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1.° De Agosto em risco de descer de divisão por dívidas

100 anos de igreja Adventista do Sétimo Dia em Angola- Pedro Muenho



O primeiro contato do movimento Adventista do Sétimo Dia em Angola foi estabelecido em 1922 pelo pastor William Harry Anderson, apelidado em Angola de "Kakongo", norte americano de nacionalidade, mas nascido no México, em 1871. Vindo da Namíbia, fez uma viagem de exploração, a fim de estudar as possibilidades de estabelecer a Igreja no país, a pedido do Comité Anual da Divisão (1922) presidido pelo Pastor H. Branson, seguindo assim, os passos de John N. Andrews o primeiro missionário além-mar.


Ao atingir a margem meridional do Cunene, começou a anoitecer. Os jangadeiros (espécie de barco de pesca) recusaram-se a transportá-lo para outra margem do rio, em cumprimento ao horário estabelecido para o funcionamento da canoa. Por mais que insistisse, mesmo pagando um valor superior ao cobrado nos bilhetes de passagens, nada conseguiu. Ele tencionava passar a noite do outro lado da margem e pôr-se a caminho logo de manhã cedo. Na mesma situação, havia na margem oposta do rio um indivíduo, também de cor branca (português), aguardando a travessia.

No dia seguinte, depois de atravessar o rio, o missionário W. H. Anderson deparou-se com uma cena horrível. Os leões tinham devorado aquele indivíduo que dormia no local onde o missionário W. H. Anderson tencionava passar a noite, tendo sobrado os pés nas botas!.


Em função do relatório dessa viagem exploratória, desembarcaram na cidade portuária de Lobito (12º20`S de latitude e a 13º34` E de longitude), em 12 de Junho de 1923, além do próprio missionário W. H. Anderson, T. M. French, Secretário do Campo de Divisão Africana dos Adventistas do Sétimo Dia e J. D. Baker, cedido pela União Sul-Africana dos Adventistas do sétimo dia para trabalharem em Angola.



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Depois que passaram alguns dias em Benguela, há 34 km do Lobito, tiveram a oportunidade de proverem-se de mantimentos indispensáveis. Seguiram no comboio (trem) para o interior. Primeiro pararam na Ganda (253 km). A cidade lhes agradou. Entretanto, souberam que a Missão Filafricana (Protestante) planejava estabelecer ali uma estação missionária, prosseguiram a viagem.


No comboio, conversaram com o capitão Morais, que se expressava em inglês. Ele era Administrador do Lépi (12º 52´15" S; 15º 23´54" E, altitude de mil 637 metros acima do nível do mar). A paisagem do Lépi é soberba, com montes e florestas. Lá há um rochedo com a forma duma cabeça de elefante, daí lhe vindo o nome de "tromba de elefante". Ele os convidou para que os missionários estabelecessem a Missão Adventista naquela povoação. No entanto, eles não foram bem recebidos pelos habitantes dessa vila.


Resolveram, então, ir até Mbongo (Bongo) onde residia o soba Cipopiakulo /Tchipopiakulo/ (O que diz os mais velhos) que os recebeu alegremente, principalmente por entender os benefícios que trariam para a região: educação, postos de saúde, condições de higiene e saneamento básico, como acontecia em localidades próximas onde funcionavam Missões Protestantes.


Pouco tempo depois, apresentaram o pedido formal para o estabelecimento de uma Missão no Bongo ao governador Geral de Angola, que na altura se encontrava de passagem no Lobito, tendo sido deferido nos termos da legislação então em vigor 1923). Foi-lhes concedido um terreno inicialmente 300 hectares (1924) e depois de 620 hectares (1925). W.H. Anderson e esposa, James D. Baker e O. O. Bredenkamp e esposa chegaram ao Lépi, em 27 de Abril de 1924, no primeiro dia da semana, Domingo, portanto. A esposa de J. D. Baker só chegou em 20 de Junho. W.H. Anderson ficou residindo no Lépi e os outros dois missionários no Bongo. Bongo dista 23 km de Longonjo, 18 km do Lépi e 80 km do Huambo.


De acordo com Jeremy Bell, em seu artigo intitulado “História de Angola”,  publicado na Oxford Researcher Encyclopedia of African History, em 2017, o Governo Português atribuiu certa região a cada Igreja Protestante, em consequência dos ventos de mudança que vieram a culminar na Conferência de Berlim.


 “ Os Baptistas Britânicos operavam  no Norte de Angola entre os falantes da língua Kikongo, com início de 1878. Os congregacionalistas Americanos e Canadianos trabalhavam entre os falantes do Umbundu, no Planalto central, com início de 1880. Em 1885, missionários da Igreja Metodista Episcopal nos Estados Unidos fundaram missões na região entre Luanda e Malanje entre os falantes da língua Kimbundu” lê-se na página 13 do artigo. Prosseguindo, acrescenta Bell que, além dessas três primeiras missões de Igrejas Protestantes, uma missão suíça, a Missão Filafricana, foi também fundada nas altas terras do sul. 


 Contudo, importa mencionar que, essas igrejas Prostestantes encontraram já aqui estabelecida a Igreja Católica, que chegou em Angola com a ocupação portuguesa. 

O êxito do estabelecimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia ficou assinalado com a sua expansão em quase todos os recantos do País,  antes da Independência em 1975.


George Knight, historiador da Igreja, em sua obra "A Brief History of Seventh-day Adventists, 3rd ed.", na página 9,  “ a crença na segunda vinda de Jesus juntamente com o  senso de proximidade do fim do mundo  tornoram o  Adventismo em um dos programas mais enérgicos de missão". Em Angola, esse elemento até motivou militares a abrirem templos em locais de combates, como o caso de Menongue, na província do Cuando Cubango. Resumindo, queremos dizer que, o espírito missionário de seus fiéis e líderes, motivados pela segunda vinda de Jesus, tem sido o elemento distintivo da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Angola


Os créditos adventistas nessa área são até reconhecidos por líderes religiosos de diversas denominações cristãs. Uma dessas pessoas,  é Lawrence W. Henderson, missionário evangélico de origem americana que leccionou inclusive, antropologia cultural, no Instituto católico do Huambo. Em sua obra “ A Igreja em Angola: Um rio com várias correntes”, escreve que “ entre os protestantes, podemos afirmar que os adventistas eram quem possuía o programa mais agressivo de todos para conseguirem a evangelização dos europeus”( P. 124). 

Importa mencionar que, essa declaração foi feita na senda do facto que, a missionação adventista em Angola, não apenas se direccionou aos nacionais, mas também estendeu-se para os europeus que aqui estavam. Como prova disso, “ em 1945 foi criada em Benguela uma escola sabatina, que se destinava exclusivamente a europeus”, escreve. Outra revelação que se pode fazer aqui, é o surgimento das actuais igrejas centrais, que surgiram das então igrejas europeias, um fenómeno que surgiu graças ao impacto do serviço de saúde adventista, com destaque a qualidade dos serviços do hospital do Bongo. 


Organização eclesiástica.


O Lépi foi a sede temporária do Campo Missionário do Sul do Atlântico, que abrangia a Namíbia e Angola. Em 1925, o Campo da Namíbia foi transferido para a União Sul-Africana dos Adventistas do Sétimo Dia. Angola ficou integrado à União Equatorial que era formado pelos territórios: Camarões, África Equatorial Francesa, Ilha de Fernando Pó, Ilhas de São Tomé e Príncipe e Guiné Espanhola.


Nessa época a União Angolana era composta de quatro campos missionários: 1) Kimbundu, (distritos de Kuanza Norte, Zaire, Cabinda e Malanje); 2) Ovimbundu (distritos de Benguela, Bié e Kuanza Sul); 3) Huila, (distritos de Namibe, Huila e Cubango); 4) Quioco (distritos de Lunda, Moxico e Luchazes).


Em 1928, Angola assumiu o estatuto de União Angolana, que se mantéu até 2011 altura que se dividiu o território angolano em duas união. Sudoeste( Centro e Sul), Nordeste(Norte e Leste).








Obra educacional


Desde o estabelecimento da Igreja Adventista em Angola, uma das prioridades da ação missionária foi a obra educacional.


Em 1929, o Pastor João Gnutzmann e Lucinda e filha Noemi, casal brasileiro, desembaraçaram no porto do Lobito tendo sido recepcionado pelo Dr. Tonge, médico do Hospital do Bongo. Foram a Benguela e de lá ao Huambo de comboio. 


O Professor (Pastor) Gnutzmann organizou o programa escolar e todas as matérias em todas as classes, principalmente a introdução de novos métodos pedagógicos, principalmente acabar com a escola ditatorial. 

No Bongo lecionava das 12:30 às 17:30 cursos primários, normal e teológico. 


Dezembro de 1924, Angola possuía 15-20 alunos de todas as idades: desde 5 aos 50 anos. Em 1925 chegava D.P. Harder, encarregado de estabelecer o departamento da Educação em bases sólidas. Com ele trabalhou irmão João de Sá Pereira do lago, o primeiro professor adventista vindo de Portugal.


Em fevereiro de 1927, Daniel Jahangala, mestre-catequista, um dos alunos, foi incumbido a dar início a uma escola rudimentar na aldeia de Yava, vindo a ser o primeiro obreiro adventista nativo de Angola. 


Escolas rurais.


Ao saírem do Seminário, os novos obreiros dirigiam-se, em geral, a aldeias adventistas onde, a par de sua atividade religiosa, mantinham em funcionamento escolas rudimentares em que crianças e jovens davam os primeiros passos na sua carreira acadêmica.



Em 1961, começaram a funcionar as chamadas Escolas Centrais, dotadas de bons edifícios escolares e de dormitórios separados para rapazes e meninas, onde era ministrado o ensino até à Quarta classe. Entre as principais destacam-se: Escola central de Bundas, Cachindongo, Cachindongo, Caluvombolo, Caluvombolo, Cangongo, Cassongue, Catapi, Catapua, Catenda, Caúri, Chalondo, Chilimba, Chitata, Conusse, Mualangue, Dongo, Esoquela, Européia, Galanga, Iava, Lucusse, Lumeje, Monte Belo, Muxixi, Nama, Nanba, Natepa, Quicuco, S. Tomé, Seles, Talala, Tchafinda, Xirimbimbi etc.


Em 1975 havia as seguintes escolas centrais que passaram à condição de Missão: Caúri (desde 1961), Gungue (1963), Chitata (1966), Colola (1966) e Sacambua .

Missão de Caúri (1954, 1962) (Prov. Huambo). Primeiro funcionou como escola Central. Depois passou à categoria de Missão sob orientação do Pastor Venâncio Chipopa, sendo o seu primeiro diretor o Pastor José Estavão.


Missão da Gungue (1963) (Huila). Estabelecida em 1953 por Carvalho Canguenda da Silva e promovida à Missão em 1963, sob a orientação do Pastor Ernesto Ferreira, tendo sido dirigida, inicialmente, pelo Pastor Samuel Siria.

 

Missão da Chitata (1966). Explorada pelo pastor Ernesto Ferreira, mas aberta pelo pastor Domingo Paulo


Missão da Colola (1966) (Huambo). Estabelecida em 1951 pelo pastor Colino Chico Jango, tendo sido dirigido, inicialmente, pelo pastor Isaque Diamantino Tadeu.


Missão de Sacambuia (1966) (Moxico). Explorada pelo pastor Ernesto Ferreira.


Seguindo a pisada dos primeiros missionários, atualmente em Angola a Igreja tem 83 Escolas Adventistas e Colégios, e mais de 34. 954 alunos.






 


Saúde- Obra médica



A obra médica no Bongo começou com a chegada do Dr. Archie N. Tonge, em outubro de 1926, da Universidade de Loma Linda, Califórnia,vindo a fase primitiva do Hospital a ser inaugurada em 1929.


Em 1931, o Dr. Tonge foi substituído pelo Dr. Roy Burlew Parsons também formado na Universidade de Loma Linda e sua esposa D. Mabel, como enfermeira.


Em 1931 chegava a enfermeira Miss Ruth Johnson, tendo permanecido até 1960.


Em 1953, chegava o médico italiano, o Dr. Elio Moretti, que exerceu o seu ministério até 1956. Em 1957 o Hospital do Bongo foi enriquecido com mais uma nova aquisição da miss Alberta Hodde, que depois de ter trabalhado no Sanatório e Hospital de Boulder, Colorado (E.U.A) e ter trabalhado no Hospital Silvestre do Rio de Janeiro.


Em 1 de Abril foi inaugurada a escola de auxiliar de enfermagem. Foram ministradas disciplinas como: Elementos de anatomia e fisiologia, arte de Enfermagem, Relações profissionais e pessoais, Higiene, religião e Hidroterapia. Entre os professores destacam-se: Miss Hodde, D. Mabel Parsons, Pastor Mário Abel.


Em 1961-62 foi montado o laboratório de Análises Clínicas, sob a direção do Dr. Roy Parsons, auxiliado por Robert Parsons. Nessa época, muitas pessoas tiveram sua pernas amputadas devido à "bitacaias", uma espécie de pulgas que alojam, principalmente, nos dedos dos pés. Se não forem extraídos, com alfinete, a tempo provocam uma infecção violenta na parte afetada. Acredita-se essas pulgas tenham sido transportadas da América Central para África, de navio, e fizeram seu habitat.


Em 1964, o Hospital do Bongo recebe o Dr. David J. Parsons e sua esposa D. Leona Parsons, como enfermeira.


Em 1972, uma nova adição se efetuou com a chegada do Dr. Gideon Marques e sua esposa. Em 1974, o hospital do Bongo contava com o seguinte quadro: Dr. David J. Parsons, Dr. Roy B. Parsons, Dr. Gideon Marques, Dr. Helio Rocumback, Monique Tallé (Enfermeira chefe), James Holder (Raios-x), Robert Parsons (Laboratório) e as enfermeiras, Leona Parsons, Perciliana Leça, Amália Santos, Benvinda Marques, Celeste Rica e Érika Witschi.


Vale salientar também que pelo Bongo passaram, entre outras, a Senhora Moore (EUA), Sra Fourie (África do Sul), Enfermeira Ruth Johnson (EUA), Enf. Lucas Kahuri, Valério, Samuel, Jobino Chipombo e outros.


Depois da independência de Angola, o Hospital foi, temporariamente, reassumido pelo Dr. Ferrán Sabaté e esposa (1980-82), Enfermeira Victoria Duarte (1981-82), Dr. O. Vergères e Dr. Butho Va (1986-87). Na década de 90, a obra médica foi representada pelos seguintes médicos angolanos: Dr. Isaac Ngola, Dr. Celso Almeida e Dr. Aarão Zaqueu. 


Segundo dados oficiais, hoje a igreja Adventista tem 8 hospitais e clínicas em Angola.


Comunicação Social- Mensagem pela rádio 


A mensagem Adventista começou a ser irradiada em programas semansi denominados “ A voz da profecia” através das seguintes emissoras, até 1975. Rádio clube de Benguela (desde 1953), Namibe (1958), Huambo (1958), Luena (1958), Malanje (1960) e “Voz de Luanda (1964).


Funciona desde 1958 curso bíblico por correspondência (escola bíblica-postal). Em 2 de Dezembro de 1973 foi inaugurado, no Huambo, para as atividades de “A voz da Profecia”. Desde 1989 que a ADRA (Adventist Development and Relief Agency) que vem atuando em Angola na área de desenvolvimento e ajudas de emergências tanto em favor de Igreja Adventista como da população em geral, sem distinção de origem étnica, crença religiosa ou filiação partidária. Em 1977 a ADRA (Ralph Watts) assinou um importante acordo de cooperação com as Nações Unidas (Catherine Bertini) no âmbito do programa mundial de alimentação.


Atualmente a Igreja Adventista tem diversos programas em algumas estações de rádio privada, e o governo angolano concedeu no quarto semestre de 2021 a licença para a igreja abrir uma rádio no país.



Informações estatísticas:


No quarto semestre de 1924, em Angola havia 6 membros batizados. Dez anos depois, 577 membros batizados. Em 1944, 1900 membros batizados. Em 1954, 7.276. Em 1964, 15.778; em 1975, 35.221; em 1998, 189.189. Angola registra, atualmente, mais de meio milhão de fiéis “praticantes” ou baptizados e estima-se que tenha cerca de três milhões de não baptizados. Segundo Dados oficial  de Arquivos, Estatísticas e Pesquisa da Sede mundial da Igreja Adventista.





Por: Pedro Muenho/ Jornalista e Teologo 



Referências biográficas 




 

Guiados por Deus (Isaac Paulo - 2013) 


A Brief History of Seventh-day Adventists, 3rd ed. (George Knight)


Pregoeiros da verdade presente : história da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Angola, 1924-2004 / Alexandre Justino



Entre os Leões de Angola. Aventuras do Missionário Manuel de Castro.



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