Onda de violência e pilhagens abalam a África do Sul



Continuaram esta terça-feira, pelo quinto dia consecutivo, as violências na África do Sul. De acordo com um último balanço das autoridades, pelo menos 45 pessoas morreram nos incidentes que eclodiram no final da semana passada depois do antigo presidente Jacob Zuma se entregar às forças da ordem para cumprir a sua pena de 15 meses de prisão. Apesar dos apelos à calma do governo e do envio de tropas para as zonas onde se registam os motins, a violência continua.


Segundo as autoridades, desde a passada sexta-feira, altura em que começaram os desacatos, pelo menos 26 pessoas morreram na província do Kwazulu-Natal, no leste do país, e outras 19 na zona urbana de Joanesburgo, uma parte substancial das vítimas tendo morrido esmagadas durante os movimentos de multidão nos centros comerciais, armazéns e outros estabelecimentos comerciais que foram literalmente tomados de assalto em algumas grandes cidades do país.



Perante esta situação, foi ordenado o envio 2.500 soldados para o Kwazulu Natal, onde começaram os incidentes, no intuito de reforçar a acção da polícia. Segundo Bheki Cele, ministro sul-africano do Interior, até ao momento, 757 pessoas foram presas, na sua maioria em Joanesburgo.


Os motins foram desencadeados no final da semana passada depois de o antigo Presidente Jacob Zuma se entregar às autoridades no intuito de cumprir a pena de 15 meses de prisão a que foi recentemente condenado pelo Tribunal Constitucional por ofensa à justiça ao recursar testemunhar sobre a corrupção que grassa no país e de que é considerado um dos principais protagonistas. Jacob Zuma que se viu forçado a demitir-se do cargo de presidente em 2018 devido ao avolumar das acusações contra ele, continua todavia popular junto de certas franjas da população e do seu partido, o ANC.


Ontem, ao dirigir-se à nação, o actual Presidente sul-africano considerou que apesar de as "frustrações e raiva" expressas terem "raízes políticas", "nenhuma causa pode justificar" a violência. Também na óptica de José Gama, jornalista angolano baseado em Pretória, o que começou por ser um movimento de reivindicação política, está agora a resvalar para saques e pilhagens, sinais de um mal-estar mais profundo.


"Há um grupo de cidadãos que está a fazer aproveitamento da prisão do antigo presidente Jacob Zuma. Estas pessoas estão a sair à rua, a partir montras, lojas, camiões. Nota-se que estas pessoas estão desocupadas. Isso indica que são pessoas que não trabalham", observa o jornalista referindo que "ontem, foi divulgada uma estatística do Banco Mundial dizendo que a África do Sul estava com uns níveis de desemprego nas duas últimas décadas a 20% e que, no primeiro semestre deste ano, passou para 36%. Com a situação da covid-19, muita gente perdeu o emprego."



Para José Gama, "as pessoas estão a sair à rua, numa forma de mandar uma mensagem que estão desempregados. As pessoas estão a ir para os centros comerciais, roubar comida. Nenhuma dessas pessoas que estão a 'manifestar' está reclamar a soltura do antigo presidente Zuma. Ninguém, por exemplo, está a atacar tribunais nem a manifestar em frente de instituições do Estado".



Refira-se que ontem, conforme anunciado há uma dezena de dias, o Tribunal Constitucional tornou a examinar a sua decisão de condenar o antigo Presidente de África do Sul, 79 anos, a 15 meses de prisão efectiva. O veredicto deve ser conhecido numa data ainda por determinar.

Confrontado com a corrupção galopante das suas classes dirigentes, um fenómeno de que Jacob Zuma se tornou um dos símbolos na África do Sul, este país está também e sobretudo confrontado com níveis de pobreza e de desemprego importantes.


Segundo dados oficiais, mais de 7 milhões de pessoas estão sem trabalho na África do Sul, sendo que a taxa de desemprego, acima dos 30%, progrediu nos primeiros meses deste ano, devido à crise gerada pela pandemia.


Com mais de 64 mil óbitos devido ao coronavírus, a África do Sul registou até agora mais de 2 milhões de infecções, ou seja 37% do total das contaminações do continente, sendo que a sua campanha de vacinação iniciada em Fevereiro abrangeu até agora apenas 4,2 milhões de pessoas sobre uma população de cerca de 59 milhões.


RFI



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