Salas Neto, 61 anos, jornalista-em-chefe e escritor (cronista). Adepto dos «irmãos cambutas» desde muito cedo, em 1968, aos oito anos, por influência do padrastro, que foi um importante preso político, teve participação activa na luta clandestina e resistência aos colonos portugas, numa gesta em que perderia o olho direito aos 11, em resultado duma refrega desigual com dois rapazolas brancos delinquentes na Terra Nova, em Março de 1971,incidente reportado pela imprensa da época. É sobrevivente, na Jota, do selectivo «movimento de rectificação» de 1980, quando, ao contrário do que acontece agora, em que a filiação é totalmente aberta, não era do partido quem quisesse, mas sim e apenas quem merecesse, como defendiam os guardiões do templo de então. Tem como último «domicílio partidário» oficial o falecido CAP 63 do comité municipal (agora distrital) do Rangel, que funcionava numa varanda da casa do camarada Cabral, ali nos fundos da capela de Fátima, paredes meias com o velho campo de São Paulo. Actualmente, é uma espécie de militante independente, à espera de colocação, não mais no comité central, mas já só no bureau político, modéstia à parte.
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Pelo histórico, é muito natural que possa ter desenvolvido um sentimento especial de pertença com o partido. De tal sorte, que, brincando a sério, costuma dizer: «Eu não sou do MPLA. Eu sou o MPLA!». Portanto, ainda que às vezes pareça distanciado ou mesmo já fora dele (pelo tom muito cáustico da crítica), certo mesmo é que se trata apenas de mera impressão, pura ilusão de óptica.
Daí que esteja particularmente preocupado com a atabalhoada e confusa movimentação que se diz perseguir a pretensa realização das primeiras eleições democráticas no seio do MPLA, nomeadamente para os cargos de presidente e primeiros secretários provinciais, num grandioso espectáculo circense, com eventuais repercussões desastrosas para a imagem do partido, que já não anda nada boa, sejamos honestos, em razão de outras grandes penalidades que se tem cometido.
Ora, desde logo, não havendo qualquer tradição democrática, parece-me completamente impossível que o partido consiga organizar em pouco mais de mês e meio de preparação um processo eleitoral dessa matiz com um mínimo de idoneidade, imparcialidade e credibilidade, que exige também uma certa «desmatação» das mentes como pressuposto fundamental, sendo algo que nunca experimentou ao longo dos seus 60 anos de existência, quase todos sob ideais e hábitos funcionais que terão mais a ver com autoritarismos, coisos e tal
. A confusão é tanta que, por exemplo, continua a passar uma propaganda na rádio a falar da conferência provincial de Luanda a 30 deste mês, para renovação de mandatos, com o camarada Bento Bento como «candidato do partido», quando já se disse que a eleição de todos ocorrerá no congresso, sendo que a campanha eleitoral ainda não começou. Não obstante, a camarada Mara Kioza já a começou ontem, como deu a entender a propaganda passada no noticiário da rádio nacional, que a apresentou como a candidata para o Bengo com «apoio incondicional do partido».
Bem entendido, o próprio discurso oficial sobre a existência de «candidatos com apoio incondicional do partido», incluindo o caso do presidente João Lourenço, nada tem de democrático, por desaconselhar a candidatura de quem não pode contar também com o «apoio incondicional do partido», sob o compreensível temor de vir a ser considerado como um puro inimigo da agremiação. Assim, não será de espantar que para todos os postos venham a concorrer apenas os «candidatos naturais» de sempre, o que será muito anedótico. Mas, se calhar mais ainda, caso venham a surgir pretendentes manifestamente da pimpa.
Daí que defenda que, para que esse atrapalhado ensaio democrático do MPLA não venha a constituir-se num forte motivo para o partido vir a ser alvo da chacota geral, sobretudo nas redes sociais, onde dói bué, como tudo indica que sim, o melhor seria adiá-lo para 2026, havendo todo o tempo do mundo para a devida preparação.
Afinal, para falar verdade, mais um congresso com candidato único, não nos fará mal algum. Quer dizer, contando que seja o último. O meu amigo António Venâncio que me desculpe, mas esta é a minha opinião. Etu mu dietu, que a previsível chacota geral pode doer muito mais, sendo que o partido fundador da nação angolana se devia dar mais respeito a si mesmo e não nos levar como que para um recuo civilizacional, parafraseando o coiso. A luta continua!
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