A profissão jornalística em Angola está cada vez mais banalizada. É uma estratégia do partido no poder (MPLA) que começou pouco depois da independência, a 11 de Novembro de 1975. Depois da tomada do poder plo MPLA, os jornalistas passaram a ser designados como “Funcionários da Informação”.
Os jornalistas foram reduzidos a nada. Limitavam-se a fazer propaganda em benefício do MPLA. Não escrutinavam as acções do MPLA e do seu Executivo.
Depois de 1992, houve uma evolução. Surgiram jornais que escapavam ao controlo do MPLA-Governo. A conjuntura era outra. Mas depois de 2002, com a morte de Jonas Savimbi e a capitulação da UNITA, o MPLA voltou a controlar/dominar, de forma absoluta, como vê agora, os órgãos de comunicação social públicos (Jornal de Angola, RNA, TPA e Angop) e alguns privados com o objectivo de retirar eficácia à democracia nascente no nosso País.
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Hoje o MPLA encontrou uma nova forma de controlar os meios de comunicação social públicos e privados, incluindo as Redes Sociais onde actuam alguns jornalistas, que não podem escrever determinados factos nas suas redacções, e líderes de opinião da Sociedade Civil. Esta forma é a de promover “gente estranha” como jornalistas no Jornalismo. E é aqui a Comissão da Carteira e Ética (CCE) deve ter mais atenção.
Por exemplo, aquela “vintena” de pessoas que recentemente foi indicada para o Comité Central do MPLA são mesmo jornalistas?
O que diz, afinal, o estatuto do Jornalista em vigor na República e Angola?
Quem, afinal de contas, jornalista em Angola?
O Kanzala Filho, engenheiro António Venâncio, ex-candidato a Presidente do MPLA e também ex-quase adversário de João Lourenço nas internas do partido no poder, enquanto cronista também podemos dizer que é ex-jornalista?
O cronista Jacques Arlindo dos Santos é Jornalista?
Justino e Vicente Pinto de Andrade, ex-comentaristas da Rádio Eclésia-Emissora Católica de Angola, são ex-jornalistas?
Um economista ou um médico, engenheiro que escreva e publique em jornais ou outras plataformas textos da sua especialização também é jornalista?
O mais desacado “pistoleiro digital” do MPLA Wankana de Oliveira tem publicado, nas Redes Sociais, “notas” (a que dá o nome de “notícias”) contra activistas, líderes da Sociedade Civil e membros da oposição. Qualquer dia vamos vê-lo a ascender também ao cargo de membro do Comité Central na condição de jornalista?
Quem fica a gritar ao microfone de uma rádio num programa de entretenimento ou algo parecido é jornalista?
Ter a Licenciatura em Comunicação Social ou em Ciências da Comunicação dá-nos automática e gratuitamente o título de jornalista?
Em que é, afinal de contas, jornalista? Precisamos recorrer ao estatuto do jornalista para encontrar a resposta.
Naquela lista que, há dias, circulou de alegados jornalistas, nem todos são jornalistas.
Por exemplo, Bernardo Milonga não é nem nunca foi jornalista e Celso (Malavoloneke) também nunca foi. Este último, estudou Comunicação Social na UPRA, mas nunca exerceu Jornalismo. Escreveu, isto sim, artigos de opinião e crónicas, na condição de colaborador, do Semanário Angolense.
Na verdade, a notoriedade pública de Celso Malavoloneke deve-se ao então fundador e director do Semanário Angolense jornalista Graça Campos e, depois, ao jornalista Salas Neto que editava os seus escritos.
Em países sérios, Bernardo Milonga, Celso Malavolonke e outros poderiam ser processados por alegada “falsa qualidade” ou “falsidade ideológica”. Ou seja, por se fazerem passar por aquilo que não são nem nunca foram.
O mesmo não se pode dizer, por exemplo, de Gabriel Veloso, que é jornalista. Emília Rita, repórter da OMA – braço feminino do MPLA - também é jornalista. O CÔNEGO não é e nunca foi jornalista. Deixemo-nos de mentiras!
Dizem que a Comissão da carteira e ética tem mea-culpa nisso por não está a passar pente fino de verdade aos processos das pessoas que solicitam carteira. Aliás, não basta apresentarem documentos certinhos das suas empresas. A CCE tem de certificar se, de facto, a actividade que o candidato à carteira exerce é de facto jornalismo. A desatenção na atribuição da carteira tem proporcionado muita fraude, o que corresponde aos objectivos do MPLA.
Para o partido no poder, quanto mais houver “infiltração”, quanto mais o Jornalista estiver abandalhado, desacreditado, melhor. A CC deveria acionar a chamada “prova de vida. Não bastam os documentos apresentados, o candidato tem de provar que exerce Jornalismo. Aliás, a CCE tem de saber quem exerce e quem não exerce Jornalismo. Isto pode confrontar com as diferentes redacções, etc. Há muitos infiltrados que agora estão legalizados porque receberam a carteira. E é isso que o MPLA quer!
Shusha Buruskaya
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