Dos 24.698 milhões de kwanzas correspondentes a sua quota financeira mensal estipulada pelo Ministério das Finanças, a instituição apenas recebe 400 mil kz, valor que considera ″irrisório.
Sobre o assunto, o Ministério da Saúde remeteu-se ao silêncio quando contactado por este jornal a pedir esclarecimentos. Esta é a segunda vez que o MINSA se remete ao silêncio quanto ao assunto.
Entretanto, o pessoal administrativo e funcionários da Cruz Vermelha de Angola (CVA), em todo o território nacional, está há 19 meses sem salários, situação que deixa milhares de voluntários também sem receber subsídios.
Simão Caquarta, secretário-geral da Cruz Vermelha de Angola, em declarações ao Novo Jornal, afirmou que a situação gera desconforto no seio da associação e diz não perceber quais as razões que levam o MINSA a atribuir apenas estas verbas à CVA, explicando que o valor aprovado no último Orçamento Geral do Estado até é já superior aos actuais 24,6 que o MINFIN entrega mensalmente ao MINSA para a Cruz Vermelha.
"Infelizmente só recebemos do MINSA 350 a 400 mil kz, mês, para cobrir as nossas despesas correntes em todo o País. Isso não chega para nada", disse.
Segundo o secretário-geral, repartindo pelas 18 províncias os 400 mil kz, cada secretariado receberá apenas entre 19 e 22 mil.
"O que não chega sequer para pagar a água e a luz eléctrica", lamentou.
De acordo com Simão Caquarta, a CVA precisa de 373 milhões para cobrir os 19 meses de salário em atraso.
Questionado sobre a resposta que recebem do MINSA, Simão Caquarta disse não receberam qualquer resposta do pelouro de Sílvia Lutukuta.
Entretanto, este responsável adiantou que apenas tem o conhecimento de que o Ministério das Finanças (MINFIN) cabimenta os valores da Cruz Vermelha de Angola ao Ministério da Saúde (MINSA), explicando que já solicitaram a desanexação, mas sem sucesso porque o MINSA não aceitou.
"Estamos amarrados a isso. Mas trabalhamos para olharmos para aquilo que é o desenvolvimento organizacional da CVA, o que não é fácil", contou.
Entretanto, o secretário-geral salientou que estão numa luta titânica para poderem perceber, de facto, o que se passa com os dinheiros da CVA.
"Temos problemas com os funcionários e as suas famílias. Há pessoas a morrer, outras a adoecer. As nossas esposas trabalham nos mercados, os nossos filhos já não estudam", explicou.
Sobrevivemos de algum apoio internacional e de ajudas de parceiros, trabalhamos no combate à Covid-19, e continuamos presentes em todo o território nacional, afirmou.
"Infelizmente, as ajudas e apoio que recebemos não são para pagamento de salários, mas sim para trabalhar nas questões humanitárias, sobretudo no combate ao coronavírus.
Em Outubro do ano passado, como noticiou o Novo Jornal, a Cruz Vermelha esteva há 11 meses sem salário e o então secretário-geral, Benvindo Fernandes, avançou que esta organização já escreveu várias vezes para a Presidência da República, Procuradoria-Geral da República (PGR), Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) e para a 6.ª Comissão da Assembleia Nacional, sendo a única instituição que os chamou para ouvir as inquietações.
Falta de salários é um velho problema na Cruz Vermelha de Angola
Em Fevereiro de 2018, a empresária Isabel dos Santos, filha de ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que esteve à frente desta organização por 12 anos, foi destituída da presidência da CVA num encontro nacional de funcionários e voluntários.
Isabel dos Santos foi acusada de, enquanto presidente do organismo, não ter feito nada para o bom desempenho da Cruz Vermelha.
Na altura, os visados fundamentaram que a medida foi tomada porque havia suspeita de desvios de fundos e fuga ao fisco.
Na ocasião, os funcionários reclamavam 13 meses de salários em atraso, mas a empresária anunciou, em Abril daquele mesmo ano, que se desvinculou da presidência da Cruz Vermelha de Angola "por motivos de ordem familiar e pessoal", tendo proposto o nome de Elias Piedoso Chimuco, então vice-presidente, para a substituir interinamente.
Aquando da realização da 4.ª Assembleia-Geral Extraordinária, em Janeiro 2020, o actual presidente da CVA, Alfredo Pinto, disse ao Jornal de Angola que desde 2006 que a CVA teve as suas acções paralisadas, tendo reiniciado apenas em Outubro de 2018.
Segundo o presidente, durante o ano de 2018, a direcção envidou esforços para activar a instituição, tendo mobilizado empresas, doadores nacionais e internacionais, porque durante os últimos 12 anos em que esteve parada, todos os doadores desistiram.
Benvindo Fernandes, o então secretário-geral da CVA, em conversa com Novo Jornal, salientou na ocasião que depois da nova direcção tomar posse em 2018, a CVA foi alvo de uma inspecção da PGR e do IGAI que durou mais de um mês, mas que em nada resultou.
A CVA, segundo o seu secretário-geral, trabalha na resolução de vários problemas que afligem as populações e apoia as associações agrícolas, lares de idosos, pessoas portadoras de VIH/Sida e outras em situação de vulnerabilidade.
A Cruz Vermelha de Angola exerce a sua acção em todo o território nacional, sendo as relações com o governo efectuadas através do Ministério da Saúde e está filiada no Movimento Internacional da Cruz Vermelha Internacional e do Crescente Vermelho desde 1986.
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