Muito pouco dado a encontros de concertação ou mesmo de cortesia com as lideranças de outras forças políticas representadas na Assembleia Nacional, na última quinta-feira, 01, o Presidente da República abriu uma excepção e escancarou as portas do palácio ao novo líder da CASA-Coligação Eleitora.
Manuel Fernandes sucedeu, em Fevereiro deste ano, a André Mendes de Carvalho “Miau”, que se demitiu do cargo uma semana antes. A demissão foi uma exigência de 4 dos 5 membros do Colégio Presidencial da Casa-CE. A rebelião contra Miau foi liderada por Manuel Fernandes.
Quinze dias antes de ser recebido no palácio presidencial, Manuel Fernandes vociferava impropérios contra a gestão do país.
“Eu estou a vir do interior (do país) e a fome, a miséria e a pobreza tomou conta da população. Há regiões como no município do Chongoroi (Benguela) onde há pessoas a comer ração animal (…)”.
Mas ele teve o cuidado de ilibar a actual liderança de Angola de qualquer responsabilidade sobre “a fome, a miséria e a pobreza tomou conta da população”. Para o líder da CASA-CE há fome, miséria e pobreza “porque os governantes, sobretudo da antiga administração do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, roubaram o país”.
Na quinta-feira, 1 de Julho, depois de ser recebido no palácio presidencial, Manuel Fernandes já parecia mais confiante no presente e futuro do país.
Disse ter encontrado no Presidente da República ouvidos abertos.
João Lourenço “tomou boa nota” das contribuições que ouviu. Pelo menos é com essa convicção que Manuel Fernandes saiu do palácio.
Desde que é líder da Casa – Coligação Eleitoral, Manuel Fernandes tem sido a voz mais crítica da projectada Frente Patriótica Unida, uma plataforma eleitoral que juntaria Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku e Justino Pinto de Andrade em oposição ao MPLA no próximo pleito eleitoral.
Marginalizado da iniciativa, por causa das suas conhecidas ligações ao partido governantes, Manuel Fernandes reagiu sempre como desdém e azedume à formação de uma putativa plataforma eleitoral congregando os rostos mais credíveis da oposição.
Recentemente, ele exprimiu cepticismo quanto ao surgimento da Frente Patriótica Unida.
Falando à TV Zimbo, Manuel Fernandes disse que “está a ser criado um falso elemento que não se vai concretizar, tendo em conta que o mesmo não cria uma nova coligação, mas sim a integração das forças políticas na lista da UNITA, com quotas para a sua acomodação”.
Raramente disponível para outros líderes partidários, João Lourenço não abriu as portas do palácio para somente ouvir de Manuel Fernandes o que constatou na sua recente digressão por algumas regiões do país.
Sobre a “fome, a miséria e a pobreza tomou conta da população o Presidente da República está mais do que informado.Ele não precisa do Manuel Fernandes para saber que em Chongoroi há pessoas a comer ração animal. Em todo o país há fome. O Presidente da República e do MPLA está tão ciente disso que autoriza o uso da sua imagem em camisolas de pessoas que agora transformam a fome numa arma política”, segundo disse ao Correio Angolense um observador.
Para esse observador, a ida de Manuel Fernandes ao palácio presidencial teve como objectivo único a concertação de uma aliança política.
O Correio Angolense soube de outra fonte que no encontro havido no palácio presidencial, Manuel Fernandes pediu ao seu homólogo do MPLA diligências para que a Casa Coligação Eleitoral ganhe mais um lugar na Comissão Nacional Eleitoral.
Correio Angolense não sabe se Manuel Fernandes deixou o palácio presidencial já com um novo assento na CNE “no bolso”.
Desde que ascendeu à liderança da Casa, Manuel Fernandes ganhou maior visibilidade nos órgãos de comunicação públicos. Até mesmo nas suas idas ao bairro Cazenga, onde nasceu, ele é seguido por equipas da TV Zimbo, TPA e Rádio Nacional de Angola.
São também indeléveis as impressões digitais de Manuel Fernandes na tramoia que culminou com o afastamento de Abel Chivukuvuku da Casa, uma coligação que ele próprio criou em 2012.
Com Manuel Fernandes no “solo” e Alexandre Sebastião André (Alex) no “contra-solo”, à CASA-CE juntar-se-ão Dinho Chingunji, Bela Malaquias e Mfuca Muzemba na “quinta coluna” com que o MPLA espera dispersar o voto. A quinta coluna conta, ainda, com o concurso do advogado David Mendes, a quem o MPLA incumbiu a tarefa específica de morder os calcanhares de Adalberto Costa Júnior.
A poucos mais de um ano das próximas eleições, pode dizer-se que a distribuição de tarefas no MPLA já vai bastante adiantada.
Correio Angolense
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