De cordo com Olindo José Augusto, o pai da vítima, o seu filho manteve uma relação de aproximadamente durante três anos com Mavacala Isabel da Silva Tombia, com quem teve uma filha. Os dois partilhavam, em simultâneo, a residência de Nélson, sito no Miramar, e a da então esposa na Urbanização Vila Pacífica, no Zango Zero.
Neste período a vida do casal era um ‘mar de rosas’, uma vez que Nélson de Sousa Augusto, a vítima, era director de Operações Postais e Telegráficas da Empresa Nacional de Correios e Telégrafos de Angola (ENCTA).
Entretanto, segundo Olindo José Augusto, a relação do casal começou a ter problemas no segundo semestre de 2016, quando Mavacala foi empregada como secretária numa das empresas de Silvestre Quissari, com quem passou a realizar viagens nacionais e internacionais, alegadamente por questões de trabalho.
Em tempo recorde, isto é, dois meses depois, relata a fonte, foi-lhe atribuída uma viatura do tipo V8,entretanto, Mavacala Tombia se tornaria esposa do patrão Silvestre Quissari, que a meteu também a viver numa residência completamente mobilada num condomínio localizado em Talatona.
“O malogrado, apercebendo-se que a mulher lhe estava a trair, afastou-se dela e passou a viver exclusivamente no Miramar”, conta o pai.
Embora separados os dois mantinham algumas vezes contacto para tratar de
assuntos relacionados à filha, o que não terá agradado ao sub-comissário Silvestre Quissari.
Adiante, esclarece que era, quase sempre, a antiga nora a ligar para Nélson Augusto,que começou a recebido varias ameaças de morte feitas por aquele oficial da PN. O nosso interlocutor adianta que o também empresário procurava, por via da intimidação, impedir qualquer contacto entre a esposa e Nélson Augusto, apesar de os dois terem uma filha menor.
“Na altura, ele era apenas superintendente da PN, mas já presentava-se como general, tudo para intimidar o meu filho, que apenas abordava com a jovem assuntos sobre a filha”, denuncia Olindo Augusto, pai da vítima.
Fisioterapia ao domicílio com a doctora Odeth Muenho, liga agora e faça o seu agendamento, 923593879 ou 923328762
“Em Novembro de 2016, Mavacala telefonou para o ex-marido para desculpar-se e contar o seu arrependimento pelo que fez. Ela disse que, se o Nélson quisesse ver a filha, podia fazê-lo por intermédio de uma tia sua, identificada por Cristina”, declarou.
As circunstâncias do assassinato
Olindo José Augusto conta que, na madrugada do dia 03 de Dezembro de 2016, sábado, quando a vítima Nélson Augusto dirigia-se a sua residência, no Miramar, rua Ndunduma, acompanhado da namorada e também colega de serviço, Adriana Cristóvão, três indivíduos, a bordo de uma viatura Hyundai Getz, vidros fumados, cuja matrícula não soube precisar, interditaram a passagem do casal e dispararam três vezes contra Nélson Augusto,atingindo-o nas regiões do pescoço, ombro e abdómen.
Tão logo cometeram o homicídio, a viatura seguiu em direcção a zona da 9.a Esquadra do Sambizanga, de onde, pouco tempo depois, saíram agentes do SIC para tomar as diligências necessárias, sem que algum dos presentes denunciasse o facto, o que quase não ocorre, pelo menos naquele distrito.
Alguns vizinhos terão se apercebendo do ocorrido por causa dos gritos de socorro de Adriana Cristóvão. Colocaram a vítima na sua viatura e levaram-no para receber os primeiros socorros na Clínica Meditex, sito na rua da Missão, no município da Imgobota, onde, onde apesar de todos esforço,acabou por sucumbir em função dos graves ferimentos.
De acordo com a explicação da fonte, aqueles agentes dirigiram-se directamente para a Clínica Meditex, apuraram os factos e de lá saíram com alguma garantia de que fariam o seu trabalho.
Naquele mesmo dia, cita Olindo Augusto o que lhe confidenciou um dos funcionários daquela unidade sanitária.
Outros três agentes do SIC foram até a clínica certificar se Nélson Augusto estava mesmo morto, mas saíram de lá tão logo que se aperceberam da existência de câmaras de vigilância, sem que obtivessem a resposta anteriormente solicitada».
O pai da vítima, sustentando a informação com o que conseguiu colher das suas fontes, refere que se trata dos mesmos efectivos que praticaram o homicídio do filho, todos efectivos do SIC, tendo usado bala incendiária para o efeito.
Transferência de um milhão e 500 mil kwanzas para conta do suposto
O malogrado, apercebendo-se que a mulher lhe estava a trair, afastou-se dela e passou a viver exclusivamente no Miramar”, conta o pai.
Embora separados os dois mantinham algumas vezes contacto para tratar de assuntos relacionados à filha, o que não terá agradado ao sub-comissário Silvestre Quissari, homicida.
Este jornal conseguiu obter parte do extracto da conta bancária do cidadão Manuel João Correia, domiciliada no Banco Sol, com a ilustração dos movimentos do dia 21 de Dezembro de 2016, até o dia 23 do mesmo mês. O documento mostra que o proprietário da conta recebeu, dezoito dias depois
do assassinato de Nélson Augusto, a 21 de Dezembro de 2016, um montante de um milhão e 500 mil kwanzas, transferidos da conta da empresa Crisgunza, de Silvestre Quissari.
Manuel João Correia, efectivo do SIC , é acusado, junto dos colegas Domingos Pascoal António e Nazaré Pascoal, de ser o autor material do crime que culminou com a morte de Nélson Augusto, supostamente a mando do empresário e sub-comissário Silvestre Quissari.
Ainda de acordo com aquele comprovativo bancário, Manuel Correia levantou, no dia 22 daquele mês, a quantia de 900 mil kwanzas. No mesmo dia, num ATM, procedeu ao levantamento, em dois movimentos com igual quantia, de 50 mil kwanzas.
No dia 23 de Dezembro, Manuel Correia realizou exactamente os mesmos procedimentos para levantar outros 950 mil kwanzas, totalizando um milhão e 900 mil kwanzas debitados até o dia 23 de Dezembro de 2016.
Confrontada com o Extracto Bancário, a família de Nélson Augusto acredita que o montante de um milhão e 500 mil kwanzas, transferidos da conta da empresa Crisgunza para o efectivo do SIC Manuel Correia, apontado como um dos autores materiais do crime, seja o valor pago pelo empresário e sub-comissário Silvestre Quissari para o homicídio de Nélson Augusto.
Indícios de manipulação do processo no SIC-Sambizanga
Quando os efectivos do SIC-Sambizanga, destacados na 9.a Esquadra, deslocaram-se até a Clínica Meditex, levaram consigo o telemóvel de Nélson Augusto para, alegadamente, possibilitar o curso das investigações que levariam a cabo.
Porém, a desconfiança de uma possível simulação de investigação por parte dos efectivos do SIC-Sambizanga, surge desde o dia do homicídio, pela forma surpreendente como apareceram na Clínica Meditex, sem que fosse feita alguma denúncia. Os familiares estranham a rapidez dos investigadores, algo não habitual naquele distrito.
Amaral Neto, chefe do SIC na circunscrição, era o responsável pela condução das investigações do processo 10483/16-DH. A família da vítima conta que este efectivo garantiu que o órgão afecto ao Ministério do Interior estava a realizar o seu trabalho, visando o esclarecimento dos factos e responsabilização dos infractores.
“O estranho é que o investigador Amaral Neto levou 45 dias para nos entregar o telemóvel e, quando recebemos, ele já tinha apagado todas as mensagens, chamadas e contactos que estavam registados no aparelho”, refere.
Olindo Augusto enquadra a actuação do SIC, tanto pela forma como apareceram na clínica no dia do homicídio, quanto durante as alegadas investigações, como indicadora de um ambiente de impunidade para o sub-comissário Silvestre Quissari.
Acrescenta a fonte que oficialmente tem relações de amizade com alguns colegas destacados na 9.a Esquadra.
Adianta referir que o investigador Amaral Neto e o grupo de efectivos que dirige são bastante conotados com o suborno e corrupção, pelo facto de
devolverem à liberdade vários traficantes no Sambizanga, a troco de dinheiro.
O pai da vítima acredita que estes efectivos beneficiaram de valores monetários para conduzirem o processo a favor do acusado.
Deficiências na investigação realizadas pela DINIAP
A família de Nélson Augusto conta que o ambiente de corrupção e impunidade em que foi envolvido o processo de homicídio em que é apontado Silvestre Quissari como autor moral do crime, tem causado vários impasses para a realização normal da justiça.
O SIC no Sambizanga transferiu o processo10483/16-DH para direção rovincial do órgão em Luanda. De acordo com esclarecimentos prestados por Olindo Augusto, o processo foi arquivado porque, “após serem realizadas, supostamente, as devidas investigações, chegaram a conclusão que não havia provas que sustentassem as acusações feitas contra o sub-comissário da Polícia Nacional”.
Por este motivo, no dia 17 de Fevereiro de 2017, Olindo Augusto escreveu para o procurador- geral da República, João Maria de Sousa, terminando a sua solicitação nos seguintes termos: “Rogo ao Digníssimo Procurador-Geral a avocação do processo para a Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DINIAP),
pelos motivos acima supracitados, pois evidências existem sobre a autoria do homicídio, sendo o principal suspeito o suposto general Silvestre João Quissari e sua esposa Mavacala”.
Para a sua infelicidade, explica, o órgão a quem confiou a resolução justa do caso em que foi vítima o seu segundo filho, deixou-se corromper pelas influências do sub-comissário e dirigiu deficientemente a sua investigação.
Olindo Augusto avança que os familiares só foram chamados a prestar declarações naquele órgão após a solicitação do advogado Cândido de Brito. O instrutor do processo, apenas identificado por Africano, terá enviado uma cópia das declarações prestadas pela família do malogrado para Silvestre Quissari,suspeitando haver amizade e favorecimento entre os dois.
A nossa fonte lamenta o facto de os investigadores da DINIAP não terem dado importância às gravações das câmaras de vigilância da Clínica Meditex, das residências ao redor do local do homicídio e a filmagem, por telefone, feita por um vizinho da vítima que conseguiu captar o carro usado para facilitar o crime.
“O magistrado José Panguila ter-se-á mostrado, no início do processo, bastante entusiasmado com o caso, mas depois despertou o seu pouco interesse em dar continuidade, interrogando-nos, muitas vezes, sobre os meios usados para encontrarmos as provas que apresentávamos, com ameaças de que estaríamos a cometer outro crime. Depois de recuperarmos os dados do WhatsApp do telefone do malogrado, ele não aceitava receber e dizia que só podia fazer com a autorização da sua chefe, a senhora Júlia”, rematou.
Ex-esposa nega conhecer mandante do crime
Contactada pelo `O Crime ́, Mavacala da Silva, na altura do homicídio esposa de Silvestre Quissari, nega qualquer envolvimento entre as causas que motivaram o assassinato de Nélson Augusto, e afirma total desconhecimento sobre o mandante do crime.
Conta que soube da morte de Nélson por intermédio da sua irmã, residente na mesma rua que a vítima.
Confrontada com as declarações prestadas pela família do padecente, sobre as constantes brigas com Quissari, por causa dos alegados contactos que mantinha com Nélson para tratar de assuntos relacionados à filha, disse não passar de uma falsa afirmação, porque desde a sua separação nunca mais mantiveram contacto.
“Para ele ver a filha, a minha irmã pegava-a e levava-a a casa da minha mãe, vizinha do Nélson. Tanto é que o Quissari tinha proposto que, para evitar todo este trabalho, ele podia pegar a menina na portaria do sítio em que vivíamos, mas o Nélson discordou”.
Mavacala explica que, enquanto esteve com Quissari, nunca notou comportamentos que um dia resultariam na morte de Nélson. “E não é verdade que, certo dia, o Nélson ligou-me e o Quissari recebeu o meu telefomóvel e fez-lhe ameaças de morte”.
“As pessoas acreditam que eu saiba alguma coisa e não queira dizer. Se soubesse, diria, mas não posso especular. A mim, o Nélson interessava mais vivo do que morto, nós temos uma filha, e estou a criá-la sem apoio de ninguém. Mas não vejo uma pessoa que está comigo avisar-me que vai matar o pai da minha filha. E me pergunto por que motivo ele faria isso. Talvez se eu voltasse a encontrar-me com o senhor Nélson, o que não aconteceu”, adverte. Enquanto estiveram juntos, conta,
Nélson era uma pessoas de paz, tranquila e nunca se envolveu em problemas que resultariam em consequências drásticas.
Ademais, deseja que seja encontrado e responsabilizado o autor do crime, pois o não esclarecimento do caso também retira a sua paz de espírito. “Se eu estou assim, imagine a família dele. Desejo muito que isto seja resolvido”, disse.
Sentimento de insegurança
A este jornal, Mavacala explicou que já recebeu vários telefonemas ameaçadores
da família de Nélson, sendo os primeiros da sua irmã mais nova. Nos outros, que podiam ser dez em um só dia, o protagonista não se identificava, mas a interlocutora reconhecia a voz.
“Usei um outro número para retomar a ligação e descobri que era o contacto da mãe dele (Nélson Augusto). Não posso afirmar que era ela a fazer as ligações, mas o número é dela. Andei a bloquear todos os terminais que eles usam para intimidar-me”, disse, acrescentando que informou ao procurador da DINIAP, tendo este prometido resolver o caso.
Quissari ‘finta’ contraditório
Em Março deste ano, antes de serem temporariamente interrompidas as nossas publicações, este jornal esgotou todos os meios possíveis para contactar Silvestre Quissari, o suposto mandante do homicídio de Nélson Augusto.
Dos contactos possíveis, abordámos o assunto com dois representantes indicados pelo visado, um deles Letício da Silva, seu advogado. Ambos prometeram informar ao acusado a intenção deste Jornal em obter o contraditório, mas que levaria algum tempo, uma vez que estava retido na África do Sul, por conta da pandemia da Covid-19 que assola aquele território.
No dia 26 de Março deste ano, o empresário e também sub-comissário da PN delegou um dos seus representantes para contactar `O Crime ́. Este, presencialmente, recebeu esclarecimentos sobre o caso e, no mesmo instante, informou a Silvestre Quissari, que solicitou mais um tempo para a sua chegada a Angola, a fim de exercer o contraditório, apesar de lhe ser sugerida uma videochamada.
Passados mais de três meses, e porque continua em dúvidas a previsão para o seu regresso ao país, voltamos a contactar o seu advogado. Este, no dia primeiro de Julho, adiantou que o seu constituinte não aceitaria a videochamada, mas que, no dia seguinte, daria uma resposta exacta sobre o pronunciamento do acusado. O que, infelizmente, não aconteceu.
Passados dois dias, contactado pelo jornal, Letício da Silva desculpou-se do ocorrido e justificou com a ausência de Silvestre Quissari das redes sociais, “o único meio que usamos para manter contacto”.
Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link
https://youtu.be/XNkbPzhuz88
0 Comentários