Na afamada entrevista do dia 06 de Janeiro, o Presidente João Lourenço traçou de si próprio o retrato de um homem que nada pode fazer para travar as orgias de endeusamento à sua figura que se multiplicam em todo o país.
Embora a Constituição angolana faça do Presidente da República o homem mais poderoso do país, naquele dia 06 de Janeiro os jornalistas que o entrevistaram quase desabaram em ruidosos e inconsoláveis choros quando o Presidente da República lhes confessou a sua total incapacidade de travar a bajulação e o culto à sua pessoa.
“ (…) eu sou, efectivamente, contra o culto à personalidade e à bajulação”, jurou, mas logo ressaltou que apesar da sua oposição a exercícios pouco dignificantes, nada pode fazer contra.
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João Lourenço – qual Pôncio Pilatos – dissociou-se completamente dos actos em que hordas fanatizadas de militantes do MPLA o adulam até a níveis enjoativos.
“(…) não posso ser responsável pelo que os outros dizem e fazem”, encolheu os ombros e para sublinhar a sua total incapacidade perante actos que colocam Angola no mesmo patamar de países “pedestres” como a Coreia do Norte, João Lourenço garantiu: “Eu não encorajo, mas se eles o fizerem não sei que medidas a gente vai tomar”.
Na Coreia do Norte, a dinastia reinante também atribui à espontaneidade dos cidadãos as hosanas com que é diariamente brindada.
Na entrevista, João Lourenço queixou-se da legislação angolana, que lhe cércea qualquer tentativa de combate à bajulação e ao culto de personalidade, pois que uma e outro não são tipificados como crimes.
“Crime não é. Não sendo crime, bom, é mesmo só uma questão de educação, mudança de mentalidade.”
Mas, apesar da pretensa utilização não autorizada do seu nome e imagem, em momento algum João Lourenço admitiu accionar a Justiça para punir os aproveitadores.
De mãos atadas perante o florescimento da bajulação e do culto de personalidade, João Lourenço espera que o tempo seja capaz de fazer aquilo de que se declara claramente incapaz.
“(…) vamos nos próximos tempos ver se as mentalidades mudam ou não. Espero bem que sim”.
O Presidente angolano confia em que o tempo fará o seu papel para o florescimento de uma semente ( mudança de mentalidades) que assegurou estar lançada.
O problema, agora, é saber se os angolanos, que o próprio Presidente da República nega serem burros, engolirão, ou não, as justificações para as crescentes e até já enjoativas manifestações de bajulação e culto à pessoa de João Lourenço.
“As pessoas devem ter em mente que eleitor, que é o nosso juiz, não é burro nenhum. Sabe fazer as suas leituras”, disse num momento anterior à sacramental pergunta sobre a bajulação e o culto de personalidade, dois fenómenos que progridem em paralelo com fome e a mendicidade em Angola.
Apesar da imensidão de poderes que decorrem das várias funções que exerce cumulativamente – presidente do MPLA, (e nessa condição foi consagrado candidato “natural” do partido às próximas eleições), Presidente da República, Titular do Poder Executivo, Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas (e nessa condição desembaraçou-se de Paulo de Almeida sem “aviso prévio”) – João Lourenço afinal não pode tudo e coloca os cidadãos perante duas questões: deixou-se desrespeitar ou aprova e até encoraja as cada vez mais barulhentas manifestações de adulação à sua pessoa?
No dia 9, o Governo do Huambo, através do seu Gabinete para o Desenvolvimento Integrado, pôs a circular nas redes sociais uma nota de “Mobilização para a Marcha de Exaltação dos Feitos de Sua Excelência João Manuel Gonçalves Lourenço, Presidente da República”.
As várias entidades públicas destinatárias da nota são “convidadas” a “mobilizar os vossos funcionários para participar” da “Marcha de Exaltação dos Feitos de Sua Excelência João Manuel Gonçalves Lourenço, Presidente da República”.
Deixando bem claro que conta com a adesão de todos os funcionários afectos às entidades a quem foi destinada, a nota chama à atenção dos responsáveis para a necessidade do “control das presenças”. Nessa necessidade de “control” está explícita a ameaça de sanções àqueles que ousaram faltar ao acto de exaltação dos feitos do nosso Guia-mor.
Manietado pela lei, que não tipifica como crime a bajulação e o culto de personalidade, no dia 12 de Fevereiro o Titular do Poder Executivo nada pôde fazer para impedir que o funcionalismo público, que tutela, fosse obrigado a aderir à marcha de exaltação do Presidente da República.
Em síntese, João Lourenço está diante de um bicudo problema: nas vestes de Presidente da República João Lourenço não gosta, “não encoraja” a bajulação, mas não sabe quê “medidas a gente vai tomar” para impedir que o Titular do Poder Executivo, João Lourenço, numa atitude de inquestionável bajulação, use e paralise a máquina pública para exaltar os feitos “de Sua Excelência João Manuel Gonçalves Lourenço, Presidente da República”.
E ninguém se iluda: até Setembro, mês de eleições, o Presidente da República, João Lourenço, não moverá palha para impedir que o Titular do Poder Executivo, seu “homónimo” João Lourenço, coloque todo o aparato público a trabalhar para a campanha do candidato a Presidente da República, o “xará” João Lourenço.
A derradeira consolação dos angolanos é que o seu próprio Presidente da República reconhece que as “pessoas devem ter em mente que eleitor (…) não é burro nenhum. Sabe fazer as suas leituras.”
Correio Angolense
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