As Forças de Deslocamento Rápido dos Estados Unidos – Londaka Sangangula

 


O Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, na sua publicação J1-02: The Department of Defense Dictionary of Military and Associated Terms, define a projecção de poder como: A capacidade de uma nação aplicar todos ou alguns dos seus elementos de poder nacional - político, económico, informativo, ou militares - rapidamente e efectivamente desdobrar e segurar forças em múltiplas posições dispersadas para responder a crises, para contribuir para intimidação, e realçar estabilidade regional.


A actuação internacional dos Estados Unidos da América admite diversas formas de relacionamento e intervenção. Uma das mais destacadas e únicas dessas alternativas de acção internacional reside em sua capacidade militar, isto é, na possibilidade de intervenção armada no desenrolar de um relacionamento político em escala mundial. Ainda que se possa querer tomar como indicador dessa capacidade de intervenção o acervo do poder dos Estados Unidos em termos gerais, a possibilidade de acção armada exige que se considere a dimensão propriamente táctica, isto é, do uso da força no combate. Essa dimensão exige que se considere a organização humana, material e cognitiva pela qual se articulam unidades militares capazes de acção de combatente, e como se sustentam essas capacidades ao longo do tempo.




Em 1980, em regime de urgência, foi criada uma força-tarefa de forças integradas de deslocamento rápido (Rapid Deployment Joint Task Force – RDJTF). Em 1 de Janeiro de 1983, o RDJTF alcançou a categoria de um comando unificado de combate pleno denominado Centcom (Central Command  – Comando Central) o conceito do Centcom foi desenvolver uma força de ataque móvel onde está incluído todos os ramos das Forças Armadas dos Estados Unidos; Exército, Marinha, Corpo de Fuzileiros Navais, Força Aérea e Guarda Costeira, embora cada ramo das Forças Armadas dos Estados Unidos tem a sua própria força especial, isto é após a fracassada Operação Eagle Claw, onde a Força Delta falhou em resgatar o pessoal diplomático dos Estados Unidos na sua embaixada em Teerão das mãos de estudantes iranianos que tomaram a embaixada. Além disso, o fracasso desta operação deu origem também em Novembro de 1980 a unidade de forças especiais o "Grupo de Desenvolvimento de Guerra Naval Especial dos Estados Unidos", ou DEVGRU conhecido por  SEAL Team Six.

Além disso, o Centcom possui como delimitação geográfica: Egipto, Sudão, Djibouti, Etiópia, Somália, Quênia, Afeganistão, Bahrain, Irão, Iraque, Koweit, Omã, Paquistão, Iémen, Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos (…).

Essas unidades militares foram organizadas a partir da última década da Guerra Fria, a fim de conter crises na região do Oriente Médio, África e Sudoeste Asiático que pudessem ameaçar o bloco ocidental dentro do contexto de confronto bipolar (…). As unidades são designadas a partir das quatro forças singulares dos Estados Unidos: Corpo de Fuzileiros Navais, Marinha, Exército e Força Aérea, classificadas em três categorias de capacidades. Uma primeira categoria de unidades de resposta rápida de uma semana: as Unidades Expedicionárias de Fuzileiros, Capacitadas a Operações Especiais [Marine Expeditionary Forces (Special Operations Capable) – MEU(SOC)] do Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps) e as Brigadas em Prontidão da 82ª Divisão Aeroterrestre (82nd Airborne Division Ready Brigade – DRB) do Exército dos Estados Unidos.

A segunda categoria de forças de contingência é formada por divisões inteiras, capazes de deslocamento entre trinta a sessenta dias: a 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada, a 10ª Divisão de Montanha, o 2º Regimento de Cavalaria Blindada e a 101ª Divisão de Assalto Aéreo do XVIII Corpo-de-Exército Aeroterrestre. Dentro dessa categoria, incluem-se ainda as três Forças Expedicionárias de Fuzileiros Navais (Marine Expeditionary Forces – MEF). Uma MEF, por sua vez, é capaz de deslocar um destacamento de vanguarda– Marine Expeditionary Force (Forward), MEF (Fwd) – para enfrentamento de crises entre sete e quinze dias, sendo uma alternativa de força intermediária entre as duas categorias mencionadas.

A terceira e última categoria do sistema RDF é formada pelas alas aéreas expedicionárias (Aerospace Expedicionary Wing  – AEW) da Força Aérea e os grupos de batalha de porta-aviões (Aircract Carriers Battle Groups – CVBG) da Marinha dos Estados Unidos para apoio logístico, transporte e apoio de fogo. A Força Aérea dos Estados Unidos tem rápida capacidade de resposta no atendimento do transporte estratégico das tropas e equipamentos do US Marine Corps e do XVIII Corpo, assim como a disponibilização de esquadrões de caças para escolta desse deslocamento aéreo num prazo de dias.

Entretanto, o deslocamento de grupos de aviões de combate para apoio a operações de contingência no estrangeiro depende da existência de pistas de pouso, munição, suprimento e combustível em países aliados ou amigos. Na Guerra do Golfo de 1990-1991, a Força Aérea foi capaz de deslocar em trinta e seis horas o 1º Esquadrão Táctico de Combate composto por quarenta e oito caças F-15C da Base Aérea de Langley, na Virgínia, para aeroportos na Arábia Saudita. Entretanto, esse foi um caso atípico devido a exercícios conduzidos um mês antes conjuntamente com a Força Aérea Saudita, sendo mantido secretamente setenta e dois aviões de reabastecimento aéreo KC-135. Além disso, os aeroportos da Arábia Saudita ofereciam toda a infra-estrutura e logística necessária especificamente para as aeronaves norte-americanas.

Considerações logísticas sobre Forças de Deslocamento Rápido

As forças de deslocamento rápido são formadas por soldados profissionais e condicionadas dentro do mais alto nível de treinamento. Elas são habilitadas nas várias formas de armas combinadas, como também na capacidade de forças integradas. A mobilidade estratégica e a sustentação das forças de deslocamento rápido dos Estados Unidos envolvem tanto meios aéreos e navais como um sistema logístico híbrido de forças predispostas.

Outro aspecto importante dos meios aéreos de transporte é o seu rápido desgaste devido a pausas, necessariamente, cada vez mais longas para manutenção das aeronaves. Com o acúmulo de horas de voo, é necessária uma revisão cada vez mais cuidadosa e extensa de peças hidráulicas, turbinas e até fuselagem devido à fadiga de material. Essas condições de possibilidade logística são próprias da 82ª Divisão Aeroterrestre e da 101ª Divisão de Assalto Aéreo (sendo que nessa, apenas a 1ª Brigada é aerotransportável e o restante de suas forças deve seguir em navios).

A mobilidade de forças por meios navais possui um tempo de resposta mais limitado, mas um potencial de sustentação muito maior. Por outro lado, o apoio táctico e logístico possível de ser provido pela Marinha dos Estados Unidos possibilita uma menor dependência em bases terrestres e, quando necessárias, uma maior capacidade de composição, protecção e sustentação das mesmas. A utilização desses meios logísticos é prevista em cenários de média intensidade ou de guerra contra o Iraque ou Coréia do Norte.

A maior parte do material bélico das demais unidades do XVIII Corpo é transportada por meios navais. Uma variação importante são as MEU (SOC)s do US Marine Corps. Elas são dispostas num sistema de rotação permanente em alto-mar nas regiões dos hemisférios ocidentais e orientais.

O terceiro sistema logístico para projecção de força dos Estados Unidos é o sistema de forças predispostas em bases avançadas. As tropas e o material bélico leve são deslocados por meios aéreos a partir dos Estados Unidos e o material bélico pesado transportado por meios navais a partir de esquadrões navais predispostos em bases navais avançadas ou em bases terrestres de países aliados ou amigos. Esse sistema permite a união tanto das características de responsividade dos meios de mobilidade aérea, mas mantendo uma capacidade de transporte e de sustentação das forças deslocadas por meios navais. Por isso, associado a um custo mais acessível, possibilita restrições menos severas ao poder combatente por meio de uma maior liberdade na composição força-combatente em função dos cenários de conflito.

Apesar de o Exército dos Estados Unidos possuir a maior parte de suas forças movidas e sustentadas por meios aéreos e navais, ele possui disponível material bélico para uma brigada de divisão pesada como a 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada ou o 2º Regimento de Cavalaria em bases terrestres na região do Benelux, Itália, Koweit, Coréia do Sul e na base naval de Diego Garcia no Oceano Índico; além de unidades de apoio na base naval de Guam no Pacífico.

O Corpo de Fuzileiros Navais possui o mesmo sistema logístico (…). Essa disposição de material bélico, além de ser orientada a resposta de crises em qualquer parte do globo, é uma forma de reestruturação do aparato bélico dos Estados Unidos no pós-Guerra Fria (…). Essas condicionantes logísticas não são um fim em si mesmas. Elas são gerenciadas a fim de respaldar as capacidades tácticas necessárias ao cumprimento das atribuições estratégicas das forças de deslocamento rápido.

Considerações tácticas sobre Forças de Deslocamento Rápido

A atribuição de cenários de conflitos a unidades militares é bastante clara dentro do sistema (RDF– Rapid Deployment Forces). As alas aéreas da Força Aérea e os grupos de batalha de porta-aviões da Marinha possuem atribuições de apoio táctico e logístico; e o XVIII Corpo Aeroterrestre e o Corpo de Fuzileiros Navais, a atribuição principal das operações terrestres.

A força do Exército dos Estados Unidos para operações de contingências é o XVIII Corpo Aeroterrestre. Os cenários de acção em cenários de baixa intensidade são operações de segurança pela 82ª Divisão Aeroterrestre.

Em caso de operações de média intensidade, as outras unidades do XVIII Corpo podem ser dispostas tanto com a função de reforço de tropas já deslocadas, como de vanguarda do contingente de contragolpe em mobilização e formação e de condução de uma campanha terrestre independente. Em cenários de alta intensidade, o XVIII Corpo como um todo tem a função de contenção a uma força invasora a um país amigo ou aliado, cuja contra-resposta será por meio do reforço de divisões ou Corpos-de-Exército blindados do Exército dos Estados Unidos.

O Corpo de Fuzileiros Navais é uma organização única dos Estados Unidos com função de operações aero-anfíbias em qualquer tipo de contingência, em integração com as unidades do XVIII Corpo do Exército, com forças armadas de países aliados ou independentemente. Sua principal unidade de deslocamento rápido são as MEU (SOC)s (Marine Expeditionary Units, Special Operations Capable – Unidade Expedicionária de Fuzileiros Navais). Em situações de crises, o US Marine Corps pode enviar ainda uma MEF (Fwd) (Marine Expeditionary Force, Forward – Força Destacada Expedicionária de Fuzileiros Navais).

Ela é empregada em cenários de baixa intensidade para reforço de uma MEU (SOC)s ou DRB ou como única unidade de resposta rápida. Em cenários de média intensidade uma MEF (Fwd) pode ser a vanguarda dos contingentes do XVIII Corpo de uma ou mais MEFs (Marine Expeditionary Force – Força Expedicionária de Fuzileiros Navais). As MEFs são aplicadas na resolução de crises de média intensidade e como força de contenção ao lado do XVIII Corpo Aeroterrestre.


Londaka Sangangula é licenciado em Linguistica Inglês, chefe escuteiro, escritor, investigador e autodidacta desde 2009.



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