Trabalhei no sector petrolífero durante algum tempo, e sempre que se marcasse uma reunião, falava-se em "English time", ou seja, "Hora inglesa". "English time" é sinónimo de pontualidade. Os ingleses são pontuais. E eu trabalhava com ingleses. Se um encontro fosse marcado as 7 horas, começava mesmo as 7 horas. Não é como aqui em Angola, onde quase nenhuma actividade começa a hora marcada. Entretanto, como as reuniões eram mesmo nos navios onde trabalhávamos ou nas instalações petrolíferas onde estávamos alocados, estar "on time", ou seja, na hora certa, nunca constituiu qualquer problema para nós angolanos.
Quando viajei pela primeira vez ao Reino Unido, eu saía de "public bus" (autocarro público) de onde estava hospedado até ao local onde fazia uma formação profissional. Durante 8 semanas, nunca atrasei nem um minuto. Aliás, nem um segundo! E não é porque sou uma pessoa pontual, mas porque o país em que estava tem infra-estruturas que me permitiram cultivar o valor da pontualidade. Isso me fez lembrar as lições do meu professor Zufu, na disciplina de FAI (Formação de Atitudes Integradoras) no Simione Mucune, em Luanda, onde dizia frequentemente que "o meio em que uma pessoa está envolvida é o maior determinante na formação da sua personalidade". Naquele momento isso fez todo o sentido para mim.
Quando cheguei lá, no Reino Unido, deram-me os horários que os autocarros passariam nas paragens. Era incrível ver aquilo. Olhava para o relógio, e via que faltam 30 segundos para o autocarro chegar na minha paragem, pensava que iria atrasar... E do nada estava lá, sempre "on time". Além da boa qualidade das estradas e de outros factores que contribuem para que a pontualidade seja um valor para o povo desta parte do mundo, lá existem faixas de rodagem para os transportes públicos. Na faixa dos carros particulares pode ter "traffic jam" (engarrafamento), mas nenhum espertalhão passa para o lado dos transportes públicos, ou seja, ninguém dá "mbaia" como se faz em Luanda. Aquilo é bonito de se ver.
Hoje, ao passar pela Vila de Cacuaco, em Luanda, e ao ver as paragens lotadas de pessoas que vão à escola, ao trabalho, à procura de trabalho e outros afazeres, percebi que nós não temos infra-estruturas que permitem ou ajudam as pessoas a serem pontuais. As pessoas ficam nas paragens sem saber quanto tempo estarão lá a espera. Há pessoas que ficam horas a espera de um autocarro que nem sabem se vai chegar. E quando chove, tudo fica pior. Há duas semanas tive que ficar parado durante 3 horas a espera que o "caudal do rio" na estrada de Cacuaco reduzisse para poder passar com o carro.
Portanto, enquanto não tivermos infra-estruturas sérias e funcionais, valores como a pontualidade estarão longe de fazer parte da personalidade dos cidadãos angolanos.
Lil Pasta News, nós não informamos, nós somos a informação
0 Comentários