Foi há 15 anos e o projecto, submetido à apreciação do então ministro dos Transportes aquele que mais anos esteve nessa pasta, designava-se por METROLUA.
Num dos últimos actos do seu longo, tortuoso e controverso consulado, André Luís Brandão logrou travar o empreendimento, que se pretendia materializar numa PPP (parceria público-privada).
Havia sido proposto em 2006 por um consórcio de bancos e empreiteiros portugueses, em que se incluiam o Millenium BCP e a Caixa Geral de Depósitos, bem como as construtoras OPCA e a Teixeira Duarte.
Apesar da sua conhecida propensão para dar guarida a projectos megalómanos, André Brandão recebeu a proposta lusa e, depois de a analisar, engavetou-a simplesmente até à data em que foi exonerado, em Abril de 2008.
Assim, Brandão não embarcou naquilo que lhe pareceu segundo disseram fontes do Semanário Angolense, que na época escreveu profusamente sobre o assunto -- "um projecto aventureiro e de difícil exequibilidade no curto prazo".
"Nas circunstâncias e constrangimentos com que Luanda actualmente se confronta, um empreendimento como esse, em vez de melhorar, poderia complicar ainda mais a vida de todos:
Governo e cidadãos", sentenciara na altura um técnico do sector a quem o SA pedira uma avaliação dos prós e contras do projecto.
O METROLUA comportaria 5 linhas e era para ser executado no prazo máximo de 3 anos. Havia no horizonte as eleições de 2008.
Desta vez perfilam-se as eleições gerais de 2022. E tirando os protagonistas envolvidos, a conversa parece a mesma no novo projecto de construção de uma rede de metropolitano para Luanda, que por estes dias está a provocar o maior brado por entre a opinião pública do país.
A pergunta que por ora se pode fazer é: será que as objecções colocadas por André Luís Brandão já estão dissipadas?
Pouco depois de findar o seu consulado como um dos 'ministros especiais' da era eduardina, foi chamado a fazer parte da corte do palácio. Sim, André Luís Brandão foi secretário de José Eduardo dos Santos para as Contratações Públicas.
Nesse cargo supõe-se que terá lidado e interagido não apenas com o seu sucessor no Ministério dos Transportes, Augusto Tomás, como também com o sucessor do seu sucessor. Sim, o actual titular da pasta dos transportes, Ricardo de Abreu, foi secretário de JES para os Assuntos Económicos e, nessa condição, teve de interagir com André Brandão, com o qual trabalhava paredes-meias.
Acredita-se que terão, no mínimo, trocado impressões sobre a ideia de construção de um metro para Luanda, algo que não poderá ter caído do céu nem incubado somente num par de anos.
Está aí uma sugestão de pauta para os jornalistas: entrevistar André Luís Brandão, onde quer ele esteja presentemente. Decerto, terá muita coisa interessante para nos revelar.
Em Abril de 2008, as ondas de choque da exoneração de André Luís Branďão (aquele que também era conhecido por 'Ho Chi Min' e 'Câmara Lenta') ainda não se tinham dissipado. A sociedade continuava a fazer contas às "baldas" de um consulado manifestamente mau quando, num dos subúrbios de Luanda, um cidadão muito espirituoso escreveu numa parede o seguinte: "Tiraram o ministro bardão"! O grafitti traduzia bem como a imagem daquele governante havia batido no fundo. Mas num aspecto a sociedade tinha de lhe fazer justiça: vetara um projecto de metropolitano por considerá-lo megalómano e difícil de ser realizado no contexto angolano da época, que de lá para cá pouco ou nada mudou.
Severino Carlos
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