Mandatados pelo Presidente da República, regressaram ao país de mãos a abanar os altos funcionários que foram aos Estados Unidos para uma derradeira tentativa de promover um encontro entre João Lourenço e o homólogo norte-americano, Joe Biden.
Num derradeiro e desesperado esforço, nos últimos dias altos funcionários da Secretaria do Presidente da República para os Assuntos Diplomáticos e de Cooperação Internacional e do Serviço de Inteligência Externa (SIE) fizeram várias diligências nos Estados Unidos no sentido de promoverem um encontro entre os Presidentes João Lourenço e Joe Biden, antes das eleições gerais angolanas previstas para Agosto deste ano.
No seguimento de um guião estabelecido pela americana “Squire Patton Boggs”, a empresa a quem o Governo angolano paga 4 milhões de dólares anuais para lhe fazer o lobby em Washington, os emissários angolanos bateram, até, a porta do Reverendo Sylvester Beaman, líder da “Bethel African Methodist Episcopal Church”.
Devoto católico, Joe Biden e Beaman estão unidos por fortes laços de amizade que perduram há mais de 30 anos.
Sempre que vai a Delawere, seu estado natal, Biden assiste a cultos na Bethel African Methodist Episcopal Church.
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Por altura da sua campanha eleitoral para a presidência norte-americana, Biden frequentou várias vezes a igreja liderada pelo amigo com o fito de atrair o voto dos afrodescendentes, a maior comunidade de membros daquela dissidência da Igreja Metodista Unida.
Foi o Reverendo Beaman que dirigiu as preces na inauguração do mandato de Joe Biden na Casa Branca e também dirigiu a missa no funeral do filho do primeiro casal norte-americano.
Apesar da longa amizade de mais de 30 anos, o Reverendo Sylvester Beaman não aceitou ser porta-voz dos desígnios das autoridades angolanas.
Fontes que lhe são próximas disseram que apesar do acesso facilitado na Casa Branca, Beaman
não se envolve na vida política do amigo Biden.
Depois de fracasso de tentativas anteriores, a diligência junto do Reverendo Beaman era considerada pela Squire Patton Boggs como o derradeiro esforço para convencer Joe Biden a receber o Presidente João Lourenço, que em Agosto concorrerá à sua reeleição.
Não são de agora as tentativas da Secretaria dos Assuntos Diplomática do Presidente da República de proporcionar a João Lourenço um encontro com o seu homólogo dos Estados Unidos.
Em Setembro do ano passado, depois de discursar na assembleia anual das Nações Unidas, João Lourenço deslocou-se a Washington com a secreta esperança de ser recebido na Casa Branca.
Mas o melhor que o presidente angolano conseguiu na capital federal norte-americana foi uma homenagem da Fundação Congressista para a Conservação, que se dedica a questões ambientais.
Mas fontes conhecedoras do assunto asseguram que o Governo de Angola comprou essa homenagem, já que não é conhecida, no país e no mundo, qualquer dedicação de João Lourenço a questões ambientais.
Também em fim de mandato na liderança da Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi aceitou um breve encontro com o Chefe de Estado angolano.
Por tradição, as portas do salão oval da Casa Branca não são escancaradas a dignitários estrangeiros nos anos em que concorrem à sua reeleição.
Com uma crescente contestação interna e com o seu partido sob fortes suspeitas de preparar nova fraude eleitoral, uma acusação recorrente dos partidos da oposição, uma audiência na sala oval da Casa Branca teria sobre João Lourenço efeitos de um tónico.
Em recente entrevista ao jornal O Kwanza, Paula Roque, investigadora do Centro de Estudos Estratégicos e de Segurança da África do Sul, disse-se convencida que o “MPLA não tem condições para ganhar as eleições, dada a saturação popular e os erros de governação”.
Filha da angolana Fátima Roque, antiga dirigente da UNITA, e do banqueiro Horácio Roque, já falecido, a investigadora diz acreditar que “tudo indica que haverá fraude eleitoral em 2022”.
Não se lhe notando, internamente, gestos ou sinais tendentes a baixar a forte crispação com a UNITA e outras forças políticas, algo que passaria, nomeadamente, pelo diálogo directo com os seus líderes, o Presidente João Lourenço esforça-se por transmitir à comunidade internacional a ideia de que as próximas eleições gerais estão a ser preparadas no melhor dos climas.
Desde que chegou à Casa Branca, Joe Biden tem dado repetidos sinais de intolerância para com os líderes de outros países que chegam ao poder por vias pouco transparentes.
Em Agosto, os Estados Unidos travaram in extremis um comunicado da Comissão Eleitoral da Zâmbia que anuncia a reeleição do Presidente Edgar Chagwa Lungu.
Os Estados Unidos alegaram que a manipulação da comunicação social, que ao longo da campanha eleitoral favoreceu despudoradamente o concorrente Lungu, o controlo da Comissão Eleitoral pela Frente Patriótica, partido governantes, e outras manobras teriam viciado todo o processo eleitoral e disseram que não reconheceriam os resultados de eleições decorridas naquelas condições.
No mesmo dia em que a Comissão Eleitoral iria anunciar os resultados, os Estados Unidos advertiram que, se publicados, aplicariam sanções económicas não só Edgar Chagwa Lungu, cuja reeleição já estava assegurada, como aos mais influentes dirigentes do colégio eleitoral e do partido governante.
Da recontagem dos votos, feita sob pressão dos Estados Unidos, resultou a vitória do candidato da oposição, Hakainde Hichilema, líder do Partido Unido para o Desenvolvimento Nacional (PNUD).
No dia 5 de Novembro do ano passado, a embaixadora dos Estados Unidos em Angola, Nina Maria Fite, foi ao palácio presidencial despedir-se do Presidente João Lourenço no termo da sua missão de quatro anos no nosso país. No final do encontro, a diplomata norte-americana teceu ácidas críticas à comunicação social pública, a quem atribuiu tratamento desigual a todos os actores políticos angolanos.
Desde que chegou ao poder, em 2017, o Presidente João Lourenço colocou na esfera pública todas as estações televisivas existentes no país.
Nos primeiros dias deste ano, a Procuradoria Geral da República colocou a ZAP Viva sob a tutela do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, após seis meses de suspensão sob a alegação de “inconformidades” com a lei. O comunicado da PGR que coloca a ZAP vive na esfera pública não alude à reparação de qualquer inconformidade.
Com a ZAP Viva são, agora, cinco os canais televisivos inteiramente subordinados à narrativa do Governo.
Os Estados Unidos e outros países interpretam o crescente controlo da comunicação social público pelo Governo como o um dos maiores contratempos a eleições livres e justas.
A insistência num encontro com Joe Biden demonstra que, apesar da sua crónica empáfia, os governantes angolanos tomaram boa nota posição americana em relação às eleições zambianas.
O assalto e controlo de toda a comunicação pública angolana por parte do Governo do MPLA colocam os EUA perante o imperativo de um pronunciamento pré e pós-eleitoral.
As tentativas angolanas para que João Lourenço seja recebido na Casa Branca não têm muito eco em Washington em parte por causa da má reputação da Squire Patton Boggs, a lobista do Governo. O contrato de 4 milhões de dólares anuais que assinou com as autoridades angolanas é entendido na capital federal americana como um expediente de lavagem de dinheiro ilicitamente subtraído aos contribuintes angolanos.
Correio Angolense
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