Um ano depois, propagam-se ondas de choque do Luanda Leaks. Há mistérios por resolver. A velocidade e o alcance do impacto do Luanda Leaks foram grandes até para os padrões do ICIJ, sigla inglesa pela qual é conhecido o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.
As histórias publicadas a partir de 19 de janeiro de 2020 pelo Expresso e pela SIC, em Portugal, e por dezenas de outros media parceiros do ICIJ em 20 países, tiveram consequências fortes e imediatas.
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Olhar para o que aconteceu há um ano permite ter uma ideia do ritmo. Passados dois dias, a PricewaterhouseCoopers (PwC), uma das consultoras internacionais com que Isabel dos Santos mais trabalhou, afastava um dos seus gestores e cortava relações com a empresária. Três dias depois, era anunciada a sua saída de principal acionista do banco EuroBIC e ela e o marido eram constituídos arguidos em Angola por peculato, abuso de poder e lavagem de dinheiro. Passados quatro dias, o procurador-geral da República angolano vinha a Lisboa pedir a cooperação da sua congénere portuguesa, enquanto a CMVM dava início a uma série de inspeções a empresas que tinham auditado os negócios da filha de José Eduardo dos Santos. E em menos de um mês todas as suas contas em Portugal eram arrestadas.
Com a pandemia a dominar a atenção mediática em Portugal a partir de março, o desmoronamento do império de Isabel dos Santos passou para segundo plano, mas os efeitos do Luanda Leaks continuaram ao longo do resto do ano. Em abril, a revista “Forbes” calculava que a fortuna daquela que ficara conhecida em 2013 como a mulher mais rica de África baixara para os 1400 milhões de dólares, menos 40% do que um ano antes.
Judiciária fez buscas
Em junho, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e a Polícia Judiciária faziam buscas em vários escritórios e casas em Portugal, não só de Isabel dos Santos, mas também de alguns dos seus colaboradores mais próximos, incluindo o gestor Mário Leite da Silva e o advogado Jorge Brito Pereira. Em causa estavam crimes relacionados com a história principal publicada pelo Expresso a 19 de janeiro: mais de 100 milhões de dólares (€82,5 milhões) pagos pela Sonangol a uma companhia offshore no Dubai por ordem de Isabel dos Santos, quando esteve à frente da petrolífera estatal angolana, com base num contrato forjado em Londres e com faturas entregues já depois de ter sido exonerada do cargo.
Essa companhia offshore, de nome Matter Business Solutions, tinha sido criada naquela cidade dos Emirados Árabes Unidos por Brito Pereira e Mário Leite da Silva, assumindo um papel de intermediária na relação da Sonangol com algumas consultoras internacionais, incluindo a Boston Consulting Group (BCG) e a PwC. Esta última acumulava com a função de auditora da petrolífera. Os mais de 100 milhões de dólares pagos pela Sonangol à Matter foram transferidos de uma conta da petrolífera no EuroBIC em Lisboa para uma conta no Emirates NBD, um dos maiores bancos do Médio Oriente, controlado pelo Estado.
O procurador-geral angolano foi ao Dubai pedir a colaboração das autoridades, mas não houve nenhum avanço
Mas qual foi o destino do dinheiro que entrou nessa conta? Quem recebeu exatamente o quê? Contactada esta semana pelo Expresso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana revelou que o procurador-geral Helder Pitta-Grós esteve no Dubai em novembro de 2019, para estabelecer um protocolo de colaboração com as autoridades locais, com vista a tentar facilitar a obtenção de informações relativas a Isabel dos Santos e a “outros angolanos” que têm usado aquele território, mas não houve sequência. “Estava prevista uma visita a Angola das autoridades do Dubai para a assinatura do protocolo, mas a covid veio adiar tudo”, revelou Álvaro João, diretor de comunicação da PGR.
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