O DIA DA CUECADA FINAL- SALAS NETO



Já não compro cuecas desde Junho de 2018, a última vez que estive na Lisboa, pelo que é natural que já tenha algumas bem zumbucadas entre o meu estoque destas peças íntimas. Olha, por acaso, ontem, quando revolvia o meu guarda-cuecas (a segunda gaveta da banca) depois do banho, dei com uma bem esburacada, logo, pronta a ir para o lixo. Foi aí que me pareceu ouvir a cueca a pedir: «Saleno, por favor, vista-me uma última vez, antes de me deitares fora».

Como não sou ingrato nenhum, fiz-lhe a vontade. Nos velhos tempos, quando assim acontecesse, não por opção, mas por força da pobreza, um gajo só rezava para não ser atropelado ou alvo de alguma outra ocorrência que me obrigasse a despir-me diante de terceiros. Ontem estava bem à vontade, sabendo de antemão que não teria nenhuma reunião amorosa ou coisa do género, até porque a cegueira me levou à reforma antecipada em relação a eventuais extraconjugalidades, quer dizer, portanto, fiquei mais nené que um santo, bem boelo da minha vida podre.




Na agenda constava apenas uma descida para o botequim do Cambila, a parada dos Sabulhas, na parte de baixo da minha rua, a capital do Bairro Indígena, onde contava estilar com um rádio-gravador-coluna daqueles próprios dos bagres, que o puto Lourenço Diogo me ofereceu, ao som de uns quase 200 temas do antigamente que mando numa pendrive afinal supervaliosa.

Estava muito longe de imaginar o que haveria de acontecer: eram 16 e poucos, quando chegou a Lalé, um meu «cachucho» de há 25 anos atrás, uma lapinga assim da pimpa, que foi uma das três garinas que tive ao mesmo tempo a meio dos anos 90 na rua do Ricardo Bravo Kakoko, onde eu era muito assediado, modéstia à parte, diziam que as gajas se partiam «através» da minha ginga, tanto na andança como na dança, noves fora a verbosidade camoniana. Para minha surpresa, disse que estava mesmo à procura do Salinhas (é assim que ela me trata), pronta para o que desse e viesse, algo que nunca esteve em causa, verdade seja dita, apesar dela já ter passado por vários casamentos, coisos e tal. «Neste momento, estou viúva, pelo que não sai nada», abriu ela a porta toda, sendo que vinha em companhia da Paula da C4, outra lapinga dilaje lá do bairro. Me partiram cada umas quatro birras, antes de bazarem por volta das 18, na mesma altura em que eu, apertado pela fome, também resolvera esgalhar, junto com a minha ditemba dos ndatis.

Há dias acontecera algo estranho, com envolvimento indirecto da camarada. Ia a sócia-gerente a passar por um ajuntamento de senhoras na fofoca, a propósito do anúncio dum óbito de alguém próximo a um vizinho lá da rua, quando uma delas perguntou em jeito de provocação: «Qual Salas? O marido da Lalé?». A dona das coisas contou-me isso com ar bonacheirão, mas nunca se sabe se a tirada da intriguista foi desconsiderada em absoluto ou se provocou algum estrago na pessoa da senhora alheia que me tem aturado nesses anos todos. 

Por isso, acho que foi mais para prevenir problemas com a sócia-gerente que dei um corte à proposta da Lalé, do que por vergonha que ela me visse com a cueca rota da qual me despedia ontem, depois de mais de dois anos de excelente serventia. Obrigado, senhora dona cueca!



Lil Pasta News, nós não informamos, nós somos a informação 

Postar um comentário

0 Comentários