Sempre foi assim. A avaliação de desempenho dos quadros e das carreiras no país persiste em seguir por caminhos tortuosos. E pelos vistos não será tão cedo que o fenómeno será extirpado.
Quer em cargos governamentais como em postos no interior do partido, um mesmo quadro, por mais ruim que seja, pode ser visto hoje numa posição de base como, do pé para a mão, aparecer num cargo de topo.
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Mas que ninguém se admire se no dia seguinte o mesmo sujeito for colocado noutra função e categoria diametralmente opostas ao que vinha fazendo.
Vejamos o exemplo, tirado aleatoriamente entre muitos, de Carlos Alberto Cavuquila. Este mesmo que ontem os telespectadores da Tv Zimbo viram a fazer comentários a propósito de um problema que não há meio de ser solucionado: o do Bilhete de Identidade Nacional.
Confesso que fiquei boquiaberto ao ver o dito Cavuquila nas vestes de director nacional da Identificação Civil e Criminal do Ministério da Justiça, cargo em que, pelos vistos, já se encontra há quase um ano.
Até onde vai o meu conhecimento, este Cavuquila é o mesmo que, entre os anos 2000 e 2002, foi vice-governador da província do Bengo, quando Isalino Mendes era o governador.
A lembrança me é tão nítida porque, nessa época, o elenco que governava o Bengo esteve envolvido num escândalo administrativo de altas proporcões dado à estampa pelo extinto jornal 'Angolense', com base num inquérito conduzido pela inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE). Foi um dos primeiros dossiers de clara malversação de dinheiros do Estado que essa instituição, na altura dirigida por Joaquim Mande, havia tido em mãos e fizera chegar a instâncias superiores como a Presidência da República.
Cavuquila, e não apenas Isalino Mendes, tinha o nome bem estampado nesse escândalo que, como se sabe, acabou por ser resolvido à boa maneira 'eduardense': num 'etu mudietu' em que todo o lixo -- isto é, as responsabilidades civis e criminais apuradas -- foi empurrado para baixo do tapete.
Depois desse escândalo, de Isalino Mendes quase nunca mais se teve notícia. Mas de Carlos Cavuquila, sim. Este foi seguindo a vida, tranquilito da silva. Tanto que em 2007/2008 já estava de nova 'farpela' (um novo cargo), o de administrador municipal de Cacuaco. Aí permaneceu intocável pelo MPLA praticamente uma década, mesmo sabendo-se que o seu desempenho levou o município de Cacuaco, enquanto circunscrição eleitoral, a ir parar, de bandeja, às mãos do seu principal adversário, a UNITA, à semelhança do que se passa em Viana.
Somente em 2018 sacaram finalmente o homem de Cacuaco. Esteve um tempinho a repousar como assessor no Governo Provincial de Luanda, mas ressurge agora, no Ministério da Justiça, como director nacional de identificação Civil e Criminal.
A questão que se coloca agora até nem é saber se desceu ou subiu, pois está claro que trataram de arranjar ao homem um tachozinho para passar o tempo. O problema está em saber onde é que, no vaivém entre o Bengo e Cacuaco, Carlos Cavuquila ganhou currículo e bagagem que o habilitassem a dirigir a velha problemática dos bilhetes de identidade.
Ao longo desses 45 anos, não houve nesse sector alguém que aí tenha feito carreira e, por isso mesmo, conhecedor do terreno e do assunto? O país não produziu um conservador ou um notário de créditos firmados, que pudesse ser lançado nessa grande empresa de "dar identidade" aos milhões de angolanos que são diariamente torturados para ter um BI?
Se a opção foi entregar o sector não a um tecnocrata da área, mas a um senhor que passou duas décadas a tratar de negociatas de terrenos, então só podemos concluir que o MPLA e o seu governo soçobraram também nessa matéria.
Esta é a forma equivocada como o MPLA e o seu governo tratam de assuntos nevrálgicos como a gestão das carreiras não apenas no interior do próprio partido, como dos cidadãos em geral. Não parece haver um critério, definitivo e maturado, de avaliação de desempenho, que permita aos cidadãos seguirem carreiras técnicas e administrativas sem quaisquer sobressaltos.
As pessoas não podem passar a vida seguindo uma carreira numa repartição pública, ou na direcção de algum ministério, e do dia para a noite se verem ultrapassadas por alguém saido do meio da rua, como foi o caso de Carlos Cavuquila no Ministério da Justiça.
Por: Severino Carlos
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