O pobre 100 culpa- Paulo de Angola




Conheci o brother a distância, num dos eventos de RAP no Rangel, em 1995, meses depois nos cruzamos no Estúdio Futuro, na Terra Nova, e fomos apresentados pelo Mister Paul “sou o Dr. Cláudio e este é o meu puto, fizemos a dupla mais fodida de Rap Nacional”, sem dizer o nome do grupo, cortei o brother, lhe elogiando pela performance no show que vi, dele, no Rangel, “eu kurto bwé do vosso som, mas não sou muito de cantar cenas para agradar o people”, disse, o puto dele, comendo um pão com 

sardinhas enlatada, que acabamos por comer todos, os cerca de 17 brothers que esperavam a fez para entrar em estúdio, no momento a ser usado pelos PNG, ex-grupo do Jamayka Poston. O Brother já era bwé deep e eu fazia parte dos clássicos da época… Ficamos muito tempo a espera, e ambos não conseguimos gravar na época, eles porque não tinham a Fita Cassete Basf Chrome, exigida na época, nós porque antes da gravação optamos por alterar a letra e precisamos de  regressar  outro dia.




MZFISIO Centro de Fisioterapia Consultas domiciliares e no consultório, contactos 924170321/ 998024880

Daí ficamos mais cerca de um ano sem nos vermos, e voltamos a nos encontrar primeiro na Feira Popular, num dos espetáculos realizados pelo Mateus Gonçalves, pela LAC, acho que em 96 ou 97, onde os Brothers já com o nome de Pobres 100 Culpa, bem ao estilho “Dreass Code” Naughty by Nature, rebentaram com o show, se revelando numa promessa, inovadora do gênero, para muitos desconhecidos numa época em que os SSP entravam para o mercado com a música Olhos Café. Meses depois, voltamos a nos encontrar no Festival de RAP realizado pelo Mister Paul, por trás do Cine Atlântico, penso que no final de 1996 ou princípio de 1997, onde o Dr. Cláudio, na altura já Ngadiama Wakanbasonhe, me apresentou o Mumu e o Yanick, ambos Afro Men, e o brother em conversa, matando a curiosidade da Nina Harley (Acima do Inferno), actual Madame Jepele, mboa do Vovô (Ação Positiva), ambos agora casados e formam a dupla Auge Fixo, justificou o porquê do nome Pobres 100 Culpa, “Mana, somos pobres, eu, tu, ele e nós, cada um do tipo dele, mas eu e o meu puto somos mesmo pobres piores que a merda da pobreza, filhos de uma mãe guerreira e um pai que não existe… Tipo te responder assim, não vais entender, mais nós somos mesmo Pobres, que nunca viu queixo na mesa, mata-bicho e jantar é milagre, almoço é as vezes no kubico dos vizinhos, o pior é que somos filhos de um país grande, rico e belo, mas nós somos Pobres e sem Culpa”, quis intervir, mas olhando para o brother, senti a pureza no olhar, na fala e no discurso, que a única palavra que entrei foi dizer, mano vocês são os verdadeiros Rapper angolano, sou seu fã, sem dar ouvido as palavras da Nina Harley, fui ter com o Manucho, actual Papitchulo, na época integrante do grupo Putos do BK, que antes havia manifestado interesse em falar comigo, e me apresentar uma dama do Cassenda (esqueço o nome), que na época repava pra caralho.


Voltei a ficar muito tempo sem ter contacto físico com os Pobres 100 Culpa, até que no final de 1998, num show na Banca, que revelou o MC K, na época com um nome bwé estranho, cruzei com o Mestre, puto do Ngadiama, dizendo que o Ngadiama estava na África do Sul, meses depois me reencontro com o Ngadiama, em Cape Town, no Hotel Althone, no Woodstock, e o brother me disse, precisou viajar para fugir a pobreza angolana e continuar a luta por melhores condições de vida para os angolanos, num país que lhe recebeu de braços abertos, e com muitas condições para realizar alguns sonhos, mas se sentia incompleto pela ausência do Mestre, que na época ainda estava em Luanda, e só se juntou ao kota, no meado de 1999, quando com o DJ Caramelo, estávamos a gravar a coletânea “Genesis” que nunca chegou de ser publicado, mas dela saiu parte da música FALSOS MCs, que entrou no single do Jamayka Poston. 


Vivemos vários momentos bons em Cape Town, passamos várias noites juntos, na casa um do outro, me apresentou o álbum dos Racionais MCs, Sobrevivendo no Inferno, inclusive, foi dele que ouvi o passamento físico dos manos (Soldados de Rua), Mano Merck e NG Rap, até que em 2001, o destino nos separou, fui para outras paragens e ele e o puto permaneceram em Cape Town, para anos depois ouvir de terceiro que o Mestre foi assassinado. Liguei para ele, e em voz de um guerreiro enfraquecido, o brother disse “tenho menos forças para continuar… Já estou morto… o Mestre não era apenas meu puto, era o meu completo, as munições das minhas armas, mas tenho de continuar a lutar, até que o meu físico se cansar”… fiquei sem forças para responder e… anos depois nos reencontramos em Luanda, o mano já meio fatigado, com semblante vazio, mas com a mesma força em permanecer na luta por melhores condições, sempre com o título de Pobres 110 Culpa, e um single em mão “O cabrito come onde está amarrado”. Não éramos amigos dos copos, nem das gajas, nunca partilhamos rimas, nem microfone, mas tínhamos além da pobreza, muita cena em comum… Numa lista restrita dos meus 35 anos de idade, e inauguração da minha casa, o Ngadiama foi um dos convidados, trocamos muitas ideias, traçamos sonhos e inclusive, fez-me duras críticas por ter colocado o RAP como terceira opção na minha caminhada, mas lhe deixei mais calmo quando disse que o meu proposito agora é outro, e me vejo na responsabilidade de lutar do outro lado, para lhe ajudar a encontrar o caminho ideal para juntos deixarmos a pobreza… A verdade é que falhei, não cumpri… continuo lutando para realizar o sonho, mas um telefonema colocou Stop no meu percurso dizendo que o Ngadiama se juntou ao Mestre, e já não faz parte do nosso mundo. Porraaaaaa, o brother já nem foi a tempo de conhecer a crueldade do Major Pedro Lussati… Assim como não falei RIP ao Mestre, não vou falar ao Ngadiama, acreditando que os Reais não morrem, mas tenho o dever de lembrar a está e futura geração, que os Pobres 100 Culpa foram e são de perto Heróis Nacionais, os Ngangulas que os manuais não ensinam.

Lil Pasta News, nós não informamos, nós somos a informação 

Postar um comentário

0 Comentários