Savimbi: Uma vida marcada por polêmicas “Honras de Estado” -José Gama



Jonas Malheiro Savimbi deverá ser dos raros  líderes  político   no mundo que não  foi  Chefe de Estado mas  cuja vida ficou marcada por sucessivos  episódios  de  polémicas  “honras de Estado”.  Desde a vida até a morte. Das vezes que saía do seu quartel militar na Jamba para o exterior do país, em trabalho,  às viagens eram sempre  abaladas pelas  “honras  de Estado”  irritando o governo de Angola. 


No inicio de  Janeiro de 1990, o então representante da UNITA, em Portugal,  Alcides Sakala anunciava, o adiamento de uma tão esperada  visita de Savimbi á Lisboa  por alegadas “circunstâncias imprevisíveis criadas pelo MPLA”. Porém, no final  do mesmo  mês, Savimbi chegava finalmente   à quele país, efectuando uma visita com características  de Estado. Foi recebido a porta do avião por entidades políticas portuguesa. O então  Presidente da República portuguesa, Mário Soares o recebeu  no palácio presidencial,   em Belém. O   então primeiro ministro Cavaco Silva, muito ligado às autoridades angolanas,   recusou recebe-lo na sede do governo - para não parecer recepção de Estado -   mas o fez na sede do seu partido  PSD.  Savimbi ficou satisfeito    porque para ele  não interessava o local mas a que nível seria recebido. 



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 Ao longo da estadia, Savimbi,  anunciou interrupção da sua viagem sem ter podido  dar seguimento a agenda que o levaria à  Coimbra e a ilha da  Madeira, acusando o MPLA de ter aproveitado o “sucesso” da sua visita  para “efectuar manobras militares com o intuito de bombardear províncias  controladas pela UNITA”.  Em Maio de 1991, repetiu a dose (recebido novamente em Belém,  e por empresários e etc). O seu   representante, em Lisboa,   Adalberto da Costa Júnior, mobilizou um aparato de simpatizantes que o  recebeu  no aeroporto da Portela, em Lisboa, como se fosse um Chefe de Estado.  


Antes de 1986, o seu antigo   representante na Inglaterra, Pedro “Tito” Chingunji,   teve dificuldades de o levar à Londres para ser recebido com “honras de Estado” mas levou-o a dissertar  no Centro Estratégicos deste país. A viagem pelo   impasse  no aeroporto, uma vez que o seu nome estava numa alegada  lista de terrorista. Savimbi, segundo observadores locais, estava muito conotado a África do Sul e recebe-lo com as tais desejadas “honras de Estado”  provocaria  mal estar na Comunidade da  Commonwealth.  O Vaticano, segundo Jaime Nogueira Pinto, em “Jogos Africanos”,  também rejeitou as suas diligencias   para ser recebido pelo Papa João Paulo II, na Santa Sé.   A “retaliação” deveu-se a raptos de missionários católicos  praticados pela UNITA. 


Já nos Estados Unidos da América (EUA), Jonas  Savimbi  foi  recebido  mais de uma vez  em recepções com cunho de “Estado”. Numa delas chateou-se por lhe terem pedido  que a esposa, Ana Isabel  não entrasse na sala oval, da Casa Branca  para não parecer recepção de Estado.  Foi sob  influencia do seu então representante em Washington, Jeremias Chitunda – que ai trabalhou até Agosto de 1986 – que Savimbi foi  recebido pela primeira vez na Casa Branca por Ronald Reagan. Voltou à viajar a Washington em Junho de 1988.  Em  Outubro de 1991, regressou a  Casa Branca, já com  George Bush Pai  e com direito a pose fotográfica no “jardim das rosas”, reservado a dignatários muito importantes.  Depois das recepções nos EUA  os restantes países  passaram a estar mais aberto para  ele. 


Na capital francesa, o seu representante,  Armindo Lukamba Paulo  “Gato” que  ai  estava desde 1983, construiu  redes de amizades no Governo de Édouard Balladur e levou  Jonas Savimbi  a ser    cordialmente recebido por mais  de quatro vezes. Savimbi era considerado pelo ex-diretor dos serviços secretos franceses, Dom Alexandre de Marenches que  chegou a visitar  à Jamba, e outras vezes  reuniu -se com ele,  em conjunto com o Rei dos Marrocos, em Rabat, para “assessemnt” sobre o fim da guerra fria.  Em 1989, os  franceses disponibilizam  um dos seus melhores arsenal da marinha para proteger a residência  que o líder da UNITA se hospedou, na cidade de Nice, onde fora  fazer às pazes  com Mobutu Sese Seko, do ex-Zaire,  depois da desfeita dos  “Acordo de Gbadolite”.  Antes das eleições de 1992,  e depois dos americanos o terem virado às costas, tentou reaproximar-se  aos  franceses, e numa das viagens foi  recebido pelo então  ministro dos negócios estrangeiros,  Roland Dumas. 


Depois  da assinatura dos  Acordos de Bicesse aos 31 de Maio de 1991 em Portugal, Jonas Savimbi  foi recebido com pompa e honra pela segunda vez na Alemanha numa recepção com timbre de  "visita de Estado".  Foi a figura africana que, ao visitar Berlim e Bona, teve o maior aparato de segurança jamais disponibilizado pelo Bundes Nachrichten Dienst-BND, os Serviços de Inteligência Externa Alemão, á alguém que não ostentasse  o título de Chefe de Estado (africano).  Nem mesmo o falecido Mobutu  ou o Presidente Omar Bongo tiveram tal aparato  quando  visitaram à  Alemanha. Paul Kagame, por exemplo,  teve direito a três Mercedes e um batidor.  Jonas Savimbi, teve direito a  temível  guarda federal de farda verde e agentes do BND  com metralhadoras automáticas á vista (nem mesmo o então  Chanceler Helmut Kohl, ostentava tamanho aparato de proteção). Jonas Savimbi ficou  hospedado no hotel Adlon de Berlim  onde já passou Bush, Gorbatschow e outros. Já em Bona ficou  no hotel  Maritim, onde alugou um andar  (ao contrário do ex-guerrilheiro  moçambicano Afonso Dhlakhama,  que se contentava com alguns quartos de um Hotel de 3 estrelas.) Tal aparato de segurança, deveu-se, como dizia  Alcides Sakala, a  “grande parte a sua influência no mundo e ao papel que desempenhava particularmente em África”. A influencia de Savimbi na Alemanha teve como fonte,  Franz Josef Strauss, o então  Ministro- Presidente do Estado da Bavaria e ex - Presidente da SCU (União Socialista Cristã),  que nutria fortes simpatias pelo guerrilheiro angolano.


17 anos depois do seu desaparecimento físico, o tema das “honras de Estado” voltaram a fazer parte da figura de Jonas Malheiro Savimbi.  Pelas imagens e vídeos,  do funeral notou-se que a população local  prestou-lhe honras a sua dimensão, houve banda de orquestra musical, estiveram deputados a Assembleia Nacional, e entidades estrangeiras. O jornalista   William Tonet, constatou que o governo não prestou-lhe  honras mas por fim as suas ossadas acabaram, ironicamente,  por ter passado a noite anterior ao funeral,  num quartel militar.  Acabou tendo um funeral  onde  os principais elementos que constituem um Estado (Povo, Exercito, território) estiveram presentes,  excepto  os membros do governo.  Em vida, Savimbi usufruiu   das “honras de Estado”  nas suas deslocações oficiais ao estrangeiro,  e na hora da inumação os seus apoiantes honraram-lhe com um funeral que não se difere  das honras que se  presta  a um nacionalista.



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