É preciso repeti-lo todas as vezes que forem necessárias. O Governo não pode apregoar o incremento da transparência no sector financeiro, ao mesmo tempo que os angolanos são confrontados com decisões repletas de opacidade em processos que impactam especificamente na reputação da banca. E, de forma geral, na credibilidade da economia e do país.
Quem serão os accionistas do Banco Económico?
Vem isso a propósito da já anunciada medida de recapitalização do Banco Económico, que implica o simultâneo recurso aos seus principais depositantes. Mantendo-se fiel a uma certa tradição de aversão à transparência, o Banco Nacional de Angola (BNA) foi utilizando uma linguagem ininteligível, quando directamente questionado sobre os nomes dos futuros accionistas a serem seleccionados da carteira de depositantes. Tão incompreensível é a postura do regulador, sobretudo quando se sabe que há questões de natureza ética e de idoneidade que não podem ser jogadas para debaixo do tapete. Já que suscitam particular interesse neste banco por razões históricas óbvias.
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Ainda que a contragosto de governantes do BNA, a generalidade dos angolanos quer saber quem são esses depositantes que se vão tornar accionistas de um banco, originário de outro com o histórico particular de trapaças que custaram biliões até hoje com explicações incompletas, senão mesmo desconhecidas. Aos angolanos interessa perceber, por exemplo, se não há o risco de termos dinheiro eventualmente roubado do extinto Banco Espírito Santo Angola a ser transformado agora em capital accionista no seu derivado Banco Económico. E para que essas legítimas suspeições sejam esclarecidas, é crucial que o BNA explique publicamente que estão sanadas todas as matérias que coloquem em xeque a idoneidade de algum dos eventuais novos accionistas. E se, por hipótese, restarem receios sobre um ou outro accionista específico, será igualmente fundamental que o BNA se mostre disponível a esclarecê-las ao detalhe, com a transparência à altura das dúvidas. Afinal, nesta fase em que se propala a obrigatória verificação da licitude dos capitais que circulam na economia, e muito particularmente na banca, isto é mínimo que se exige a José de Lima Massano e à sua equipa.
Este tipo de exigências deve ser extensivo, aliás, com a mesma firmeza, a processos como o das privatizações dos activos do Estado. O desespero do Governo em desfazer-se de bens que pertencem aos angolanos – para ver as metas do Propriv menos definhadas – não pode justificar ‘desleixos’ quanto à transparência e à licitude dos recursos dos compradores. Porque a existirem perguntas incómodas, mais tarde ou mais cedo, serão feitas. Não haja dúvidas.
VE
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