Quem me dera ser “gatuno” de peculato.
Gatuno de peculato tem condenação de luxo!
Sancara( nome de guerra) um soldado destemido das FAPLA. Ingressou a exército Angolano do MPLA aos 13 anos de idade no longínquo ano de 1985 na dizimada brigada 49.
Era um atirador de primeira e tinha como a metralhadora 46 sua arma de combate.
Na verdade Sancara nem sabia porque lutava.
Um dia o seu comandante que se chamava Cara Podre ordenou-lhe a cumprir uma missão de alto risco denominado recto profundo com apenas mais quadro soldados ( nem se quer era uma secção de tropas regulares).
Sancara e seus quatro soldados penetraram o terreno inimigo, estimaram o número de homens e a tipologia das armas e bateram em retirada.
De volta os 5 soldados chocaram com um batalham do inimigo, trocaram disparos rápidos de captura e salva-se quem poder.
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A equipa de Sancara era bem treinada e dominava a orientação terrestre. Durante o briefing da missão ficou bem claro “ todos por um e um por todos” e enquanto não se confirmasse a morte de um deles é porque todos estavam vivos e ninguém seria deixado no terreno.
Os 5 “vítimas” destemidos haviam concordado um ponto de reencontro em caso de seguirem direções diferentes. 15 dias depois a equipa estava completa sendo o Sargento Sancara o último a chegar.
Uma vez juntos, embora debilitados, tocaram a caminhada rumo ao comando da zona. Pelo caminho, num dos bairros da nossa Angola profunda, Sancara ordenou um dos soldados a penetrar o bairro e pedir alimento enquanto os 4 soldados posicionaram-se num ponto estratégico em prontidão combativa protegendo o colega.
Infelizmente, o soba negou ajudar o soldado e como consequência Sancara ordenou que se apanhasse um cabrito com ou sem autorização do Soba e assim foi feito.
Um dia viajo a cidade da Gabela e procuro saber daquele Soldado famoso que tinha participado em operações militar de Cabinda ao Cunene e informaram-me que estava preso na comarca.
Decidi visita-lo e o guarda prisional negou-se por se tratar de um altamente perigoso. Tive que exibir um passe militar dos tempos em que era um miúdo oficial e assim fui permitido.
Sancara estava magro, cheio de sarna, debilitado, sujo... Sancara não era pessoa... Era outra coisa.
-Sancara o que se passa? Estás aqui porquê?
-Roubei um cabrito para dar de comer a minha tropa.
Estás aqui há quanto tempo?
-Há quase quatro anos
-Foste Julgado?
-Não comandante
Perguntei ao guarda prisional em serviço se soubesse alguma coisa sobre Sancara que prontamente respondeu que não.
Estava Eu e meu irmão Capre.
Perguntei ao professor Capre, aqui na Gabela existe algum procurador? Temos sim qualquer coisa equivalente...
Capre, faz-me um favor:
Como tenho de ir hoje a Luanda para viajar amanhã para o mar vai ter a este suposto procurador e conta-lhe esta história e ouve a opinião dele e o que pode ser feito.
Três dias depois... Alô Capre? estas bala meu? Fizeste bem de ligar Sancara está livre... Disparou o professor visivelmente emocionado. Falamos do passado, do presente e do que seria o futuro.
O futuro é hoje dia 14 de agosto de 2020 ... 15 anos depois e está tudo na mesma.
Até hoje, não percebo nada da nossa justiça!
Hoje, Só sei que é melhor roubar milhões, de preferência quinhentos ou mais, do que roubar cabrito.
Gatuno de peculato tem condenação de luxo!
Sancara além de cumprir 25 anos de tropa, levou quatro de cadeia sem ser julgado e hoje é quase mendigo não fosse a consideração e estima que nutro por ele. Ele está comigo!
Fernando Martins
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