O major Baciro Dabó - José Gama In Memoria



Há  10 anos prestava atenção especial a Guine-Bissau. O major Baciro Dabó, antigo director da segurança de Estado de Nino Vieira era a figura mais fascinante cujas historias a sua volta  dava gosto em relatar.  Baciro foi assassinado a 5 de Junho de 2009. Na noite anterior a sua morte recebeu em casa, em Bissau,  dois altos dirigentes do MPLA, Paulo Texeira Jorge e João de Almeida "Ju Martins". Fez um banquete e mandou  grelhar carne de cabra  para os seus convidados. 


Baciro Dabó, era uma figura controversa e naquele ano estava  apresentar-se  como candidato independente às eleições presidenciais de 26 de Junho. Conta-se  que entre   1975/76, Baciro Dabó era   um  ladrão de cabras até ser detido pela policia. Aparentemente reabilitado apareceu, mais tarde,  transformado em polícia e ascendeu  ao “rank” de Major.  




Depois passou a ser conotado como  "barão da droga". Passava   a distribuir dinheiro  em Lenox, o  bairro de ajuda em Bissau. Financiou a sua propria candidatura, e foi o primeiro a iniciar  a pré-campanha eleitoral. De todos os candidatos  é o que mais gastos fazia.  

 

Nos “altos e baixo” da sua vida  era   aplicado a Baciro um famoso  provérbio guieense segundo o qual "o poder é algo muito ingrato, porque é fluido como óleo que finamente sai das mãos de quem o  possui".  A razão da aplicação do provérbio devia-se  ao facto de Baciro ter sido  uma figura  excêntrica que gostava   exibir  poder (a festa do seu casamento, em 2008,  durou uma semana e foram abatidos  muitos bois). 

 

 

O Major Baciro Dabó  era   também  em algumas ocasiões  apresentado como homem de várias profissões. Foi  politico, jornalista (estagiou na estação de rádio portuguesa TSF) e músico (seus últimos espectáculos foram marcados com a distribuição de dinheiro). Deixou  um  CD/ álbum, denominado “Terra Ranca”. Apreciava  que o tratem artisticamente por  “Bass Dabó - o Major do povo”.  Das várias facetas da sua vida destacava-se mais o percurso de oficial da segurança . Ha quem o atribui uma passagem pela Europa do Leste para formação em Inteligência. De regresso passou a servir o Presidente Nino Vieira como peça-chave da segurança do Estado guineense. Na prática, as operações que  constam no seu  “profile”  distanciam-se da “real intelligence ”.  Esta mais relacionada à repressão  razão pela  qual  foi  bastante temido pelos seus adversários. Chegou admitir publicamente que ja executou pessoas - mas - em legítima defesa.

 

Quando em 1998  um grupo de oficiais militares encabeçados  pelo Brigadeiro Ansumane Mané derrubou do poder, o Presidente Nino Vieira,  o Major Baciro Dabó foi responsabilizado pelos golpistas como  executor das repressões desencadeadas pelo regime.  A 7 de Maio daquele ano, um grupo de cinco militares fortemente armados o teriam  arrastado pelas ruas. Baciro estava trajado de uma camisa semi-aberta, calçava  chinelas que denunciava ter sido tirado de casa à força. Ficou encarcerado  por alguns meses até ter sido  recuperado por Kumba Yalá que dele  fez  seu conselheiro da segurança.  Baciro  tinha  a fama de ser cobiçado por todos os presidentes guineense. Sobreviveu politicamente em vários governos como alto responsável da segurança de Estado. 

 

 Era   também conhecido pela habilidade de fazer intrigas. Em 2003, três meses após a queda do Presidente  Kumba Yalá do poder,  Baciro procurou vender a sua lealdade ao “Comité Militar” dos golpistas liderado pelo General  Veríssimo Correia Seabra.  Certo dia,  Baciro Dabo recebeu em sua casa, um ex-subordinado seu,  Pefna Djata que pretendia fazer um “breafing” de carácter privado relacionado a algumas previsões.  O agente  Pefna Djata que era  sobrinho do deposto presidente  Kumba Yala revelava-se  desapontado com a destituição do tio. Nos seus desabafos, terá confidenciado a Baciro que o General Verissimo Seabra estava a cometer os mesmos erros na qual se apoiou para derrubar Kumba Yala.  Pefna Djata confidenciou  a Baciro Dabó sobre  a compra de  mansões  que os generais, Verissimo Seabra,  Emílio Costa e Bitchofula na Fafé estariam a fazer em favor das suas amantes, não obstante a  arrecadações financeiras ilegais   provenientes das alfandegas  de Bissau destinadas ao Comité Militar.

 


Nas apreciações,  de Pefna  Djata, o General Verissimo Seabra estava a incorrer a um erro que poderia induzir  o Estado Maior das Forças Armadas a pegar em fogo contra si, à semelhanca do Brigadeiro Amsumane Mané. Baciro Dabó gravou toda conversa e fez chegar ao “Comité Militar” provocando instabilidade nas chefias militares. Passado um ano,  o General  Veríssimo Correa Seabra  seria  assassinado, em razão de descontentamento,  no seio de  militares que reivindicavam atraso no pagamento de salários.  

 

Baciro Dabó goza de pouco aceitação no seios dos militares.Demarcam-se dele diferenciando-o como “Major da Policia”, uma forma de alertar que a sua patente não vem das fileiras militares. O ponto sublime do sentimento que  nutriam  contra si, foi observado num episódio de mau estar  envolvendo o  falecido general Tagme Na Waie. Ao tempo Baciro desempenhava,  as funções de conselheiro para os assuntos da segurança do Presidente Nino Vieira. O General Tagme Na Waie esforçou o seu afastamento da Presidência, dando  24 horas a Nino para que o demitisse. 

 

Em paralelo  à demisão,   Tagme colocou em casa de Nino  um oficial fiel a si, o Major Zé Preto, para chefiar o Batalhão da Guarda Presidencial.  Zé Preto, ja falecido,  foi orientando por Tagme para não permitir a entrada de Baciro nas instalações da  Presidência da República. Baciro Dabó fazia insinuações segundo a qual o grupo do  General Tagme eram  “barões da droga e lacaios dos colombianos”. 

 


No seio da classe intelectual, o Major Baciro Dabó era  também pouco desejado. Havia  quem  apontasse  as  suas operações “grosseiras”  dos tempos da segurança.  À época ministro da Administração Interna conduziu a 31 de Maio de 2007  uma reunião “conspiradora”  na qual aventou que Fernando Casimiro “Didinho”, um reconhecido activista civico-político guineense  radicado em Portugal e crítico do regime de Nino Vieira, era “um alvo fácil a abater”.  Baciro viu as intenções abortadas ao ser traído pelo “bom  senso” de um dos seus colaboradores  que teria vazado para fora as suas intenções.

 

A seguir a este episodio, Baciro voltou a ter um novo incidente. Desta vez envolvendo o correspondente da Reuters em Bissau, Albert Dabó. O governante convocou o jornalista no seu gabinete para interrogatórios. Em causa estava uma notícia mal  interpretada por Baciro  consubstanciada numa declaração feita pelo  presidente da Liga dos Direitos Humanos guineense, que denunciava altas patentes das forças armadas da Guiné-Bissau de estarem envolvidas no tráfico de droga. A RDP/África teria citado  mal a notícia feita pelo correspondente, o que deu origem ao incidente.

 

Nos últimos anos submeteu-se num nível baixo ao envolver-se em trocas de acusações públicas com alguns dirigentes políticos. Em finais de 2007 acusou o seu sucessor da Administração Interna,  Certório Biote, de querer assassiná-lo em "conluio" com alta patente do Exército. Teve conflitos públicos com Francisco Fadul.  Teve divergencias  com o PM Carlos Gomes Júnior.  Entenderam-se  e mais tarde aderiu ao PAIGC de onde teria sido expulso no passado. Passou apelidar-se de Zidane da política guineense ou seja  “Zidane Dabo” como se apresentou na campanha das eleições legislativas.

 


Quando Nino Vieira foi assassinado, o Major Baciro Dabó entrou em desespero metendo-se em fuga para um local desconhecido. Apareceu dias depois  a denunciar  que vários militares teriam ido à sua residência.  Estavam  foragidos cerca de 10 elementos todos eles militantes do “inner circle” do falecido Presidente. A sua fuga estava a ser associada a receios de  que também seria alvo de atentado.

 


Em finais de Abril de 2009,   Baciro Dabó apareceu publicamente a dizer que  iria candaditar-se à Presidência da República. Antecipou-se  em responder  que estava a dar resposta  a manifestos de sectores da sociedade que o queriam ver a dirigir os destinos do país.  O PAIGV escolheu Bacai Sanhá como seu candidato. Baciro passou apresentar-se como candidato independente.

José Gama 



Lil Pasta News, nós não informamos, nós somos a informação 

Postar um comentário

0 Comentários