Uma vez mais a Casa de Segurança da Presidência da República (CSPR) é citada como estando envolvida em mais esquemas criminosos em detrimento do país. Desta feita, oficiais generais a ela ligados estão a ser acusados de envolvimento na exploração ilegal de madeira
A comunidade do Caiundo, a 135 quilómetros da cidade de Menongue, está preocupada com a devastação das florestas naquela região e decidiu pôr fim a anos de silêncio.
Entre 2015 e 2017, generais afectos à Casa de Segurança da Presidência da República estão a ser acusados de estar envolvidos na exploração ilegal de madeira no Cuando Cubango. A denúncia é feita pelas próprias autoridades da província.
Segundo Fernando Dumbo, chefe do posto fluvial da capitania no Caiundo, em 2015, grupos estrangeiros vieram para a região e começaram a cortar madeira de forma descontrolada, alegadamente com a anuência de militares angolanos de alta patente.
Logo à partida “houve um erro em relação à exploração de madeira neste território”, afirma Fernando Dumbo. “O erro foi do próprio Estado. Faltou o controlo.”
Durante dois anos, “nem os administradores tinham poderes para reclamar. Quando mandavam parar (os camiões), para identificar (a mercadoria), eles não aceitavam porque (a carga) era do general fulano”.
Domingos Ndedica, chefe do departamento provincial do Instituto de Desenvolvimento Florestal, confirma o envolvimento de militares de alta patente na exploração das matas entre 2015 e 2017.
“Nos anos passados, a madeira não era controlada porque havia aquela questão de respeito… Parecia que, em Angola, quem tinha voz de mando só era general, e quando o general manda, manda! Ninguém mais poderia dizer que não!”
Segundo o responsável, as empresas chinesas que cortavam a madeira “estavam ligadas à Casa Militar, mas neste momento já não existem”. Hoje já “ninguém está acima da lei”, refere Ndedica – se as empresas não apresentarem documentos legais, a madeira é apreendida.
Desde janeiro, a Polícia Nacional apreendeu quatro carregamentos de madeira. A carga foi revertida para o Estado e as empresas foram multadas.
Com uma área de quase 200 mil quilómetros quadrados, o Cuando Cubango é a segunda maior província de Angola e tem florestas exuberantes com vários tipos de madeira.
O ambientalista Osvaldo Bartolomeu alerta que a exploração desordenada continua: “Nem todas as empresas cumprem com as práticas de corte selectivo. Elas entram para a mata e cortam tudo o que é árvore”, lamenta.
Bartolomeu cita os impactos da devastação das florestas: “Ainda estamos a ver algumas zonas onde não há vegetação. Fazem o corte e deixam a céu aberto, não há um retorno da empresa à natureza que lhes deu aqueles recursos. É por isso que estamos a verificar em alguns locais o despovoamento de algumas espécies faunísticas”.
“Tudo isso terá implicações para as gerações vindouras”, lembra o estudante Benito Cassanga Kapolo, residente no Caiundo.
“A exploração de recursos florestais aqui na comuna é considerada um instrumento útil para os lucros de hoje, mas as comunidades locais não são respeitadas, nem a própria natureza”, diz.
A DW África solicitou uma entrevista junto à Secretaria do Presidente da República para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa para falar sobre o alegado envolvimento de generais no corte ilegal de árvores. Até ao momento da publicação desta reportagem não obteve respostas.
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