CADÊ A MÁSCARA E O ÁLCOOL CONTRA A MALÁRIA? - Damásio Sangulungo Agostinho



Estamos cansados de chorar todos os dias!


Oxalá consiga estabelecer um paralelismo perfeito entre as mortes por malária e o esforço forte que o Estado Angolano vem empreendendo para a não propagação do vírus causador da Covid-19. Apesar disso, sinto uma necessidade premente de divulgar para Angola e para o mundo o sofrimento na minha aldeia, desde a fome à morte de mamíferos, incluindo nós.


EVENTO A: três crianças e uma adolescente morrem na mesma semana e no mesmo bairro por malária. Segundo conhecedores dos perigos da doença, mais outras nove pessoas seguirão para o mesmo destino nos próximos dias pela mesma causa. Falta-nos meios e inteligência para superar um mal tão grave e tão mortífero quanto ela (a malária). 



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Eu sou pobre, desempregado, sem formação... não tenho como ajudar, a não ser recolher o lixo de todo o bairro e implorar que tenham sempre *SHELTOX/INSECT KILLER em casa, que custa 1 500, 00 (mil e quinhentos Kwanzas) para matar mosquitos. Posso ajudar, ainda que esses insectos estejam em todos os lugares. Se não te atacam em casa, atacam-te na rua. Não temos para onde fugir!

Se um dos segredos reside em destruir os ovos ou as larvas, beleza, eu posso participar dessa guerra. Portanto, sim, posso ajudar. Mas a malária, por cá, continua a dizimar centenas e centenas de pessoas, pelo menos na província do Huambo, aldeia da Caála, em todas as bandas. Os poucos postos de saúde que temos e os hospitais andam lotadíssimos de pacientes, mesmo não tendo medicamentos. Por desespero e falta de fé de ser bem atendidas, outras pessoas recorrem aos vulgos tratamentos

tradicionais. Mascam folhas, engolem líquidos exóticos (no sentido de desajeitados e extravagantes) sem ninguém para acudir ou resolver o problema da melhor maneira possível.


EVENTO B:

Desde o retorno da Covid-19 com mais ímpeto e de suas variantes, o pânico tomou conta de nós e a polícia, como sempre, bem treinada e atenta, já começou a distribuir os seus habituais rebuçados. Três amigos e uma vizinha foram levados recentemente para o Comando Municipal da Polícia por terem circulado na via pública sem máscaras, outros po-la usarem incorrectamente. 

Para mostrarem que trabalham muito (e trabalham mesmo!), chegaram a assustar três centenas de pessoas que iam seguindo a caravana fúnebre. O motivo foi terem estado sem aquele pedaço de pano a cobrir os orifícios (boca e nariz), tendo causado um alvoroço tão grande que quase ressuscitou o defunto.

Ainda ontem ouvi que também entraram (não de penetras!) numa festa de casório (casamento) e, tão valentes que são, nem tocaram na comida: era para arrastar a socos e pontapés os desmascarados. O poeta e o mestre de cerimónias do evento que o digam; levaram chibatadas.


Analisando o evento A e o evento B, qualquer analfabeto do meu estilo chegaria à conclusão de que o Estado Angolano prefere mortes por malária a mortes por Covid-19, pois, de acordo com o que os nossos olhos se habituaram a ver, há dinheiro e recursos para combater a doença da China em todo o território nacional e, inclusive, dinheiro para pagar policiais que multam os fora-da-linha.

Já para a malária, nunca se providenciou medidas adequadas para o seu extermínio total... parece não valer a pena... as tais mortes são antigas... aborreceram. É doença para pobres e para idiotas. 

Seguindo o raciocínio da sobrevivência dos fortes e do desaparecimento dos fracos, nós, os últimos, ninguém se importa connosco... somos a palha... podemos ser levados pela correnteza da morte a qualquer momento.


Um intelectual diria que tudo faz parte de um plano maior. As nossas mortes por malária são um plano de extermínio total dos angolanos pobres. A falta de alimentação faz parte de um plano maior.

O insucesso na obtenção de pedaços de terra para a construção de alguma cabana também faz parte de um plano: matar o pobre de frio... ou que cave uma toca e seja vizinho dos coelhos... tudo isto faz parte de um plano.


Da minha parte, pobre não intelectual, ingênuo e babaca, só me resta implorar ao Presidente da República pelo seu bom senso para que, se não houver condições até ao momento, mande, se for possível, carros e motas da Polícia para recolher lixo e distribuir pulverizadores que matam mosquitos, já que o objectivo comum é eliminar a morte do nosso meio.

Que nos ajude a parar de chorar todos os dias pela partida de alguém... estamos sempre nos funerais... nós a chorar... a polícia a nos chicotear por causa de máscaras. Eles e nós 

ESTAMOS TODOS CERTOS, MAS CONTINUAMOS A MORRER. 

Solução= vamos eliminar tudo: ovos de mosquito, ovos de Covid, tuberculose, acidentes, fome, assassinatos, entre outros males.


A partir da aldeia, Dâmaso Sangulungo Agostinho.



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