Entre 2015 e 2021, generais afetos à Casa de Segurança da Presidência da República terão estado envolvidos na exploração ilegal de madeira no Cuando Cubango. A denúncia é feita pelas próprias autoridades da província.
A comunidade do Caiundo, a 135 quilómetros da cidade de Menongue, está preocupada com a devastação das florestas na região e decidiu pôr fim a anos de silêncio.
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Segundo Fernando Dumbo, chefe do posto fluvial da capitania no Caiundo, em 2015, grupos estrangeiros vieram para a região e começaram a cortar madeira de forma descontrolada, alegadamente com a anuência de militares angolanos de alta patente.
Logo à partida "houve um erro em relação à exploração de madeira neste território", afirma Fernando Dumbo. "O erro foi do próprio Estado. Faltou o controlo."
Durante dois anos, "nem os administradores tinham poderes para reclamarem. Quando mandavam parar [os camiões], para identificar [a mercadoria], eles não aceitavam porque [a carga] era do general fulano."
Domingos Ndedica, chefe do departamento provincial do Instituto de Desenvolvimento Florestal, confirma o envolvimento de militares de alta patente na exploração das matas entre 2015 e 2021.
"Nos anos passados, a madeira não era controlada porque havia aquela questão de respeito... Parecia que, em Angola, quem tinha voz de mando só era general, e quando o general manda, manda! Ninguém mais poderia dizer que não!"
Segundo o responsável, as empresas chinesas que cortavam a madeira "estavam ligadas à Casa Militar, mas neste momento já não existem". Hoje já "ninguém está acima da lei", refere Ndedica - se as empresas não apresentarem documentos legais, a madeira é apreendida.
A DW África solicitou uma entrevista junto à Secretaria do Presidente da República para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa para falar sobre o alegado envolvimento de generais no corte ilegal de árvores. Até ao momento da publicação desta reportagem não obteve respostas.
Desde janeiro, a Polícia Nacional apreendeu quatro carregamentos de madeira. A carga foi revertida para o Estado e as empresas foram multadas.
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Com uma área de quase 200 mil quilómetros quadrados, o Cuando Cubango é a segunda maior província de Angola e tem florestas exuberantes com vários tipos de madeira.
O ambientalista Osvaldo Bartolomeu alerta que a exploração desordenada continua: "Nem todas as empresas cumprem com as práticas de corte seletivo. Elas entram para a mata e cortam tudo o que é árvore", lamenta.
Bartolomeu cita os impactos da devastação das florestas: "Ainda estamos a ver algumas zonas onde não há vegetação. Fazem o corte e deixam a céu aberto, não há um retorno da empresa à natureza que lhes deu aqueles recursos. É por isso que estamos a verificar em alguns locais o despovoamento de algumas espécies faunísticas."
Tudo isso terá implicações para as gerações vindouras, lembra o estudante Benito Cassanga Kapolo, residente no Caiundo.
"A exploração de recursos florestais aqui na comuna é considerada um instrumento útil para os lucros de hoje, mas as comunidades locais não são respeitadas, nem a própria natureza", diz.
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