JOÃO PINTO (Deputado do MPLA) – “Estou chocado. Não te podem tratar assim, Severino Carlos. És o que se pode chamar um filósofo neste país. Homem de sabedoria.”
Assim reagiu o conhecido deputado do MPLA quando, em Outubro de 2010, telefonou-me para saber o que estava a acontecer no Semanário Angolense. Soavam nessa altura os ecos da minha autodemissão da direcção do jornal privado de maior referência do país naquela época.
De facto, fui eu próprio a dirigir-me para a porta de saída. Vi-me sem condições de prosseguir depois de um episódio flagrantemente revelador de que os novos patrões não me queriam à frente da publicação. Mas também a prova provada dos métodos cavilosos a que o ‘regime’ faz recurso para tirar da cena os jornalistas que julga serem seus inimigos.
Acordei um dia desses com um telefonema da secretária administrativa da Média Investe, empresa que adquirira o título, e ela dizia-me: “Sr. Severino, o seu salário foi depositado. Consulte a sua conta no banco, por favor.”
Tratava-se do primeiro salário que receberia após a venda da publicação. Dirigi-me ao banco e qual não foi o meu espanto ao constatar que os novos patrões me tinham reduzido o salário.
Apesar de ter sido promovido a director, eles tiveram o desplante (melhor, sadismo) de pagar-me menos do que aquilo que já auferia quando estava no cargo de editor-chefe e de política, antes da venda do título. E fizeram-no sem consenso nem negociação comigo.
Conclusão: estava diante de um subtil e indirecto despedimento, algo que o próprio João Pinto, deitando mãos aos seus conhecimentos como jurista, confirmaria na conversa que comigo manteve.
Restando-me um pingo de dignidade na cara, tive efectivamente de sair pelo meu próprio pé.
Volvidos alguns meses desse episódio, recebi outro telefonema. Desta feita, de Abel Chivukuvuku, na condição de dirigente e deputado da UNITA, pois ainda não fundara a CASA-CE.
ABEL CHIVUKUVUKU – “Mas, então, amigo Severino Carlos, o que aconteceu? Porque te tiraram assim da cena da comunicação social do país?”
E tal como fizera com o político do MPLA, também a ele (Chivukuvuku) contei as manigâncias envolvidas na estória de um despedimento indirecto.
Após isso sobrevieram-me anos “atípicos”, praticamente fora das redacções que contem, exceptuando uma fugaz passagem pelo ‘Correio Angolense’, que tem uma estória à parte.
Um ciclo basicamente de comunicação e marketing institucional, durante o qual, a despeito da estranheza que isso constituia, procurei dar o meu melhor em termos profissionais.
Seja como for, foi coisa muito estranha e que não classifico de mera coincidência. Avaliem pelas ilustrações.
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