Projecto Angola Online quase sempre em offline

 


Apenas o Cazenga pode dizer que tem internet de borla, fornecida pelo 'Angola Online. O projecto debate-se com várias dificuldades, entre as quais a falta de energia e a falta de manutenção. Está muito longe a meta de fornecer net.


“Já não funciona”, “está inactiva” e é “muito lenta”. São estes os comentários que se ouvem de moradores e de utentes sobre os pontos onde está disponível o projecto ‘Angola Online’. A iniciativa foi lançada há sete anos e tinha, como objectivo, criar pontos de acesso público e gratuito à internet em diversos locais em todo o país.


Uma ronda feita pelo Valor Económico deu para constatar que a maioria dos pontos de distribuição, em Luanda, está inactiva e, entre os activos, o acesso é lento. Há outros em que as placas que sinalizavam a presença do projecto já não estão disponíveis.



O Instituto Nacional de Fomento da Sociedade da Informação (Infosi), que gere o projecto, justifica as dificuldades com a crise económica, a pandemia e ainda com problemas no fornecimento de energia eléctrica.


Na Casa da Juventude de Viana, por exemplo, há uma placa que não funciona “há vários meses”, informa um dos trabalhadores. Algumas pessoas que estavam no local nem sabiam a utilidade da placa do ‘Angola Online'.


Na Praça da Família, no centro de Luanda, ninguém sabia da existência do 'Angola Online' e nem se havia algum ponto de distribuição. Todas as tentativas para localizar ou encontrar alguém que conhecesse o ponto de distribuição foram em vão. O endereço IP, ou protocolo de internet, estava indisponível. No IMIL (Instituto Médio Industrial de Luanda) Makarenco, o sinal funciona, mas “é bastante lento e quase ninguém usa”, informaram alguns alunos.


No Largo do Primeiro de Maio, o endereço IP nem sequer estava disponível. O mesmo no Largo das Escolas. Aliás, neste ponto de distribuição não havia a placa e ninguém sabia da existência de  um ponto de distribuição do projecto.


No Parque da Igreja São Domingos, a placa do 'Angola Online' é bem visível, mas não se consegue obter o endereço IP. O mesmo acontece com os pontos da Igreja Sagrada Família e com o do Parque Recreativo da Samba. Neste último, a placa foi vandalizada e mostra sinais de falta de fiscalização.


No CNTI, no pátio da Faculdade de Letras, estudantes garantem que já há vários meses que o sinal está inactivo e nem sabem as razões. Ninguém deu qualquer explicação. Um grupo de estudantes, do curso de engenharia, explicou que, nos tempos, em que o sinal estava funcional, apesar das “inconstâncias” e da “internet ser 'gato' (jargão que significa mau ou ruim) já dava um jeito ter algo gratuito para pesquisar trabalhos académicos ou para diversão".


Cazenga, um caso de sucesso


Cazenga possui os únicos pontos de distribuição de internet, do projecto 'Angola Online' que têm funcionado. O Valor Económico constatou, que neste município, existem três pontos que funcionam em alguns períodos do dia. No Marco Histórico,  o serviço está sempre operacional e os utilizadores têm até duas horas diárias de internet gratuita. Ainda no Cazenga, nas duas ruas localizadas em frente à administração também há serviço gratuito de internet. Uma moradora explica que já houve vários pontos de distribuição em diversas ruas, mas que actualmente apenas duas ruas mantêm os serviços a 100%. “Na minha rua e na minha própria casa tinha um ponto de distribuição. O ano passado, em Fevereiro, retiraram o que estava na minha casa e em outras casas também. Disseram que era para arranjar. Mas até agora não devolveram. Já estávamos habituados. E agora não temos mais isso. Todos os dias tenho de me deslocar até a rua C para usar a internet”, conta a moradora que usa essencialmente a internet para frequentar as redes sociais e para pesquisar de vídeos de mecânica, já que sempre trabalhou como mecânica. Na rua C, a hora de melhor acessibilidade é normalmente das 12 às 16h, quando há menos gente a usar a internet. “Depois deste horário é só orar. A internet é lentíssima”, explica.


Energia e crise económica dificultam o projecto


A crise económica e as dificuldades no fornecimento de energia eléctrica têm dificultado o funcionamento do projecto.


O Infosi explica que o projecto continua "em andamento, apesar da conjuntura actual do país provocada pela pandemia da covid-19 e a crise económica que se vive e que afecta directamente todos os sectores da vida social nacional e internacional”.


O instituto assegura, no entanto, que o projecto tem funcionado “com normalidade”, apesar dos “constrangimentos normais que derivam da utilização massiva das redes disponíveis”, assim como os de “ordem técnica que vão surgindo e que têm sido prontamente corrigidos”.


O Infosi destaca como um dos principais constrangimentos técnicos a energia eléctrica que foi um compromisso assumido por parceiros do projecto (munícipes), que têm encontrado dificuldade em garantir o fornecimento e isso faz com resulte “nos desligamentos constantes dos equipamentos dependentes daquele fornecimento”. “É importante frisar que a identificação e instituição destes parceiros é uma característica dos projectos sociais desta natureza, pelo facto de que muitas das zonas que devem beneficiar-se dos serviços não juntarem todas as condições técnicas para o efeito, sendo o fornecimento de energia eléctrica fundamental para o pleno funcionamento do projecto”.


O Infosi tem tido conhecimento da vandalização de alguns pontos, mas assegura que tem mantido a inspecção periódica e o controlo remoto. “É de nosso conhecimento a vandalização de alguns pontos públicos de acesso, o que nos entristece. Projectos dessa natureza só serão bem-sucedidos com a plena participação de todos”.


Projecto para todo país


O 'Angola Online' foi inaugurado a 30 de Agosto de 2014.  É um projecto social e sem fins lucrativos. A ideia inicialmente era expandir a todo o país. Actualmente, 16 províncias têm pontos de acesso. Luanda é aquela que tem o maior número de pontos de distribuição. Zaire e Lunda-Norte ficaram de fora. Ao todo, são 125 pontos de acesso com excepção do Zaire e Lunda-Norte.


O projecto prevê que cada área ou ponto de acesso tenha capacidade de suportar 60 utilizadores, por cada duas horas, durante as 24 horas. Depois de terminado este tempo, o utilizador deixa de ter acesso para permitir a entrada de outros na rede.


O ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Manuel Homem, quando ainda era director director-geral do Centro Nacional das Tecnologias de Informação, revelou que o projecto dos 20 pontos em Luanda estava avaliado em aproximadamente 40 milhões de kwanzas. As 16 províncias poderiam ter até 130.368 utilizadores conectados em simultâneo.

Valor Econômico 



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