Alguns meses atrás, a rua principal do Bailundo foi fechada porque estavase a espera da vinda da Vice-Presidente do MPLA, Luísa Damião e o Secretario para Assuntos Eleitorais, Mário Pinto de Andrade. Eu queria comprar uma componente para a minha motobomba que tinha adquirido de uma loja que estava fechada.
A loja fica na mesma rua que a sede do partido MPLA no Bailundo. Havia policiais por todo lado; quem tentasse entrar na rua levava! Naquela altura lembrei-me que conheci o Dr Mário Pinto de Andrade num comboio em 1993 em Portugal; estávamos todos a caminho do Porto vindo de Lisboa para participar numa conferência sobre a democracia. Interroguei-me se o intelectual Dr Mário Pinto de Andrade estaria de acordo com aquela manifestação de apoio desproporcional aos líderes do partido no poder. Se a memória não me trai, os dois líderes partidários não vieram ao Bailundo naquele dia.
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Não tenho nada contra os adeptos de um partido que manifestarem voluntariamente o apoio ao seu líder; também não tenho nada contra os apoiantes de um presidente da república em exercício louvar da forma que eles quiserem o chefe máximo da nação. O que me inquieta é quando isto louvar é imposto aos restos dos cidadãos. No Huambo, este fim de semana haverá uma marcha para enaltecer os feitos do presidente da República João Manuel Gonçalves; um édito governamental a circular nas redes sociais afirma que haverá um processo de controlo — as autoridades vão saber exatamente que irá ou não enaltecer os grandes feitos do presidente João Lourenço. Até os alunos são obrigados a ir para este acontecimento. O Sinprof, sindicato dos professores, emitiu um comunicado afirmando que tal participação deveria ser voluntária. Membros da sociedade civil do Huambo como o activista Luís Castro, manifestaram o seu desconforto com a ordem de que todos deveriam ir cantar hossanas ao Presidente João Lourenço.
O presidente João Lourenço passou a ser presidente da república em Setembro de 2017; em Novembro daquele mesmo ano ele estava para ser o mediador (com o presidente Zuma e o antigo presidente da Zâmbia, o falecido Kenneth Kaunda) da crise no Zimbábue. Lembro-me claramente deste tempo porque eu vinha a seguir de perto o Zimbábue desde a sua independência em 1980. O Robert Mugabe, homem que durante três décadas tinha multidões que iam para enaltecer os seus grandes feitos, estava em apuros. Era os próprios líderes do partido de Mugabe, , ZANU-PF, que agora estavam a organizar grandes marchas a lhe denunciar como o pior vilão de sempre. Figuras que antes vinham para a rádio para afirmar que o Zimbábue nunca terá um outro Mugabe em mil anos, estavam agora a lhe chamar todos tipos de maus nomes.
No Zimbábue, havia muitas igrejas locais que repetiam a mantra de que Mugabe como líder era o escolhido de Deus e como tal ele só tinha que prestar contas à Deus, ponto final. No partido ZANU-PF, havia uma intensa competição entre os líderes sobre quem poderia louvar mais o Robert Mugabe. Em 2013, o então Ministro da Defesa do Zimbábue, Emerson Mnangwagwa, declarou que o presidente Robert Mugabe era o Moisés do continente Africano que tinha libertado os negros e acabado com os brancos etc. Pode-se dizer tudo de Mugabe mas ele foi alguém muito inteligente; ele suspeitava tudo e de todos. As bajulações de Emmerson Mnangagwa não estavam a lhe cair bem; Mugabe, que cresceu com a Bíblia, tinha uma perfeita ideia do comportamento de Judas antes de aquele beijo traidor. Três anos depois, Mugabe foi derrubado num golpe de estado pelo orquestrado Mnangwagwa e muitos que no passado não paravam de louvar o Mugabe. Os que bajulam exageradamente um líder são muito perigosos…
A dias vi uma foto de Mengistu Haile Mariam, agora com 84 anos, que foi o ditador da Etiópia entre 1984 e 1991. Depois da sua queda Mengistu foi viver no Zimbábue; Mugabe era a única entidade no mundo pronta a lhe dar um asilo. Acompanhei também de perto o regime de Mengistu Haile Mariam. Em 1977, houve uma guerra entre a Etiópia e a Somália numa disputa sobre o território de Ogaden, onde embora tem uma composição étnica de Somalis está no território Etíope. Fidel Castro (ayeko hale) mandou uns destacamentos para lutar ao lado da junta militar que liderava a Etiópia depois do derrube do imperador Haile Selassie em 1974. Na altura eu era criança aqui na Zâmbia; os nossos mais velhos da UNITA, que levavam as suas rádios para as lavras, para seguirem de perto os noticiários. A guerra de Ogaden terminou com a vitória da Etiópia; 400 militares cubanos morreram nesta operação. Mengistu Haile Mariam, o homem forte que afirmou a sua posição aniquilando todos seus colegas, tornou-se um grande fiel de Fidel Castro.
O Mengistu Haile Mariam, como Mugabe, era extremamente inteligente; ele tinha uma imensa capacidade de memória e nunca esquecia qualquer cara que lhe passasse à frente. O lê tinha, também, uma capacidade fora do ordinário para escutar; Mengistu Haile Mariam tinha vários serviços secretos a se espiar entre si e ele analisava as fofocas nas calmas! Durante o regime de Mengistu Haile Mariam havia na Etiópia comitês do bairro que controlavam minuciosamente quem é que assistia às marchas para enaltecer os fazeres do grande líder. Antes da marcha, os pequenos oficiais passavam com lista de controle; quem estivesse ausente da marcha para louvar o grande Mengistu sem uma justificação aceitável, era punido severamente. O fim de Mengistu Haile Mariam foi horrível. Já que ele não confiava os seus bajuladores, ele escrevia os discursos a se louvar, e forçava certas entidades cuja lealdade ele suspeitava para ler os mesmos.
O grande problema com a bajulação é que ao fim do dia tudo se desfaz num instante. Em 1989, houve um golpe de estado que fracassou na Etiópia; foram aqueles que andaram a bajular o Mengistu Haile Mariam, incluindo membros da Guarda Presidential que tentaram lhe derrubar. Lembro-me claramente de Maio 1991 quando o Mengistu Haile Mariam fugiu da Etiópia para ir ao Zimbábue. Na BBC, dias depois, ouvi oficiais que antes louvavam o Mengistu Haile Mariam a declarar a sua imensa alegria que o ditador já não estava no poder…
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