Até há poucos anos, por essa altura estava o país como que engalanado e em frenesin, por culpas do aniversário de um cidadão seu, mortal como todos os outros, mas quase elevado à condição de um ser divino assim de caxexe. A 28 de Agosto fazia anos o camarada José Eduardo dos Santos, o então líder clarividente do MPLA, condição que lhe permitia ser o presidente da república, comandante-em-chefe das forças armadas e titular do poder executivo, a que juntava o título honorífico de patrono duma poderosa fundação por si criada, a FESA. Ele mandava em tudo e em todos, a partir da altura em que conseguiu finalmente eliminar Jonas Savimbi, o seu arquirrival, em Fevereiro de 2002.
Ele adorava ser idolatrado, escolhendo o mês de Agosto para isso. Toda e qualquer porcaria tinha de ser realizada em saudação ao seu aniversário. Havia torneios internacionais de futebol e hóquei, festivais musicais com estrelas mundiais e conferências científicas com académicos estrangeiros. Nada havia de mais prioritário para o Estado. E dinheiro não faltava. Alguns xico-espertos aproveitavam a ocasião para entrarem no festim, bastando que dissessem que até o torneio de buraca lá do bairro era «em saudação ao aniversário do camarada presidente» para que a massa caísse. O festival da bajulação atingia o apogeu no dia «D», 28 de Agosto, num tradicional banquete na Cidade Alta, entre familiares chegados e convidados escolhidos a dedo. Enfim. Nunca houve nenhuma informação oficial sobre o dinheiro que o estado angolano gastava com os eventos que se realizavam em saudação ao aniversário do seu então presidente, mas posso arriscar que, com as sobrefacturações da ordem, podiam ultrapassar os 50 milhões de dólares.
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Parecendo enfeitiçado, como se não bastasse que nunca me tivessem convidado para o boda, cheguei a passar mal no estrangeiro, por causa dum «28 de Agosto», o Dia Nacional da Clarividência. Barcelona, 28 de Agosto de 2015. Estou diante do «caixa» do Instituto Barraquer, uma das maiores autoridades mundiais da oftalmologia, para pagar a cirurgia a que haveria de me submeter três dias depois, sendo que teria de fazer os testes pré-operatórios assim que largasse a massa, quase seis mil euros. Bem achado no meio dos brancos e árabes endinheirados que lá vão aos montes tratar da visão, saco um «cartão visa» do BAI, onde sabia ter três mil euros, contratados dias antes em Luanda. O pula passa o cartão no tpa, nada. Reconfirmo o código, mas nada. Mais uma tentativa e nada. A platéia começa a me olhar com desdém, saia lá da frente, ó negro pobre, devem ter pretendido dizer. A minha banga acabara. Quase morro de vergonha por instantes. Felizmente, tenho em mãos uma reserva estratégica em cash, que me permite completar a quantia exigida.
Enquanto me submetia aos exames pré-cirúrgicos, fui pensando nos embaraços que passaria se não tivesse a tal «reserva estratégica», sendo que corri o risco de ver a missão abortada, com hipotéticas perdas financeiras avultadas pelo meio, além do tempo e das complicações administrativas com a própria clínica. «Porra, os bancos angolanos são de uma irresponsabilidade de primatas», lhes xinguei dentro de mim, mas a raiva não passou.
Fiquei a saber depois que, por causa do «28 de Agosto», o Estado mandara «raspar» tudo o que havia disponível em divisas nos bancos, daí que o BAI acabara por não me carregar o cartão, apesar de todas as garantias dadas nesse sentido, na dependência da cidadela desportiva. Aí a minha raiva aumentou.
Graças a uma cunha muito forte, em meio a ameaças de que faria uma escandaleira daquelas (na altura ainda era o director do «temido» Semanário Angolense), lá consegui que me carregassem metade dos três mil euros que comprara, uma semana depois do sucedido. E como esses fidasputa abusam bué, o resto «desconverteram» outra vez em kwanzas, que ficaram na conta corrente da minha sócia-gerente, até que acabei de lhes dar cabo no «Chez-Tembá». Para mim, por estas e outras, é muito difícil ter saudades das clarividências agostinas. Mas há quem tem, lá isto é verdade.
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