Dino Nascimento: o último cortesão (I)

Há uma semana, muitos leitores foram tomados de surpresa pelas notícias do congelamento de perto de 1 bilião de dólares por um banco suíço, de dinheiros sonegados à seguradora AAA Gestão de Activos, pelo genro do primeiro presidente de Angola, Carlos Manuel de São Vicente (https://www.icij.org/investigations/luanda-leaks/switzerland-freezes-angolan-tycoons-900-million-fortune/ e https://gothamcity.ch/tag/carlos-manuel-de-sao-vicente/).

Trata-se de um figura marginal na teia do poder de José Eduardo dos Santos. Então agora imaginem a “massa gamada” pelas figuras mais íntimas da vassalagem a JES. Quanto biliões foram surripiados para offshores nas Bahamas, Bermudas, Cayman Island, Maurícias, Dubai ou Suíça?

Do círculo mais íntimo de JES vamos hoje falar do apertar do cerco a Leopoldino Fragoso do Nascimento, o famigerado general Dino, o suposto engenheiro formado na Bulgária, convertido em general de gabinete, de que não se conhece uma única missão militar, a não ser o “chibo” e a graxa a JES e a antiga primeira dama.

No seio da classe castrense são muitas as vozes que não lhe reconhecem sequer as insígnias.

Perfil

Quem é Dino Nascimento? O general Dino, como é vulgarmente conhecido, é o ex-chefe de telecomunicações de José Eduardo dos Santos, que aproveitando a sua proximidade a JES e a antiga Primeira Dama, por passes de uma arte hoje conhecida, o uso de dinheiros da SONANGOL, se tornou sócio da Unitel em 2001. Através do mesmo “kumbu” da companhia pública apanhou a boleia e entrou no capital da Trafigura em 2009 ( https://foreignpolicy.com/2014/02/13/the-750-million-dollar-man/ ). No imobiliário, com a apropriação e destruição do Largo do Kinaxixi e do respectivo mercado público, num dos mais frontais atentados à cultura e à história da cidade de Luanda ( https://pt.globalvoices.org/2008/08/29/angola-e-o-mercado-historico-veio-abaixo/ ), deu início à construção da Kinaxixi Towers, um projeto imobiliário inacabado, edificado com recursos públicos e financiamento bancário até hoje não amortizado. Pelo meio fez o “bisno” da Zahara Logistics e os supermercados Kero, dois elefantes brancos e ainda a Biocom, também participada pela petrolífera estatal.

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Na verdade, Dino é daquelas personagens estranhas, a que JES “dava corda”, uma espécie de Bento Kangamba do palácio: não é inteligente, como um Toninho Van-Dúnem, não tem a “finória” de um Elísio de Figueiredo, na gestão é um pé de chumbo, longe da sagacidade, liderança e bravura de um Manuel Vicente. Todos os projetos que desenvolveu serviram apenas para sonegar e branquear fundos para o exterior enquanto usava crédito bancário para as despesas desses empreendimentos, hoje um pesado fardo para a banca local.

Dino é conhecido pela sua desenfreada paixão pelo dinheiro e pelo seu apego às coisas do Estado. Um “afobado pelo kumbu” público. Terá dito, em tom de ameaça, a propósito de um processo de distribuição de viaturas públicas, para incluir um parente próximo: “nós somos os donos deste país”. É também conhecido pelo seu ódio visceral a quadros nacionais capazes. A inteligência assusta-o. É um homem de rancores e fígados inexplicáveis, habituado a emprenhar pelos ouvidos.  Quando o carismático Toninho Van-Dúnem foi exonerado de secretário do Conselho de Ministros, apressou-se a propor a JES o seu afastamento da estrutura acionista da Geni, sugestão que o Presidente recusou liminarmente.

Dino cresceu nas Bs e na verdade, embora tenha saído das Bs, o pior do espírito de bairro não saiu dele. O bom das Bs deixou-lhe apressadamente.

Aliados

Entre os maiores aliados indiretos e protetores do general, curiosamente, hoje pontifica o procurador-geral da República, Hélder Pitta Grós, parente por afinidade do general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, sócio de Dino. Enquanto João Lourenço não nomear um procurador-geral completamente descomprometido com o passado, a caça aos marimbondos será mais lenta e refreada.

Um aliado circunstancial, foi Manuel Vicente. Hoje está mais afastado. Dino é ligeiro em se afastar das figuras desfavorecidas pelo poder. Assim, quando Eduardo dos Santos descartou Vicente como seu sucessor, este depressa o exclui do seu círculo. Entretanto, quando o próprio Dino caiu em desgraça, com a ascensão de João Lourenço, e percebendo a estima do novo poder por Manuel Vicente, tentou a reaproximação.

Na banca, Dino teve como aliado Valter Filipe. O antigo governador deu-lhe uma grande ajuda na sangria de divisas para as suas offshore, sob a capa de importação de mercadorias que nunca entraram no país. Com razão terá comentado entre amigos “nunca mais vou ser pobre”, tal é a dimensão dos seus fundos no estrangeiro.

Ainda na área financeira, Dino tem em Carlos Silva um aliado circunstancial, de longa data. Convêm-lhe. No BAI mantém uma boa relação com Hélder Aguiar. O Banco Económico é a instituição que mais sangrou sob o impulso de general. Até crédito para comprar participações no próprio banco pediu, de acordo com uma entrevista de Álvaro Sobrinho, um aliado perdido, concedida à TPA (  https://www.youtube.com/watch?v=Z8kGmGr6AK4 ).

João Santos, um antigo arrumador de prateleiras do Pão de Açúcar em Portugal, é o seu homem de domínio nos Kero & Cª e em toda parafernália de equilíbrios assentes na evasão de divisas. É ele o rosto da pressão e coação junto da banca comercial e que gere milhões de ativos em crédito bancário, mais de 11 supermercados, apesar da sua manifesta inépcia.

Dino é o exemplo perfeito dos velhos cortesãos palacianos. Não importa o ímpeto empreendedor, a inteligência ou criatividade. Importa apenas a proximidade à corte.  Michael Weiss, em artigo escrito na Foreign Police sobre o general de gabinete, punha o tema noutro ângulo: “os regimes revolucionários comunistas têm um estranho hábito de se transformarem em corruptos que praticam o capitalismo selvagem, e Angola – com as suas grandes reservas de petróleo e profusão de multimilionários – tem provado não ser excepção”.
Manuela Weiher.

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