para facilitar a passagem de viaturas e transpor um dos muitos obstáculos que a estrada se lhe apresentava. Ao contrário dos políticos que se refastela(va)m nos seus gabinetes climatizados, arredados do sofrimento do povo, o prelado católico era um homem de pontes, que procurava unir a cidade ao campo, que percorria enormes distâncias pelas estradas polvilhadas de buracos, abertos pela força das chuvas ou ravinas. Doía-lhe o coração, dilacerava-lhe a alma ver tanta miséria à sua volta numa terra que podia oferecer uma vida melhor aos seus habitantes, aos seus filhos, não fosse a má gestão dos recursos locais e a ambição desmedida dos homens de mando.

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Desafiando o medo, o receio dos que lhe podiam acusar de interferência na esfera do «império de César», Dom Tirso Blanco ergueu, em várias ocasiões, a sua voz contra a exploração irracional de madeira naquela região, contra os desequilíbrios ambientais e a má distribuição da riqueza social.

Em distintas ocasiões questionei-me se o prelado de origem argentina tinha mais amor e expressava maior solidariedade para com os pobres do Moxico profundo do que os próprios governantes e políticos, incluindo os da Oposição, muitos dos quais que só se lembravam de visitá-los em campanhas eleitorais de caça ao voto.

Partiu para a eternidade, para a casa do pai, como dizem os católicos, um homem bom que amou o Moxico e suas gentes, que sofria com o povo, atenuava-lhe a dor ante à insensibilidade dos que detêm as rédeas do poder. Que a sua alma descanse em paz!