A Prisão dos Cinco Deputados da UNITA – Proc. 05/99, TS-Carlos Tiago Kandanda


Esta nota vem a propósito para fazer uma adenda e corrigir o lapso, que consta no Artigo publicado no Portal do Club K. Net, do dia 06 de Janeiro de 2021, intitulado: “A Recordação da Visita ao Campo de Reclusão do Tarrafal.”


Para dizer que, nós os Cinco Deputados da UNITA fomos detidos nos dias 09 e 13 de Janeiro de 1999 e tivemos a «Soltura Provisoria»no dia 14 de Outubro de 1999. No Artigo acima referido a data que nele está escrito é de 09 e 13 de Fevereiro, que deve ser corrigida porque foi um lapso dactilográfico.


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Quanto à Adenda, importa dizer que, na tentativa de forjar dados falsos para imputar-nos o crime, de «rebelião armada contra a segurança do Estado», em “flagrante delito,” fomos conduzidos a uma Sala de imagens, dentro do Laboratório Central Criminalístico de Luanda, junto do cemitério da Santa Ana. Refiro-me aos seguintes Deputados: Manuel Savihemba, Carlos Alberto Calitas, João Vicente Viemba, Daniel José Domingos Maluka e Carlos Tiago Kandanda, que foram implicados no Proc. 05/99, do Tribunal Supremo. Na Sala de imagens, já referida atrás, encontramos um monte de armas de fogo, granadas, explosivos e carregadores. Cada um de nós foi colocado uma faixa no peito e nas costas, escrita com as seguintes letras: “Rebelião Armada – Terroristas.”


Tiraram imagens em grupo e individualmente: de parte de frente, de trás e de cada lado. Obrigaram-nos para assegurar as armas, granadas, explosivos e meter os carregadores na cintura. Mas nós não aceitamos fazê-lo. Estávamos cientes de que, este cenário visava para nos comprometer, para dizer que, fomos apanhados com armas, em flagrante delito. Ameaçaram-nos fortemente, mas nós rejeitamos firmemente e ficamos revoltados. Os Operativos do Futungo de Belas ficaram bem nervosos, e nos devolveram para as nossas celas solitárias. Neste dia passamos 24 horas sem permitir a entrada da comida e da água potável que as nossas famílias tinham trazidas. Creio que as imagens que fomos tirados devem estar nos Arquivos do Presidente José Eduardo dos Santos, da Procuradoria-Geral da República, do Ministério do Interior, do Tribunal Supremo e da Assembleia Nacional.


No caso deste último, provavelmente tivesse sido um dos motivos que fizera com que o Presidente da Assembleia Nacional, Doutor Roberto de Almeida, tomasse a medida de remover do Arquivo da Assembleia Nacional todos os dados relacionados com este Proc. 05/99. Isso para não deixar qualquer vestígio que pudesse comprometer o Órgão Legislativo. Gostaria de afirmar que, antes de sermos detidos houve uma pressão enorme sobre os Deputados da UNITA. No meu caso pessoal, por duas vezes fui retirado da minha casa, no Maculusso, na rua Che Guevara Nº 81, e escoltado por três caros fechados dos Agentes do Futungo de Belas para o Hotel Méridien, no Largo do Porto de Luanda, na Marginal.


Posto lá, fui levado ao último Andar, numa Sala com camaras montadas e máquinas de filmagem. Fiquei persuadido para assinar um documento secreto, relacionado com a «integridade física» do Doutor Jonas Malheiro Savimbi. Em troca haveria de receber um valor elevado em dólares norte-americanos. Aliás, na sala, perto de mim, estavam duas caixas abertas com notas novas de dólares norte-americanos, bem arrumadas. Eu rejeitei categoricamente fazer parte da conspiração. Creio que, o Mais Velho Agostinho André Mendes de Carvalho (Uanhenga Xitu)esteve ao corrente das manobras do Presidente José Eduardo dos Santos. Eramos vizinhos no Maculusso, e por duas vezes chamou-me para a casa dele, e aconselhou-me para deixar o país de imediato, e exilar-se na Europa, porque a minha vida estava em perigo. Dizia-me que, em voz profunda e séria: «Rapaz, você está em frente do cilindro, que vai passar por cima de ti, não deve brincar com a tua vida, eu sei o que anda por ai».


Nessas conversas, o Mais Velho “Uanhenga Xitu” garantiu que ir-me-ia ajudar sair clandestinamente de Luanda para o Exterior. Porém, eu tivera-lhe informado de que não estaria em condições de sair de Luanda, deixando atrás a minha esposa, os meus filhos e muitos Quadros da UNITA, com as suas famílias, que se encontravam em Luanda sob a nossa responsabilidade, como M/velhos da Luta de Libertação Nacional. Ele ficou muito triste, e disse-me: «Eu já tinha aconselhado Elias Salupetu Pena e Alicerces Mango para deixar Luanda cedo; mas eles não o fizeram, e tu sabes o que depois aconteceu com eles». Quando fomos presos, o M/velho “Uanhenga Xitu” vinha três vezes na Cadeia para nos visitar e nos aconselhar de como devíamos proceder enquanto estivermos nesta condição. Ele foi, de facto, um Grande Nacionalista, um Patriota Convicto e um Africano Genuíno. Que a terra seja-lhe leve.


Esses pormenores, que não constam no Artigo acima referido, são importantes para demonstrar a “má-fé e o dolo” que caracterizou este Processo macabro: de prender, investigar, forjar dados falsos, imputar crimes inexistentes e condenar injustamente o arguido. Este é o método que prevaleceu no sistema da Justiça Angolana, através do qual, muita gente foram castigadas injustamente e tantos os outros morreram nessas circunstâncias. Tenho certeza de que, este método fascista ainda contínua em vigor. Todavia, Deus é Grande e é Todo-Poderoso. Acredito que, a «Nova Geração»será capaz de libertar-se desta cultura sectária, assente no delírio do poder, no revanchismo, no chauvinismo, no etnocentrismo, no racismo, na intolerância política, na exclusão social, na hegemonia política e na cultura de violência.




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