JONAS SAVIMBI QUIS DECLARAR CESSAR-FOGO UNILATERAL NO NATAL ANTERIOR À SUA MORTE

O líder fundador da UNITA – que neste 3 de Agosto completaria 86 anos se estivesse vivo – já teria, supostamente, em mãos uma Declaração de Cessação de Hostilidades, cuja divulgação formal esteve para ser feita, unilateralmente, no dia 17 de Dezembro de 2001. Escassos dias, portanto, do último Natal que ele gozou em vida, antes de ser morto pelo exército governamental, a 22 de Fevereiro de 2002. Os seus comandantes militares, nas várias zonas operacionais do teatro de guerra no país, estariam ao corrente desse plano de tréguas e apenas aguardavam pela ordem de Savimbi para a sua execução. A declaração com vista ao cessar-fogo resultara de um aturado processo de concertação envolvendo entidades internacionais, em particular a Igreja Católica.
Frequentemente negligenciados, para não dizer ignorados – apesar da sua inegável importância histórica para a compreensão dos derradeiros passos diplomáticos dados antes do desfecho da prolongada guerra civil que Angola viveu desde a sua Independência –, relatos destes factos ficaram registados para a posteridade em algumas edições do “Angolense”, jornal que precedeu o “Semanário Angolense”.

 Retomamos, aqui, as declarações de Adalberto da Costa Júnior que dão conta deste facto, feitas ao jornal “Angolense”, numa edição especial referente ao primeiro ano da morte de Jonas Savimbi, estávamos então em Agosto de 2003. Na ocasião, Costa Júnior, na qualidade de porta-voz da UNITA e seu representante em Luanda, e João Melo, como deputado do MPLA, haviam sido convidados pela publicação para esgrimir argumentos em torno do tema, dentro da rubrica “Fogo Cruzado” – que era um espaço de leitura obrigatória numa época em que o debate político nos media era praticamente incipiente e, numa certa perspectiva, quase “ficção”.

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Em rigor, ao mesmo “Angolense” e antes de Adalberto Júnior, um outro dirigente da UNITA, Alcides Sakala no caso, já havia revelado que Jonas Savimbi estaria disposto a ordenar, unilateralmente, o cessar-fogo às suas tropas antes do Natal de 2001. Mas, em edição posterior, foi a vez de Adalberto Júnior acrescentar aspectos mais pormenorizados sobre o assunto, dizendo que se tratara do culminar de um processo de concertação, em que ele próprio participara, na altura como representante da UNITA em Roma, logo o que mais perto estava de entidades da Igreja Católica também envolvidas.
 Na sua peça para o “Fogo Cruzado” com João Melo, Adalberto Júnior escreveu que, no decurso dessa concertação, “ao Dr. Savimbi foram solicitados alguns passos concretos”, e este anuira tendo “comunicado telefonicamente com algumas destas instituições”, entre as quais figuravam algumas angolanas. Além disso, segundo Adalberto Júnior, a posição final da UNITA havia sido igualmente produto de “inúmeras consultas da direcção do partido e os seus comandantes militares”.

No entanto, o plano de cessar-fogo unilateral viria a sofrer sérias contrariedades. Isto sucedeu no dia 15 de Dezembro quando Jonas Savimbi – encurralado pelo exército governamental que lhe movia uma impiedosa caça ao homem desde que, em finais de 1999, retomara o controlo das vilas de Bailundo e Andulo, as duas cidadelas do líder da UNITA –, “perdeu totalmente as suas comunicações, por efeito electrónico, coincidindo com uma enorme ofensiva das FAA”.
Nunca foi clara a versão do Governo sobre estes factos. Mas convém recordar que no mês de Novembro de 2001 o Presidente José Eduardo dos Santos lançara ao líder da UNITA o famoso últimato com os três cenários: ou ele se apresentava voluntariamente; ou era capturado e julgado; ou, finalmente, era morto em combate.

Prevaleceu o último cenário. Mas até lá, de acordo com a descrição de Adalberto Júnior, o processo com vista às tréguas ainda chegou a ser retomado assim que as comunicações do líder da UNITA foram recuperadas em Janeiro, nessa altura envolvendo já activamente as Nações Unidas e o seu representante em Angola. “O último encontro (ocorreu na Europa) e foi realizado exactamente uma semana antes da morte do Dr. Savimbi, tendo como agenda a declaração de tréguas e o fim da guerra”, revelara Adalberto Júnior.

Por conseguinte, aquele que é actualmente o presidente da UNITA estava plenamente convencido que a paz não fora essencialmente consequência da morte de Jonas Savimbi. Ela, a paz, viria de qualquer maneira “porque as dinâmicas que conduziram a UNITA ao cessar-fogo e à paz resultaram de decisões do próprio Dr. Savimbi, muito tempo antes da sua morte e estavam muito avançadas”.

Severino Carlos

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