Sim, David Mendes está armado em quê, ao desdenhar e menosprezar a utilidade das praças (ou mercados populares) para a satisfação das necessidades dos cidadãos?
Defendeu ontem, na Tv Zimbo, a ideia preconceituosa de que os moradores da Centralidade do Kilamba -- classificados por ele como sendo de classe média alta -- não necessitam de uma praça, bastando-lhes as mercearias e os hipermercados à volta. Ele é vesgo para não ver a amálgama de grupos sociais que há no Kilamba?
Mas, se calhar, para falar assim sem o menor tento na língua, ele só pode estar inebriado pelo rico salário que passou a auferir como deputado à Assembleia Nacional pela UNITA. Se recuássemos quatro anos no tempo -- altura em que diziam ser o "advogado do povo" --, nunca veríamos David Mendes com a veleidade de sugerir que os cidadãos se abstenham dos mercados populares e optem por estabelecimentos como o Kero para a compra de alimentos.
Qual é a classe de angolanos que se pode dar ao luxo de comprar o peixe e a carne de que necessita diariamente nos sectores de frescos e perecíveis destes hipermercados?
David Mendes que se deixe de ilusões e firme os pés na terra, pois está a levitar. Bastar-lhe-ia dar uma volta por esses hipermercados todos para constatar que as secções de frescos estão, via de regra, às mocas. Isto é, sem clientes. Os que se aproximam destas áreas fazem-no apenas para alegrar os olhos. Ninguém aguenta os preços proibitivos aí praticados.
Todo mundo está careca de saber que se os luandenses quiserem "aguentar" o mês com os parcos salários que em geral auferem, eles têm forçosamente de frequentar mercados como os do "Trinta" e "Cantinton", bem como a praia da Mabunda. Isto para não mencionar os armazéns onde as "sócias" passaram a ser o "estratagema" a que as famílias recorrem para não (sobre)viverem com uma dieta à base de "conchas". Estes é que são, de facto, os mercados abastecedores do povo, as massas.
Portanto, David Mendes está claramente equivocado. A realidade actual dos angolanos não é a que ele passou a viver desde que deixou de ser o "advogado do povo" -- "cachudo" que está, pelos vistos, com as benesses da Assembleia Nacional.
Ah! Ele se esquece de um pormenor: muitas das praças e/ou mercados populares são elementos constitutivos da cultura dos luandenses. Sempre foi assim, desde a era colonial. Essa é a génese de mercados como os de São Paulo e Congolenses. Para não falar que o que fizeram ao mercado do Kinaxixi representa um manifesto acto de assassinato de cultura. Luanda viu morrer grandemente a sua identidade quando mandaram abaixo o mercado original para erguer, em seu lugar, um mastodonte de shopping center que, ainda por cima, não vê a luz do dia há década e meia, atravancando e embaraçando o movimento de pessoas e bens por toda aquela área do centro da cidade.
David Mendes, que por certo já visitou Lisboa várias vezes, deveria saber que até hoje alguns bairros típicos da capital portuguesa continuam a dispor de praças populares. E olhem que são locais frequentados por gente de pergaminhos na sociedade lusitana. Aliás, tais praças têm utilidade prática e não são apenas modelos culturais, coexistindo, perfeitamente, com os demais tipos de comércio, dos hipermercados às lojas de proximidade.
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