Manuel Vicente adverte que “essa miúda (Isabel dos Santos) está a abrir muitas portas. Numa delas encontrará o pai”
E, de repente, a tampa saltou e o conteúdo começa a fugir da panela.
Em Angola, não há como não ver o óbvio: as comadres zangaram-se a valer.
Uns e outros têm suas impressões digitais nas novas denúncias que envolvem todos eles em práticas comuns a todos: enriquecimento à custa do erário.
Isabel dos Santos e marido estão a ser investigados nos Estados Unidos; em Angola, aparentemente está apenas no começo a listagem do impressionante património imobiliário que São Vicente construiu à pala da Sonangol; em Portugal, a TVI pôs o dedo na chaga de Edeltrudes Costa; e é também a partir de Portugal que Mário Leite, indefetível de Isabel dos Santos, acusou Manuel Vicente de ter levado ao próprio bolso milhões de dólares que eram pertença de todos os angolanos. Em 2018, Carlos Saturnino acusou a sua antecessora, Isabel dos Santos, de haver assaltado os cofres da empresa já depois de ser demitida. O então PCA da Sonangol avaliou em 38 milhões o golpe que Isabel teria dado, passava já da 25ª hora do jogo. Agora, nas páginas do semanário Valor Económico, Carlos Saturnino recebeu o troco.
“Criada em 1995, a Sonils foi desde então detida pela Sonangol (30%) e a Orlean Invest Holding (OI OSC). Em 2011, a petrolífera nacional adquiriu, por 297 milhões de dólares, a participação da OI OSC, passando a deter 100% da empresa. Ainda assim, a Socalop e Capital Port, SA continuaram a reclamar dividendos de mais de 55 milhões correspondentes ao período 2012/2014, quando a Sonangol já era o proprietário único da empresa.
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Documentos consultados pelo VALOR mostram que, apesar de a Sonangol passar a detentora de 100% da Sonils, em 2014 estavam reservadas nas contas da Sonils 51,5 milhões de dólares para pagamento de dividendos à Orlean Invest Holding (que depois troca de denominação para Inloc) referente ao exercício 2013 e 2014”, lê-se numa extensa denúncia do Valor Económico sobre os negócios de Carlos Saturnino enquanto esteve à frente da Sonils, uma subsidiaria da Sonangol.
O Valor Económico é associado a José Filomeno dos Santos, Zenu, irmão de Isabel.
Enfim, estamos perante o cruzar de vários fogos.
O mais fresco escândalo ocorrido na Sonils, uma subsidiária da Sonangol, envolvendo Carlos Saturnino é, também, a mais fresca evidência de que na cúpula da petrolífera angolana há pouca gente com autoridade moral para atirar pedras ao telhado alheio. A regra diz que coisas como esta, antes de melhorarem, tendem a piorar pelo menos uma vez. Isto quer dizer que Saturnino só perdeu a camisa. A seguir virão as calças. Foi o que se passou com Edeltrudes Costa.
Uma semana antes de o Valor Económico “desnudar” as maracutaias e trambiquices de Carlos Saturnino, Mário Leite, braço-direito de Isabel dos Santos fez as tais denúncias que forçaram o sempre omisso Manuel Vicente a sair da toca.
As revelações do português basearam-se num ofício da nossa Procuradoria Geral República. As denúncias foram reencaminhadas a todos quantos neste mundo que têm poder para entalar Manuel Vicente, nomeadamente, a nossa própria PGR, Banco Central Europeu, Banco de Portugal, Bank of America e Banco Nacional de Angola.
Não considerar que Isabel dos Santos tem as “impressões digitais” nas denúncias do seu indefetível colaborador seria muita ingenuidade.
Da denúncia fica subjacente a ideia de que enquanto movia uma acção contra Isabel dos Santos e contra o próprio Mário Leite a PGR “entregou” Manuel Vicente. No processo que o Estado moveu contra os dois, estava uma arma de arremesso agora usada contra o antigo vice-presidente da República.
Fisicamente distantes, cada uma das peças desse intrincado jogo acompanha, contudo, os movimentos das outras. De todos, Mário Leite é quem está melhor. Está em Portugal, seu país, onde não tem os constrangimentos que os outros têm. Isabel “entrega” os antigos aliados a partir do tórrido Dubai, onde se refugiou. Manuel Vicente estuda os movimentos da adversária a partir do eixo Luanda-Malange, onde agora passa a maior parte do tempo. São Vicente está a “estagiar” na colónia de “férias” de Viana. O estágio é importante, já que pode ter de enfrentar longo tempo atrás das grades. Edeltrudes Costa e Carlos Saturnino vivem o pesadelo de não saber o que lhes reserva o dia de amanhã.
Como só estamos no adro desta zanga de comadres, convém lembrar aqui uma advertência que Manuel Vicente fez em Janeiro deste ano. “Nesta guerra não haverá vencidos nem vencedores”.
E perante as veladas ameaças de Isabel dos Santos de dizer tudo o que sabe, Manuel Vicente, com a autoridade que lhe advém do facto de ter sido PCA da Sonangol no período da grande roubalheira, o que na linguagem da máfia significa dizer que sabe onde foram enterrados todos os cadáveres, vai avisando: “essa miúda está a abrir muitas portas. Numa delas encontrará o pai”. Quando leu isso, Isabel logo se apressou a dizer que não fez ameaça nenhuma. Seguramente, foi o medo que lhe sugeriu o recuo. Afinal, ela também tem telhados de vidro. Além disso, já vou um irmão entalado. Em todo o caso, na advertência de Manuel Vicente está o recado de que os estilhaços dessa guerra podem chegar a José Eduardo dos Santos. Razão, pois, para alertar: prepara-te Zé Du!
Em Março de 2003, quando os americanos atacaram pela segunda vez o seu país, Saddam Hussein disse que a invasão ao Iraque seria a “mãe de todas as guerras”.
Em Angola, o que se está a passar agora é a prova de que a Sonangol é a mãe de todas as guerras de comadres. Porque ela é a mãe de todas as fortunas mal havidas neste país.
Rafael Marques de Morais, corroborado por várias entidades, tem descrito a Sonangol como o
epicentro da corrupção em Angola.
Mas Justino Pinto de Andrade contrapõe: “não nos deixemos enganar! O epicentro da corrupção não é nada a Sonangol. Sonangol funcionou somente como um dos tentáculos do Polvo. O epicentro da corrupção em Angola é o MPLA, como tem ficado demonstrado a cada dia que passa”.
O MPLA bem tem se esforçado por ignorar as exigências da oposição no sentido da instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para passar a limpo as contas da Sonangol e de outras instituições públicas. Desde que tomou posse, há 3 anos, o Presidente João Lourenço nunca deu o mais leve sinal de que deseje compulsar as contas da nossa maior empresa. Mas o avolumar das denúncias, a imensidão da roupa suja que agora é lavada em hasta pública, a incredulidade e indisposição dos cidadãos, levarão, cedo ou tarde, a um inevitável colocar o dedo na ferida.
Correio Angolense
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