Fábricas têxteis criaram cartel e quase acabaram com empresas de vestuário

TRANSFORMAÇÃO. Unidades fabris concorreriam com os próprios clientes. E especialistas sugerem a criação de um conselho de gestão, constituído por representantes do sector industrial das confecções para as três unidades.

Fábricas têxteis criaram cartel e quase acabaram com empresas de vestuário
O investimento de 1,2 mil milhões de dólares do Governo nas três fábricas têxteis “revelou-se um fracasso” e criou, no “pouco tempo em que uma delas operou, um grande cartel que quase acabou com as poucas empresas do sector do vestuário que sobreviveram”.

A conclusão é de um ‘Estudo da Cadeia de Valor do Sector Têxtil, Vestuário e Calçado’ desenvolvido no âmbito do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (Prodesi), lançado recentemente em Luanda.

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As três fábricas têxteis foram projectadas como uma das soluções para a falta de matéria-prima para as confecções. O estudo conclui que se transformaram num “grande cartel que ficou inoperante graças à falta de formação dos gestores”.

As fragilidades detectadas pelos especialistas passam por as empresas terem um 'mix' de produtos incompatíveis com as necessidades de mercado e em funcionamento “concorreriam com os seus próprios clientes”. “Pois são verticalizadas, além de formarem um ‘cartel’ que gera mais incertezas do que soluções junto de todos os 'players' (produtores, clientes locais e estrangeiros)”.

O estudo enfatiza que o sector têxtil em Angola “tem todas as condições para diminuir as importações, aumentar a produção nacional e contribuir para o aumento das exportações do país”.

O levantamento visou identificar as principais fragilidades das cadeias de valor que constituem o sector têxtil, vestuário e calçado e propor medidas e recomendações. Nas conclusões, destaca-se que as empresas “não se modernizaram para servir de base para o abastecimento do sector do vestuário e redução das importações, o que seria mais lógico num país com as necessidades de Angola”.

Das três fábricas, uma enveredou para o produto final, linha de cama, mesa e banho. A segunda propôs-se confeccionar na área da malharia, com o fabrico de 't-shirts' e camisas pólo.  A única empresa “assumidamente” fornecedora de tecidos para o mercado funcionava com um único produto, artigos para uniformes, “prejudicando o abastecimento de outros materiais que servem de 'input' para outros produtos, sendo que o mercado de vestuário não se resume única e exclusivamente a uma linha de produtos, neste caso uniformes”. O estudo acrescenta que o sector acabou por se especializar no fornecimento de uniformes para o Governo, estratégia considerada “extremamente frágil face a uma concorrência baseada em preço”. “Esta situação fez com que o sector do vestuário e do calçado perdesse competitividade com empresas internacionais devido ao grande 'gap' de conhecimento técnico existente na área.”

Os especialistas acreditam que, para que os objectivos do Prodesi sejam concretizados, a “situação existente necessita de uma revisão completa para concretizar os objectivos previstos”.

Produção de algodão insignificante e falta de ‘know-how’

A produção de algodão “insignificante” que nem atingiu as mil toneladas nos últimos anos é apontada como uma das fragilidades do sector têxtil. A falta de ‘know-how’ também é outra das debilidades. As outras passam por não existir produção de sementes e fábricas de descaroçamento, entre outras unidades.

Uma das recomendações citadas no estudo é a de que se devem criar pequenas unidades de produção de tecidos especializadas e distribuídas pelas províncias, tanto para vestidos de malha como para tecidos planos.

Propõe ainda a criação de um conselho de gestão constituído por representantes do sector industrial das confecções – Aiteca, representantes do Governo e uma empresa de consultoria especializada para gerir, de maneira compartilhada, as empresas. É ainda proposto analisar a viabilidade de converter as três unidades têxteis em fiações para “satisfazer a procura futura dos mercados, uma vez que os investimentos em novas unidades requerem muitos recursos”.

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