Mais de 500 famílias que as casas de chapa queimaram são abandonadas pelo governo



Mais de 500 famílias, do Bairro do Povoado/Cabo Ledo, no distrito urbano da Samba, município de Luanda, continuam ao relento cinco dias após o incêndio de grandes proporções que destruiu 144 casebres na noite da passada quarta-feira,28, de Julho.

Uma fonte da Comissão Administrativa da Cidade de Luanda (CACL) assegurou que este órgão já trabalha na localização de um espaço seguro para realojar as vítimas do incêndio.




Os desalojados garantem que não receberam nenhuma informação sobre o realojamento por parte da Comissão Administrativa da Cidade de Luanda nem do Governo Provincial de Luanda, e dizem que a CACL tem enviado para o local apenas 400 refeições para as crianças sinistradas, o que consideram não ser suficiente.


A comissão de moradores garante que há cerca de 840 crianças que estão agora ao relento e a precisar de ajuda.


Também ao relento estão, para além das crianças, 15 mulheres em estado de gestação, verificou o Novo Jornal no local, onde constatou que estas famílias enfrentam igualmente grandes dificuldades relacionadas com a alimentação e o saneamento.


Talita Miguel, a coordenadora da comissão de moradores, contou que as noites têm sido de terror, sobretudo quando os efectivos da Polícia Nacional abandonam o local.


"A polícia tem estado aqui apenas algumas horas durante a noite. Não ficam aqui 24 sobre 24 horas, e quando se vão embora sentimo-nos desprotegidos porque não sabemos quem entra ou quem sai", assegurou.


Conforme a coordenadora, as famílias estão agora sujeitas a contrair o vírus da covid-19, porque estão expostas à pandemia.


"Por conta do desespero, as pessoas não obedecem às normas de distanciamento social e isso nos torna vulneráveis ao vírus", disse.


Questionada se há famílias que não foram atingidas pelo incêndio a infiltrar-se no seio das atingidas para tirarem proveito da situação, Talita Miguel garantiu não haver essa possibilidade porque as pessoas estão organizadas e cadastradas há anos.


Os sinistrados queixam-se também da falta de apoio das autoridades de saúde que ainda não se fizeram presentes no local para prestar ajuda médica aos doentes que aí se encontram.


Os moradores convivem com os mosquitos e outros insectos rastejantes e voadores, fazem as necessidades maiores em baldes e em sacos que depois são, por falta de alternativa, atirados ao mar, na zona de pesca, sendo que a pesca é o sustento da maioria das pessoas que ali vivem.


O Povoado, também conhecido por Cabo Ledo, está localizado na zona costeira do morro da Samba, nas proximidades do bairro da Coreia, na nova Marginal de Luanda. Apesar de ser um único espaço, as desavenças entre os habitantes fizeram com que o bairro fosse dividido por uma pequena vala, que ambos os lados usam como casa de banho. É daí que vem o facto de o mesmo bairro ter dois nomes: Povoado e Cabo Ledo.


Em Novembro do ano passado, o Novo Jornal constatou no local que os moradores aguardam pelo realojamento prometido pelo GPL há vários anos. Enquanto esperam, as mais de 600 famílias vivem em condições de miséria absoluta.


Sobre o assunto, o Novo Jornal contactou a Comissão Administrativa da Cidade de Luanda (CACL), tendo uma fonte desta instituição garantido que esta segunda-feira, 02, uma equipa da CACL se deslocou ao município do Ícolo e Bengo para encontrar um espaço seguro para realojar as vítimas do incêndio.



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