Quando um deputado sente na pele reflexos da sua inoperância
O deputado Lindo Bernardo Tito passou, há poucos dias, por momentos de angústia. Aflito como nunca se tinha visto, surgiu num vídeo, nas redes sociais, a dar conta do rapto de um dos seus filhos, atribuído a marginais .
Quero, antes de mais, deixar aqui a minha solidariedade para com o meu amigo-deputado e expressar regozijo pelo final feliz.
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A minha honestidade intelectual pede, todavia, que eu analise o caso num outro ângulo, o da responsabilidade dos deputados, sejam eles do partido no poder ou da oposição. Estou a falar das responsabilidades dos deputados, é certo que diferentes das de quem governa, num quadro de extrema pobreza, com a penúria alimentar a fazer das suas um pouco por toda Angola.
Não olham para o sofrimento do povo, agindo à imagem de iluminados que julgam estar sempre longe da órbita do sofrimento, por fome, falta de emprego ou outra razão.
Claro que as “horitas” do calvário do filho do deputado Bernardo Tito não devem ser afastadas da degradação de quase tudo no país. Há crimes, pois, até nos “países paraísos” (não confunda com os que escondem dinheiro roubado de Angola), mas a violência dos últimos tempos, crescente à medida do sofrimento, impõe esta reflexão. É disto que falamos. O filho do deputado levou um susto de um marginal, seguramente paupérrimo, que tinha uma arma com a qual poderia ter feito o pior. Felizmente, repetimos, o final foi feliz, para a satisfação de Tito, confortado por um Presidente da República que vem demonstrando incapacidade na condução dos nossos destinos.
Queremos crer que as horas de angústia tenham sido as que mais levaram o deputado a reflectir sobre o estado do país e do seu desempenho na Assembleia Nacional.
Não basta usufruir dos benefícios enquanto a maioria do povo passa mal, quando a pressão política, para não apontar outras insuficiências, fica aquém do desejado, levando o MPLA a passear classe.
O meliante, pobre de espírito e de quase tudo, roubou até a roupa do filho do deputado.
Ao assistir ao primeiro vídeo em que o deputado aparece dando a conhecer o rapto do seu filho, observei um amigo a espalhar desespero, temendo o pior.
“Minha família vive hoje um momento de tristeza e angústia profunda, meu filho, Walter Tito, de 26 anos, foi raptado, por volta das 20 horas, no Benfica, quando foi buscar as irmãs que tinham ido cumprimentar a irmã mais velha que casou há uma semana. À porta ou ao portão da casa da irmã, foi abordado por um indivíduo armado, que entrou no carro e o obrigou a arrancar. O carro é um Lexus turismo, protocolar da Assembleia Nacional, de matrícula LD-75-86-HA. É um carro equipado com GPS, infelizmente, até este momento, ainda não foi localizado. Espero que os meus amigos partilhem o máximo e ajudem-me a encontrar o meu filho”.
Como se pode ver, de tanto desespero o deputado até disse o que não devia, como, por exemplo, que afinal de contas os seus filhos usam os meios do Estado para brincarem, ou melhor, para fins particulares.
Doravante, estou certo, teremos mais vídeos do deputado em solidariedade para com as vítimas do crime ou intervenções destas na “casa das leis” .
Depois do aparecimento do filho, Lindo Bernardo Tito voltou a fazer um vídeo para dar a conhecer a “boa-nova” e a agradecer a todos que estiveram consigo.
“Amigos, obrigado! Meu filho acaba de chegar agora à casa são e salvo. Obrigado, Deus, por tudo que fez por nós. Obrigado, Deus! Muito obrigado!”, disse.
Talvez tivesse faltado uma palavrinha que fosse para o Serviço de Investigação Criminal.
É preciso começarmos a prestar atenção aos sinais dos tempos, independentemente da direcção em que surjam, de preferência os sinais dos reflexos deste desastre de governação e da pobre actuação dos deputados.
Que se faça justiça, neste caso, até porque somos apologistas da luta contra a criminalidade!
O dia que os nossos políticos, sejam eles do MPLA ou de qualquer outro partido da oposição, olharem para os problemas do povo como se fosse os deles, podem crer que muita coisa irá mudar para melhor.
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