QUIM RIBEIRO: SUPLENTE OU DESCARTADO DA MÁQUINA? OSVALDO CAHOLO

A partir dos primeiros contactos passou a chamar-me por Comandante, inclusive numa das cartas que escrevi  solicitando a bola de futebol salão para jogarmos no nosso pátio,  quando nos foi restringido o contacto com a sua ala, assinei no final Osvaldo Kaholo, Comandante da 1 Região. Tudo indicava que o Quim tinha muitos livros, homem de leituras,  pois chegou a disponibilizar livros a algumas pessoas.

No dia 11 de Novembro de 2015, depois da partida entre os reclusos  e a equipa dos efectivos dos serviços prisionais,  em alusão a efeméride, a secção de reeducação organizou uma confraternização, como sempre esteve em frente a Sub-inspectora Sónia. O Quim vibrava e ao mesmo tempo como treinador fazia as mexidas. Perdemos a partida mas, tivemos uma grande exibição. Enquanto estavam a organizar as mesas para a confraternização, ficamos a bater um papo, contou-me tantas coisas e prometeu-me ser mais aberto um dia quando estivéssemos fora dali. Tudo pronto, a Sónia pediu ao Quim Ribeiro para tecer algumas palavras a volta da efeméride e da convivência. Este por sua vez deu-me a palavra " Eu não vou falar, vai falar o meu Comandante" disse. Eu de imediato ripostei " Em respeito aos princípios africanos, acho muito abusado de minha parte tomar a palavra diante de mais velho. Palavras aos mais velhos, penso que fará uma melhor abordagem, uma vez que viveu o contexto revolucionário e da luta de libertação, esteve na direcção do país. O Quim Ribeiro falou e depois ficamos ali a conversar, bebendo e comendo.

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 Ele disse-me, que os nossos contactos eram tão curtos e que teríamos que um dia sentarmos, sem pressões dos serviços prisionais, pois todo e qualquer contacto da nossa parte, 15 (ainda não éramos 15 + 2-duas, as meninas ainda estavam em liberdade) era logo interrompido. De realçar que não  fui o único que o ex-comandante da Polícia em Luanda tentou encetar contactos e criar uma amizade. Para mim, era muito estranho a simpatia de um homem da máquina, e todo o historial do modus operandi e vivendis da máfia do MPLA. Para mim os contactos eram de muita desconfiança e pouca franqueza. Aliás, concentrava -me no julgamento, era o que levou-me ao Hospital Prisional de São Paulo, HPSP, era o julgamento  e mais nada.

Mais tarde recebemos a notícia da prisão domiciliária, para em Março de 2016 condenados. A 29 de Junho do mesmo ano, recebemos a aministia da vergonha, que culminou com a nossa "liberdade". Daí fiquei sem contacto qualquer do Quim Ribeiro. Numa das visitas que efectuei a casa da minha mãe,  depois do habitual mufete, recordamos a longo e terrível percurso, falou-me de quando foi entregar a carta ao General Zé Maria, os efectivos diziam-lhe a senhora é corajosa demais, ainda mais pelo conteúdo da carta. Falou-me do homem, estafeta da PGR que levou-lhe uma carta em casa, no Sambizanga. Para ela era algo do outro mundo, como foi possível a PGR localizar a residência e fazer a entrega. Assinou o protocolo e disse ao jovem " já conheces a casa, quando quiserem matar-nos venham aqui mesmo, pois vocês são autênticos assassinos". Contou-me muita coisa e, de seguida perguntou-me " o teu amigo, o Quim Ribeiro? ". Respondi-lhe que não sabia de nada a respeito dele, disse que essa gente é perigosa e que todo cuidado é pouco mas, que efectuaria uma visita lá no São Paulo.

Não tardou fui visitá-lo no HPSP. Quim Ribeiro recebeu-me muito bem, nos abraçamos, era a primeira vez que voltamos a nos encontrar. Com um sorriso e admiração, fez questão de  manifestar a sua satisfação " comandante". Contou-me depois que o restante estavam soltos... .
Efectuei-lhe visitas,das mesmas fez-me algumas revelações bombásticas.

Continuo no próximo texto

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