ISAÍAS CASSULE, líder do Movimento Patriótico Unido - José Gama In Memorium



Se as autoridades angolanas  não o tivessem lançado ao rio com jacarés, teria completado ontem (25 de Agosto) 42 primaveras.  Isaías Sebastião Cassule foi um destacado activista político angolano que ao longo da sua carreira já esteve preso por mais de seis vezes, por motivações politicas. A última detenção foi a 29 de Maio de 2012, para nunca mais ser visto. 

Isaías Sebastião Cassule nasceu no seio de uma família humilde da província do Bengo, que mais tarde se mudou para Luanda, instalando-se concretamente no município do Cazenga. Aos 17 anos  de idade inscreveu-se nas Forças Armadas Angolanas (FAA), mas sem no entanto ter concluído a recruta. Ao longo da sua vida já trabalhou como protecção física, numa empresa de segurança privada, a Provigi.


 



Era reconhecido com um activista firme, com sentido de liderança, mas também apaixonado pela política e as vezes resoluto.


A ENTRADA PARA VIDA POLITICA E A PERCA DO EMPREGO


No ano de 2000, tinha ainda oitava classe feita quando decidiu que deveria participar directamente na política.  Aderiu o extinto Partido de Apoio Democrático e Progresso de Angola (PADEPA) passando a fazer parte do comité municipal do Cazenga. Ganhou simpatia da direcção deste partido e rapidamente fizeram dele membro da comissão política nacional, e do comité central.


 


Nesta altura, Isaías Sebastião Cassule trabalhava numa padaria nos arredores do bairro São Paulo, em Luanda, mas acabaria por perder o emprego em detrimento das actividades partidárias que estariam a lhe consumir muito  tempo.  


 


Enquanto activista político,  encabeçou, uma manifestação realizada em Outubro de  2004, pelo PADEPA, em frente da Embaixada  americana em Luanda de que resultou na detenção de seis dos  60 participantes. A finalidade da manifestação era exigir pressão de Washington sobre as suas multinacionais petrolíferas para que divulguem os seus pagamentos ao governo angolano.


 


Noutro tempo, participou em outras manifestações e foi detido por fazer parte de um grupo de militantes do PADEPA que borrou com escritas politicas as paredes da ponte que se situa, no perímetro da embaixada portuguesa.


Isaías Cassule e os seus colegas eram apologistas de que no decorrer das manifestações, deveriam deixar-se prender em bloco/grupo para que as suas prisões servissem  de chamada de  atenção a comunidade internacional e de seguida expôr o  lado  anti-democrático do então  regime do Presidente José Eduardo dos Santos.  


Estavam instruídos que quando  fossem a uma manifestação ninguém deveria andar sozinho ou seja deveriam sempre estar em grupos de três, como prevenção da perseguição das autoridades policiais.


 


Naquele altura, ele e os seus colegas do extinto PADEPA tinha um chamado “manual das manifestações” que era inspirado de um outro, que fora cortesia da Juventude Social Democrática (JSD) de Portugal.


 


O SEU PAPEL NA CRISE INTERNA DO PADEPA


 


Há  15 de Outubro de 2007,  Isaías Cassule seria um dos promotores do desalojamento da facção do antigo presidente do PADEPA, Carlos Leitão, quando aquele queria fazer uma reunião no museu de História Natural para anunciar a expulsão do então SG, Silva Cardoso e de outros membros. 


 


Cassule comandou um grupo de 70 elementos que se confrontaram  com os seus opositores internos. Ele partiu os vidros da viatura (toyota furtuner) de Carlos Leitão, que achava ter sido oferta do  regime angolano.


 


No momento em que pretendia tear fogo na viatura, ele foi levado pela polícia que considerou aquela acção de bastante perigosa, sobretudo por ter resultado em dois feridos, dentre eles Ernesto Mukuaseno, ex-secretário provincial do Moxico, que ficou em coma.


 


CANDIDATO A DEPUTADO AS ELEIÇÕES DE 2008


 


Em 2008, a nova direcção do PADEPA fez de Isaías Cassule , o seu secretário provincial do Bengo, tendo criado, em simultâneo,  condições que o levaram a viver entre Luanda e Caxito.


Na véspera da campanha eleitoral daquele ano, Cassule era o cabeça de lista pelo circulo provincial do Bengo. Certo dia foi detido por três dias, quando fazia campanha partidária de porta-porta. Foi solto após o seu advogado Luís Nascimento ter convencido o Procurador do processo de que se tratava de um candidato a deputado a Assembleia Nacional e que nestas condições gozava  de imunidade.


 


Com a extinção do PADEPA, Isaías Cassule entendia que deveria continuar na política. Alguns dos seus ex-colegas aderiram a Nova Democracia, coligação ao qual rejeitou aderir por alegadas inoperâncias e conotações ao regime.  Ao mesmo tempo estabeleceu contactos com o Bloco Democrático, partido ao qual ajudou na recolha de assinaturas em cerca de quatro províncias para a inscrição desta formação política junto ao Tribunal Constitucional. 


 


A CRIAÇÃO DO MOVIMENTO PATRIÓTICO UNIDO


 


A ideia dele seria, num momento próprio manifestar apoio explícito ao BD, ao que não aconteceu. Isaías Cassule juntou algumas correntes politicas dispersas e fundou o Movimento Patriótico Unido. Chamou também para trabalhar consigo, no MPU, o ex-secretário comunal do extinto PADEPA, no Cazenga, Alberto Santos, que seria testemunha do dia em que foi raptado pelas autoridades angolanas.


O MPU de Isaías Cassule funcionava como uma iniciativa cívica na  qual pretendia transforma-la, no futuro, em partido político.


A 17 de Abril de 2012, o MPU de Isaías Cassule escreveu uma carta ao Governo Provincial de Luanda comunicando que iriam realizar uma manifestação pacifica para o dia 27 de Maio, nas mediações do palácio presidencial, em solidariedade aos ex-militares da UGP, integrados na Brigada Especial de Limpeza (BEL) e na Brigada de Construção e Obras Militares (BCOM).


 


O MPU, dizia na carta que até ao dia 15 de Maio, não tivessem resposta exacta da direcção da Casa Militar, iriam realizar a manifestação na data e local previsto para exigir que o Presidente da República se pronuncia-se sobre a situação.


 


CONTACTOS COM O GOVERNADOR DE LUANDA


 


Ao tomar conhecimento do assunto, o então governador provincial de Luanda, Bento Francisco Bento, através de um dos seus homens de confiança Junior Mauricio "Tcheu" moveu diligencias junto de um operativo do SINSE, Benilson da Silva  que era conhecido de Isaías Cassule. Os contactos eram destinados a  persuadi-lo a desistir da realização da manifestação, em frente ao palácio presidencial.  Bento Bento, foi na altura citado como tendo   dado 10 mil dólares norte-americanos, para persuadir Isaías Cassule,  porém, o seu homem de confiança  apenas entregou o valor incompleto correspondendo a 2 mil dólares.


No dia previsto para realização da manifestação, o líder do MPU, Isaías Cassule não apareceu ficando se por se saber se a sua ausência deveu-se ao aliciamento por parte do governador  de Luanda.


A manifestação também não chegou de acontecer porque as autoridades começaram a desperdiçar os manifestantes já nos arredores da cidade. Um membro do MPU, Silva Alves Kamulingue, foi raptado e executado no dia 27 de Maio por elementos do SIC  disponibilizados pelos comandantes António Pedro Amaro Neto  (SIC) e Dias do Nascimento Fernando Costa (PN).  


DO RAPTO AO ASSASSINATO


Isaías Cassule, o líder do MPU, mostrou-se preocupado  tendo feito contactos com a classe política angolana no sentido de denunciar a prisão de Alves Kamulingue. No dia 29, do mesmo mês recebeu uma chamada telefónica do Benilson da Silva, agente do SINSE infiltrado no movimento revolucionário  que lhe fez crer que tinha consigo um vídeo em que se podia ver Alves Kamulingue a ser levado por militares.


Ao cair da noite  deste dia, Isaías Cassule e Alberto António Santos, foram ter ao encontro de  Benilson da Silva , nas mediações do fontenário da escola Angola e Cuba do Cazenga. Ao chegarem no local, o  agente Benilson da Silva pegou-lhe no braço e logo a seguir foram cercados por outros cinco elementos, dentre os quais Junior Mauricio, o homem de confiança de Bento Bento. Alberto Santos, escapou tendo chegado a casa com o vestuário rasgado.


Isaías Cassule foi levado numa suposta carrinha do GPL e terá perdido a vida dias após ao seu rapto. Foi alvo de excesso de tortura. Terão também lhe colocado um saco na cabeça que o terá provocado  asfixia. Depois de morto foi jogado aos jacarés, no rio Dande, na província do Bengo.


Em tribunal,  Junior Mauricio do Comité do MPLA de Luanda revelou que aquela operação foi comandada pelo general  José Filomeno Peres Afonso “Filó”, da Inteligência  Militar.



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